Escolas da rede pública participam do Ciclo de Debates Consciência Negra do Sinpro

Professor Andrei Lemos (em pé) é o palestrante da oficina “Negras e negros: história, cultura e identidade”, idealizada pelo professor de física Cleber Tavares (sentado em primeiro plano), do CED Myriam Ervilha

 

Nesta sexta-feira (18), a dois dias da celebração do 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, muitas escolas da rede pública do Distrito Federal finalizam Projetos Político-Pedagógicos (PPPs) sobre o tema. Várias unidades escolares aderiram ao Ciclo de Debates Consciência Negra, um projeto da Secretaria de Raça e Sexualidade do Sinpro-DF, para promoverem suas oficinas, debates e, sobretudo, a culminância dos seus PPPs com um debate sobre educação antirracista.

O ciclo de palestras do Sinpro ocorre durante todo o ano letivo e, em novembro, é intensificado por causa da sua participação nas finalizações dos PPPs. Este ano, várias escolas recorreram à parceria no mês da consciência negra. Dentre as escolas que solicitaram o projeto, destacam-se o CEM 10 e o CED 7 de Ceilândia; o CED Myriam Ervilha; Centro de Ensino Setor Oeste de Brasília; CED 04 de Brazlândia.

Estudantes do Ensino Médio do CED Myriam Leitão durante oficina realizada na Semana da Consciência Negra

 

O CED Myriam Ervilha foi uma das escolas que fizeram a parceria com o Sinpro e levou o Ciclo de Debates para a sua tradicional Semana da Consciência Negra, realizada entre os dias 16 e 18/11. O professor regente de física, Cleber Tavares Machado, pediu e o sindicato indicou o palestrante Andrei Lemos, historiador de formação, com especialização em ensino de história, mestrado em políticas públicas e doutorado em saúde coletiva. Pesquisador da saúde da população negra e LGBTQIA+, bem como de história e cultura afro-brasileira, Lemos é colaborador do projeto Abraço, que o Sinpro-DF desenvolve há alguns anos.

“Fico muito feliz de vir participar, embora eu tenha a convicção de que falar sobre a história e cultura afro-brasileira, sobre a identidade negra, pertencimento a essa memória, é um conteúdo para todo o ano letivo. Trata-se de um conteúdo transversal que precisa dialogar com os diferentes conhecimentos e com as diferentes disciplinas. Mas acho muito importante que no mês de novembro as escolas realizem algumas atividades para trazer esse debate porque, nesses últimos anos, vimos um desnudamento do racismo, do fascismo, da misoginia na sociedade brasileira”, declara Andrei Lemos.

Todas as escolas podem solicitar o Ciclo de Debates Consciência Negra do Sinpro no início do ano ou a qualquer tempo durante o ano letivo. Para isso, basta entrar em contato com as diretoras da Secretaria de Raça e Sexualidade ou pelo telefone geral do sindicato, pedindo para falar com a Secretaria de Raça e Sexualidade. Acesse os contatos pelo link a seguir: https://www.sinprodf.org.br/fale-conosco/ ou pelos contatos da secretaria, confira: https://www.sinprodf.org.br/diretoria/

 

Ciclo de Debates sobre consciência negra

No CED Myriam Ervilha, estudantes participam da oficina “Encrespei: meu cabelo, minhas origens e os traços negroides!” sobre empoderamento. Flávia Rodrigues de Souza, professora de língua portuguesa, usou a beleza dos cabelos encaracolados para falar da educação antirracista

 

 

Com o Ciclo de Debates, o sindicato oferece materiais e palestrantes altamente capacitados(as) para participarem das atividades pedagógicas relacionadas ao tema racial. Os(as) palestrantes oferecidos pelo projeto do Sinpro levam às escolas o debate sobre uma educação antirracista e diversos temas da pauta racial. A ideia é ajudar a escola a construir uma sociedade com novos marcadores sociais e mais equidade. Na avaliação da diretoria colegiada do sindicato, a educação é um dos principais instrumentos de transformação da sociedade.

“A gente atua também com essa perspectiva. Durante o ano, várias escolas utilizaram o Ciclo de Debates da Secretaria de Raça e Sexualidade e, agora, em novembro, algumas estão nos convidando para participar também deste momento de culminância da proposta de educação antirracista nas escolas e tem sido muito bom”, afirma Márcia Gilda Moreira, coordenadora da Secretaria de Raça e Sexualidade do Sinpro.

Ela informa que o sindicato tem tido muitas devolutivas positivas e superinteressantes da comunidade escolar sobre o modo como a entidade desenvolve o pertencimento racial quando entra nas escolas e conta a história do povo negro sob uma ótica diferente. “Uma ótica contada pelo povo negro. É essa a nossa proposta: recontar a nossa história sob uma nova perspectiva e, assim, construir uma nova sociedade”, explica Márcia Gilda.

 

Sinpro na vanguarda e a educação antirracista

 

Ana Cristina Machado, diretora do Sinpro-DF, participa do Ciclo de Debates no CED Myriam Ervilha

 

A diretoria colegiada tem o entendimento de que, para consolidar a democracia é necessário superar as ideologias hierarquizadoras e reducionistas que estão enraizadas nas sociedades. É preciso superar não só as ideologias racistas, mas também outras igualmente desumanizadoras.  “O Sinpro é vanguarda em vários temas. Um deles é a implantação de uma Secretaria de Raça e Sexualidade, que está perto de completar 20 anos de existência e isso vem ao encontro do anseio do movimento negro, da luta do povo negro que teve muitos avanços nos governos democrático e popular (Lula e Dilma Rousseff). O Sinpro também vem nessa linha de fazer esse debate”, lembra a diretora.

Segundo ela, a Secretaria de Estado da Educação (SEE-DF) tem em seu quadro de funcionários muitos(as) servidores(as) negros e negras nas escolas e é a rede de educação que abarca o maior número de estudantes negros e negras. “O Sinpro tem de participar da luta pela construção dessa sociedade livre de racismo. Nesse sentido, a gente vem, a cada ano, reformulando estratégias, atualizando reflexões para que a gente alcance o maior número de escolas e não só quantidade, mas também em termos de qualidade. Que seja uma política pública que faça o debate qualitativo, reflexivo e propositivo”.

A Secretaria de Raça e Sexualidade atua com essa proposta nas escolas por meio do Ciclo de Debates, mas também por meio dos seminários, bem como mediante todos os demais projetos, como o Vozes da Democracia, entre outros que a tente sempre está implementando e debates que fazemos nas escolas. É um trabalho árduo e lento, mas a gente percebe que a cada ano, mais escolas e mais profissionais da educação se propõem a pensar esse projeto conosco. Essa é uma pauta muito cara para nós e a gente quer que ela seja cara para a nossa sociedade também”, afirma Márcia Gilda.

Para o próximo ano, a Secretaria de Raça e Sexualidade pretende executar esse projeto nas escolas de forma muito mais intensa. “Queremos que as escolas nos procurem e façam de fato essa parceria com a gente desde o início do ano porque a gente quer sair da pedagogia de projetos e do calendário festivo e a gente quer ingressar de uma vez por todas na proposta de uma educação antirracista, multidisplinar e que perpasse todas as áreas do nosso currículo”.

Ana Cristina Machado, diretor do Sinpro, participou da palestra do professor Andrei no CED Myriam Ervilha e, na avaliação dela, esse tipo de atividade é fundamental para a construção de uma educação antirracista. “Quero reafirmar a necessidade de realizar o enfrentamento do racismo na escola. Ninguém nasce racista. Como dizia Nelson Mandela, ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem, por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender e se elas aprenderam a odiar, podem aprender a amar”.

Ela também destaca que o Ciclo de Debates promove o enfrentamento e o combate do racismo na escola, com discussões sobre a Lei 10639/03, que, em 9 de janeiro de 2023, completa 20 anos. Essa lei versa sobre o ensino e a cultura brasileira e africana, como também para discutir assuntos, como políticas públicas, problemas sociais, fazer com que os estudantes conheçam e reflitam sobre a cultura deles, a religião, história da população negra no Brasil e na África.

“É importante reafirmar que as desigualdades continuam, que as cotas raciais são necessárias e que o Distrito Federal hoje é a unidade da Federação considerada a capital da desigualdade e que os trabalhadores negros ganham 40% a menos do que os brancos por hora trabalhada. A diferença salarial é gritante. A diversidade e os desafios são imensos em todos os setores. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, a PNAD, mostram que a maiorida dos servidores públicos são brancos: 48,5%, são brancos; 4,2% são negros; 24%, são pardos; e o restante são amarelos”, finaliza.

 

Fotos: Deva Garcia

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