Entidades exigem cancelamento do contrato com ISDS israelense

Centrais sindicais e movimentos sociais brasileiros lançaram um manifesto condenando a entrega da “segurança” da Rio 2016 à empresa militar israelense ISDS e exigindo o imediato cancelamento do contrato. Conforme as entidades, a ISDS não só está ligada ao “terrorismo seletivo” na Palestina, onde “os crimes sionistas da ocupação, limpeza étnica e apartheid continuam”, como às mais sanguinárias ditaduras da história da América Latina, onde especializou-se em “interrogatórios e supervisão de prisioneiros”.
“Vimos a público denunciar a decisão do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos Rio 2016 de contratar a ISDS como empresa ‘integradora’ responsável pela coordenação de toda a segurança (com um gasto total de 2,2 bilhões de dólares), pelo treinamento de policiais brasileiros e pelo fornecimento de equipamentos”, afirma o documento, sublinhando que, além disso, ela ocupará um espaço publicitário de R$ 20 milhões de reais.
As entidades alertam para a gravidade da situação, uma vez que “a ISDS nasce das experiências desenvolvidas por Israel na repressão e no massacre do povo palestino, exportando essas técnicas, metodologias e tecnologias em particular para a América Latina”. Apontando para a farta documentação existente, assinalam que “a empresa esteve envolvida com as ditaduras e golpes em Honduras, Guatemala, El Salvador e com o treinamento dos ‘contras’ na Nicarágua”. “Na Guatemala, ofereceu abertamente aulas de ‘terror seletivo’ na época do genocídio. Em Honduras, treinou os quadros da ditadura nos anos 80 e forneceu as armas que foram usadas no ataque à embaixada brasileira onde o presidente Manuel Zelaya estava refugiado”.
O vice-presidente da ISDS, Ron Shafran, disse que a ISDS vai oferecer soluções a problemas de “inteligência”, “controle de multidão” e segurança de grandes espaços. “Já contamos com equipes que atuam no Brasil, e que atuaram extraoficialmente aí durante a Copa do Mundo no verão passado”, informou Shafran, relatando que a empresa militar também está fornecendo serviços de “segurança” à Petrobrás e à Itaipu.
De acordo com Maren Mantovani, coordenadora internacional da campanha contra o Muro do Apartheid, a manutenção deste contrato seria uma agressão ao movimento global de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) contra Israel, que tem no embargo militar uma forma eficaz e concreta de apoio à causa Palestina e dos direitos humanos. “Fundada no 1982, a ISDS se orgulha do fato de ter sido fundada por ex-agentes do Mossad. O fundador e diretor até hoje é Leo Gleser, um ex-coronel das forças armadas israelenses”, acrescentou Mantovani.
Secretário de Relações Internacionais da CUT, Antonio Lisboa lembrou que “a vitória contra o odioso regime de apartheid imposto pelos israelenses passa necessariamente pelo fortalecimento do BDS”. Recentemente, no Brasil, a mobilização das entidades populares conseguiu que o governo do Rio Grande do Sul não levasse à frente o contrato com a Elbit Systems, com tecnologia militar israelense.
“Conseguimos acabar com o regime de segregação racial na África do Sul a partir de um amplo e massivo movimento de solidariedade internacional, que se somou à heroica luta de Nelson Mandela e do Congresso Nacional Africano. Este é o momento de ampliar a pressão”, acrescentou Rosane Bertotti, da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS).
Para o presidente da Confederação Sindical Internacional (CSI), João Antonio Felicio, “é inconcebível que confraternizações como os jogos olímpicos e paraolímpicos, que estão entre as mais belas expressões de congraçamento da Humanidade, sejam palco para uma empresa militar sionista, plenamente identificada com a política segregacionista do Estado de Israel”. “Em defesa da paz e da justiça, integramos esta campanha pelo imediato cancelamento do contrato com a ISDS”, enfatizou.
Empresa líder de crimes contra a Humanidade
A empresa está vinculada ao Estado de Israel e faz parte do sistema de intervenção militar israelense, como descreveu Yossi Melman em artigo escrito para o jornal israelense Haaretz. “O Ministério da Defesa, o Ministério das Relações Exteriores ou o Mossad recebem um pedido para fornecer consultoria de segurança ou para treinar as forças militares e de segurança para o governante de um país, geralmente um tirano. Como as autoridades não podem ou não vão ajudar o presidente diretamente, veem o seu pedido tão importante para promover a segurança e os interesses políticos, pedem a uma empresa privada prestar os serviços solicitados”, sublinhou.
Conforme Carl Fehlandt, ex-vendedor de armas da ISDS para o governo da Guatemala entre 1982 e 1986, auge da política de genocídio que ceifou mais de 250 mil vidas de oposicionistas, “o governo israelense controla a ISDS e quem dá as cartas é o Ministro da Defesa”.