“Ela é marrom igual a mim!”

Representatividade. Oito sílabas. Dezoito letras.

Segundo o dicionário, significa “qualidade de uma amostra constituída de modo a corresponder à população no seio da qual ela é escolhida.”

É muita palavra fria e distante. O mundo entendeu melhor o que significa “representatividade” com este vídeo aqui:

O vídeo mostra crianças assistindo a um filme infantil, como qualquer criança. Um pouco mais de atenção e percebemos que todas as crianças no vídeo são negras. E, no filme infantil a que elas assistem, a personagem principal, a sereia Ariel (que é linda e canta maravilhosamente bem), também é negra. Interpretada pela cantora e atriz Halle Bailey.

Em pouco mais de um minuto, vemos meninas negras e inocentes se reconhecendo na personagem. Se percebendo na Sereia de Halle Bailey. Seus olhinhos passam a brilhar, o sorriso nos lábios torna-se indisfarçável. Elas estão felizes. Elas se reconheceram na personagem do filme. Uma delas explode em alegria, e diz sorrindo: “Mamãe, ela é marrom igual a mim!”

Essas menininhas ficaram felizes da vida ao verem o trailer do filme “A Pequena Sereia”, live action produzido com todo o esmero e a magia dos estúdios Disney. O trailer está disponível no Youtube desde 9 de setembro. A versão original, em inglês, conta com 18 milhões de visualizações – a versão dublada em português já bateu a marca do milhão.  

Críticas negativas à atriz negra

Se você chorou ao ver o vídeo das menininhas, não está sozinho(a). A própria Halle Bailey se emocionou com ele. No dia 12 de setembro, ela compartilhou o vídeo em sua conta no Twitter e disse “Muita gente me enviou esse vídeo o fim de semana inteiro. Estou realmente maravilhada, isso significa o mundo para mim”.

Mas teve quem chorasse com o trailer da Disney. A versão em inglês foi inundada com comentários racistas, que questionavam a escalação de uma jovem negra para viver uma sereia: “Não existem sereias negras, isso é um absurdo!” – argumentavam os comentários (como se sereias existissem de verdade).

Bailey não se abala com esses comentários. Já declarou à revista Variety estar muito empolgada com o papel de Ariel: “Sinto que estou sonhando e sou apenas grata, não presto atenção à negatividade. Vai ser lindo e estou muito animada por fazer parte disso.”

A diretora do Sinpro Márcia Gilda comemora essa mudança no comportamento da indústria do entretenimento: “Nos filmes, os heróis tinham o padrão europeu: olhos azuis, cabelos loiros, pele branca. As crianças não se viam naqueles heróis, e muitas vezes queriam se transformar para se parecerem com eles. Então, por muito tempo tivemos crianças desejando alisar ou tingir o cabelo, mudar o seu estilo pra tentar parecer com um personagem que não refletia suas características. Hoje, com o filme que traz uma heroína negra, a criança se vê. Isso se chama representatividade. E me lembrou o vídeo da menininha que via a [apresentadora do Jornal Hoje da rede Globo] Maju Coutinho e se reconhecia nela, pois quase não havia apresentadoras negras. Essa felicidade dessas crianças significa que elas entendem “eu também posso ser rainha, eu também posso ser princesa, eu posso ser o que eu quiser”, relata Gilda, que é coordenadora de secretaria para assuntos de raça e sexualidade do Sinpro.

Arte é isso. É fazer você se sentir bem (ou mal). É fazer você pensar. É fazer você refletir sobre a sociedade em que você vive, e as mudanças pelas quais ela passa. Que venha Halle Bailey no papel de Ariel!

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