Dia Letivo Temático discute reforma do ensino médio, gestão democrática e Lei da Mordaça

Esta sexta-feira (7/10) está sendo especial nas escolas da rede pública do Distrito Federal. Hoje é Dia Letivo Temático para discutir, com a comunidade escolar, o tema das eleições para direção das escolas – por sugestão da Secretaria de Estado da Educação (SEEDF).
Como o assunto perpassa por outros que atingem em cheio a atividade pedagógica, a vida trabalhista dos(as) profissionais do magistério público, o direito do(a) estudante ao acesso ao conhecimento e o direito social à educação pública, a diretoria colegiada do Sinpro-DF sugeriu a discussão de três grandes temas que estão na pauta nacional e distrital da Educação: a reforma do ensino médio, a gestão democrática e a Lei da Mordaça.
Em algumas escolas, o Sinpro-DF foi chamado para conversar com a comunidade sobre esses temas.
No Centro Educacional (CED) 1 do Cruzeiro Velho, o diretor de finanças do Sindicato, Polyelton de Oliveira Lima, falou para cerca de 300 estudantes dos três anos do Ensino Médio. A ideia foi mostrar e discutir como essas iniciativas vão impactar não apenas a escola, mas a sociedade como um todo.
De acordo com o dirigente, os três temas estão relacionados, um complementa o outro, pois são frutos de um mesmo pensamento conservador e de adeptos do neoliberalismo.
“Com a reforma do ensino médio haverá uma forte segmentação entre a escola de pobres e a dos ricos. Todo aquele trabalho com vistas à preparação básica para o mundo do trabalho e à cidadania, que hoje é realizado, será perdido com o ensino propedêutico versus o ensino profissionalizante, que prepara o cidadão apenas para o mercado de trabalho – um ensino acrítico e formador apenas de mão de obra. Isso sem falar na retirada de disciplinas obrigatórias, como educação física, educação artística, sociologia e filosofia”, disse.
Em um país que recém promoveu uma Olimpíada e uma Paralimpíada, retirar a educação física como componente obrigatório é, no mínimo, contraditório. “A sociologia tem a função de interpretar a sociedade, identifica o estudante no mundo para que ele possa também se identificar; e a filosofia estabelece o pensamento crítico, reconstrói valores. A educação artística diz respeito à sensibilidade e a uma maneira de também interpretar o mundo. Se o foi proposto pelo governo Temer se efetivar o prejuízo será muito grande”, analisou o diretor.
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Polyelton abordou também o corte de gastos para a educação (Prouni, FIES, Ciência sem fronteiras, Brasil Alfabetizado); fim do ENEM e do ingresso nas Universidades Públicas.
Lei da Mordaça – O dirigente destacou que, como parte deste pacote de medidas conservadoras, um dos objetivos é atingir setores organizados da sociedade, tendo a educação como primeiro alvo. “O projeto Escola sem Partido, a conhecida Lei da Mordaça, estabelece uma série de critérios e abre uma ofensiva contra o professor. Imagine um professor não poder tratar de diversidade dentro de sala de aula ou ter que excluir determinados conteúdos?”, indagou Polyelton.
O bate-papo se encerrou com um debate sobre a gestão democrática, que amplia a participação da comunidade escolar e dá autonomia para as escolas – uma gestão onde todos os segmentos têm participação (pais, estudantes, professores e servidores).
O diretor do Sinpro-DF destacou que com essas interferências na educação vindas de cima para baixo, sem nenhuma discussão – como a mudança do ensino médio – a possibilidade de se mexer em outros pontos, como a gestão democrática, é muito grande.E se mexerem no ensino médio hoje, amanhã poderá ser a vez de outras modalidades do ensino”.
Os professores do CED 01 Marco Antônio Domingos de Oliveira e Cilene Pereira falaram sobre a palestra. “A vinda do sindicato para falar sobre esses pontos dá outro tom. Um tom mais vivo e mais incidente. Quando o aluno da escola pública se vê representado pelo seu professor e ele vê que esse professor tem uma organização por trás, a credibilidade é muito maior. São fóruns assim, de baixo para cima, que transformam e aprofundam”, avaliaram.
Laura Maciel Moura e Camila Gomes, alunas do terceiro ano do CED 01, também deram o seu recado. Segundo elas, a conversa foi bem proveitosa, pois “ficamos sabendo o que está acontecendo ao nosso redor sem a interferência da mídia e vemos que nem tudo que ela nos passa é verdade. Isso além de podermos aprofundar o debate e saber o que essas medidas representarão em nossas vidas”. As estudantes ressaltaram a propaganda constante e negativa sobre a escola pública. “Nos é informado, todos os dias, que temos uma educação muito ruim. Mas o que é ruim mesmo é o investimento feito nela; as escolhas erradas do governo. A mídia tenta passar que essas mudanças serão boas, mas sabemos que perder conteúdos não tem nada de bom. Seremos uma sociedade não-pensante, que vive apenas para trabalhar”, finalizaram as jovens.
Os diretores do Sinpro-DF Cléber Soares, Hamilton Caiana, Júlio Barros, Letícia Vieira e Jairo Mendonça também estão percorrendo outras unidades de ensino, em diversas regionais, fazendo o mesmo tipo de abordagem junto à comunidade escolar.