Desigualdade e corte de verbas impedem qualidade da educação pública brasileira
Foto: Chico Bezerra/Prefeitura Municipal do Jaboatão dos Guararapes
O Brasil registra avanços na alfabetização, na escolarização das crianças e jovens e no nível de instrução das pessoas de 25 anos ou mais, entre 2016 e 2018. No entanto, as desigualdades persistem – é o que aponta a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua de 2018 (PNAD).
A falta de investimento é um dos fatores que impede que a educação avance com qualidade para todos. Em 2022, o orçamento da Educação teve corte de R$ 802,6 milhões. Só o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) ficou sem R$ 499 milhões.
“A educação pública não é prioridade e vem ao longo desse governo federal sendo abandonada. Os cortes sucessivos de recursos no momento pós pandemia – em que deveria duplicar, triplicar investimentos – demonstra a intenção de destruir a escola pública e privatizar o ensino”, afirma a professora Ana Cristina Guilherme, secretária executiva da CNTE e presidenta do Sindiute de Fortaleza/CE.
Segundo a professora, as escolas públicas brasileiras padecem de falta de infraestrutura, de recursos didático pedagógicos, de valorização aos trabalhadores e de falta de acesso à internet. “Nós sabemos que é a falta de educação de qualidade que permite o mundo desigual, que mantém as injustiças. A educação pública precisa de ser universalizada, de investimentos para construí-las, precisa manter as existentes, equipá-las, valorizar os/as professores/as com uma carreira atrativa, com formação continuada. Sem investimentos é a falência”, sintetiza.
Desigualdade
O Brasil é um dos países com maior desigualdade de aprendizagem entre os estudantes considerados ricos e pobres, segundo os critérios da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Em leitura, o Brasil ficou em terceiro lugar na lista de países mais desiguais entre alunos de família de alta e baixa renda, abaixo apenas de Israel e Filipinas. É o que aponta o levantamento de dados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês).
“Hoje, a cada 100 alunos que ingressa ao ensino fundamental, 70 chega ao final ensino médio. Eles chegam com um resultado satisfatório? Não. Mas é incomparável com o que já tivemos.”, disse, durante entrevista à CBN, o jornalista Antônio Gois, autor livro ‘O ponto a que chegamos: duzentos anos de atraso educacional e seu impacto nas políticas do presente’. Na avaliação dele, o país perdeu sucessivas oportunidades, em tempos ditatoriais e democráticos, de ampliar o financiamento em momentos mais favoráveis.
“Ao contrário do que muitas vezes é dito, também avançamos em qualidade. Mas foi insuficiente para reverter o quadro de atraso frente aos países desenvolvidos. Em resumo, o atual quadro é resultado de um longo histórico de descaso e equívocos, que cobram um preço alto hoje”, explica Antônio Gois. “É possível e urgente termos uma educação pública universal de qualidade”, assegurou o jornalista.
Educação como prioridade
A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) lançou um documento com vários pontos em defesa da educação pública como prioridade para as eleições de 2022. “Inspirados em Paulo Freire, patrono da educação brasileira, façamos das eleições 2022 um espaço de conquistas e de escolhas de representantes comprometidos com a Escola Pública, Gratuita, Democrática, Emancipadora, Popular, Laica, de Qualidade Social e para Todos/as!”, diz trecho da nota.
“Sabemos que temos que ser resistência, temos que exigir melhores condições, fazendo o melhor com o que temos, pois precisamos que o filho da classe trabalhadora tenha o direito e o acesso à leitura do mundo, para transformar esse mundo”, conclui a secretária executiva da CNTE, Ana Cristina Guilherme.
Fonte: CNTE