Derrotar a ditadura da imprensa privada

Durante palestra no 9º Congresso do SIGTUR (Iniciativa do Sul frente à Globalização pelos Direitos dos Trabalhadores – rede de centrais sindicais do Hemisfério Sul), o professor Emir Sader, secretário executivo do Conselho Latinoamericano de Ciências Sociais, defendeu que “para construir uma sociedade justa, de emancipação do trabalho”, será preciso “derrotar a ditadura da imprensa privada”. Segundo o sociólogo, a reunião de mais de cem delegados de 26 países, lideranças da classe trabalhadora, “um setor tão estratégico e transcendental do sul do mundo”, ao mesmo tempo em que potencializa a criação de novos instrumentos de comunicação, aprofunda o questionamento sobre o tipo de dominação e manipulação exercida pelos meios privados em nossos países, “que são hoje um elemento central da reação na disputa pela hegemonia em nossas sociedades”. No caso brasileiro, sublinhou, “a mídia é a direção político-ideológica da direita, um instrumento das oligarquias para a desestabilização do governo e contra os avanços sociais”.
Além de pautar o confronto às medidas que atentam contra os interesses de seus patrocinadores, grandes bancos e multinacionais, alertou Emir, os grandes jornais e emissoras de rádio e televisão se alinham pela “mentira do silêncio, tratando de descaracterizar e negar conquistas”, desgastando lideranças e criminalizando os movimentos sociais. “O fato é que hoje esses jornais não são financiados pelos leitores, mas por agências de publicidade. Na verdade, são vendidos às grandes empresas privadas, que assim amarram a sua linha editorial. Eles confundem liberdade de expressão com liberdade de empresa”, acrescentou.
No sentido gramsciano, esclareceu, o fator mais importante da dominação hegemônica é o ideológico, com a mídia globalizando o estilo de vida neoliberal, egocêntrico, individualista, uma concepção de mundo na qual não cabe a Humanidade, a solidariedade, o coletivismo. “E quando há uma crise da economia capitalista, tentam nos fazer crer que é uma crise da ‘economia’. Isso é hegemonia: fazer passar a sua interpretação do mundo como algo universal”.
No embate com as forças do atraso no Continente, esclareceu o professor, há uma linha demarcatória para nossos países e povos: ou a submissão aos Tratados de Livre Comércio (TLCs) com os Estados Unidos ou a integração regional. Neste sentido, frisou Emir, “o governo brasileiro teve o grande mérito de impedir a concretização da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e abrir o processo de integração”, o que permitiu ao nosso país não ficar preso às amarras da economia e da lógica estadunidense, passando pela crise sem maiores consequëncias. “Muito diferente do México, que após fazer um casamento com os EUA, com quem tem mais de 90% do seu comércio exterior, amargou um retrocesso de 7% no seu PIB em 2009. Diferente disso, nós diversificamos e investimos na multilateralidade, sendo que hoje nosso principal parceiro é a China, que nem entrou em crise”, disse. Assim, o Brasil “não só recuperou o nível de emprego, como avançou e melhorou os salários, enquanto países como o México, Chile e Peru, que assinaram TLCs com os EUA, o epicentro da crise, ficaram mais vulneráveis”.
Conclamando os dirigentes sindicais a aprofundar o combate à financeirização da economia, “hegemonia do capital financeiro conduzida pelo neoliberalismo”, Emir ressaltou que se hoje a América Latina não é mais o quintal do imperialismo, é porque “vários governos da região, como o de Lula, Chávez, Evo, Rafael Correa e Lugo romperam com a lógica neoliberal e acabaram com as privatizações, com a precarização e o endividamento com o FMI”. “Houve uma ruptura com o passado, mas ainda temos elementos herdados. A autonomia, de fato, dos Bancos Centrais, é ainda uma expressão da força do capital financeiro e do seu poder gerador de crise”, alertou o professor, sublinhando a necessidade de haver uma reconversão produtiva, com o fortalecimento da atividade econômica que gera e distribui riqueza, com a ampliação da capacidade dos bancos públicos e a diminuição do poder dos bancos privados.
Representando a CUT Nacional na mesa, Antônio de Lisboa destacou a importante contribuição que Emir Sader tem dado para as formulações do movimento sindical e social, destacando que tanto a Confederação Sindical das Américas quanto a Coordenação das Centrais Sindicais do Cone Sul também tem aproveitado tais contribuições, que agora devem ser irradiadas para o conjunto dos países do Sul.
Com informações do site da CUT