Deputada defende democratização de acesso à Câmara

Há exatamente uma semana, o bancário e sociólogo Nelson Canesin voltava de Brasília com algo mais do que outra página de uma militância sindical que começou a ser escrita no final da década de 1970.

Agredido na manifestação no da 7 de abril em frente ao Congresso Nacional, que pretendia barrar o pedido de urgência para a tramitação do Projeto de Lei 4330, ele foi um dos cinco feridos pela polícia militar do Distrito Federal.
No dia seguinte, o rosto ensanguentado de Canesin estampando os jornais era a face da resposta do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), às manifestações da CUT contra a retirada de direitos trabalhistas.
“Eu enfrentei pela primeira vez a truculência da polícia militar na greve geral dos bancários, em 1979, quando a paralisação foi deflagrada no Colégio São Bento, no centro de São Paulo, e imediatamente a Tropa de Choque ocupou a região. A atuação da polícia do DF (Distrito Federal) na frente da Câmara ficou devendo pouco ao que víamos na ditadura”, recordou.
Portas abertas
Apesar de a violência ter subido muito o tom na atual legislatura, a proibição do acesso à Casa para o movimento sindical não é novidade. A mudança na postura pode vir por meio de ações como a da deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) que propôs a resolução “Câmara Aberta” para alterar o regimento interno do espaço.
O texto estabelece que a presidência da Câmara dos Deputados não poderá impedir o acesso dos cidadãos ao local, inclusive, às galerias.
“A Constituição define que todo ato parlamentar deve ser público e essa ideia de que a luta por direitos impede o nosso trabalho está equivocada. O que impede os trabalhos parlamentares de terem legitimidade é a falta de transparência”, defendeu.
Também para ela, os atos de Cunha ao longo das votações tornaram-se uma espécie de cartilha da truculência. “Ao invés de preparar a Câmara para receber as pessoas que vão reivindicar seus direitos e verificar o voto de cada parlamentar, a primeira medida do presidente tem sido fechar as portas e chamar a PM do DF ou colocar a própria politica legislativa em ação com resultados que temos visto aqui, de bater em trabalhadores”, criticou.
Corregedoria 
Nelson Canesin não sabe exatamente quantos pontos levou na cabeça, mas teve de permanecer em observação até a madrugada por conta da suspeita de traumatismo craniano.
Segundo ele, a confusão começou porque a polícia do DF sequer permitiu que o carro de som do movimento ficasse em um local tradicional de manifestações, antes do espelho d`água e a metros da entrada da chapelaria da Câmara
“Na metade do caminho entre o espelho d`água e o carro de som ocorreu a confusão e os policiais vieram. Eu estava sozinho sendo agredido por vários soldados com cassetetes e chutes. Estava com uma camiseta da CUT e bandeira dos bancários. Nada mais. Não tive uma única atitude que justificasse aquela ação”, conta ele que foi levado ao ambulatório da Câmara após desmaiar.
Para ele, tão estranho quanto o contingente policial ter optado por frear a circulação do caminhão de som ao invés de ter permanecido na porta do Congresso para conter uma suposta invasão, foi a proibição dos trabalhadores de entrarem na galeria. Especialmente porque os empresários já estavam lá dentro.
“Lá dentro tinha representantes da Confederação Nacional da Indústria, de central sindical que defende esse projeto como algo positivo, da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Mas não tinha da CUT e daqueles que denunciam esse projeto de lei como a barbárie do mundo do trabalho nos próximos anos”, ressaltou.
Após deixar o hospital, Nelson Canesin registrou um Boletim de Ocorrência no 5º DP, realizou o corpo de delito e ingressou com uma denúncia na corregedoria.
Negro fedido
Mesmo procedimento adotado por Aurimar Cordeiro de Carvalho, o Carioca, carteiro e diretor do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios em Minas Gerais.
Ele conta que, enquanto tentava localizar um amigo no meio da confusão foi imobilizado por policiais que aplicaram um golpe chamado mata-leão.
A partir daí começou uma série de agressões, com tapas chutes e socos que deixaram marcas na boca, costas e pernas. A imagem de seu rosto pisoteado pelo coturno de um policial foi massivamente divulgada nas redes sociais.
O pior ainda estava por vir. Mesmo imobilizado, algemado e acompanhado por cerca de 10 policiais militares, Carioca diz ter sido agredido com uma arma de choque e sofrido insultos racistas.
“O policial veio com o taser e quando deu o primeiro choque eu dei aquela travada. Quando veio dar segunda, eu disse que era cardíaco e aí o cara me virou de lado e falou “criolo fedido, macaco, tem que morrer. E deu no peito. Se fosse cardíaco mesmo teria morrido”, disse.
O corte profundo na mão esquerda provocado pela algema deixou tendão e osso expostos. Por conta disso, teve de tomar 20 pontos.
Para a deputada Maria do Rosário, os autores das agressões não são exclusivamente militares e as ações demonstram um modus operandi que irá se repetir se não for combatido.
“A responsabilidade sobre essas violências não é exclusiva das autoridades policiais e de seu comando, mas também de quem chama a policia e orienta para que tenha a atitude que temos visto”, defendeu.