CUT responde à crise com defesa dos direitos e da democracia

A defesa dos direitos da classe trabalhadora e da democracia, que nortearam a criação da CUT há 32 anos, foi mais uma vez posta à prova em um ano de ataques e criminalização dos movimentos sociais.
Mais do que nunca, pauta da CUT vai além das reivindicações trabalhistas, defendeu Vagner (Fotos: Roberto Parizotti)
Nas ruas, no Congresso e em espaços de negociação com o governo e com os patrões, a resposta da Central foi a mobilização e o reconhecimento desse protagonismo veio nas palavras de um de seus fundadores, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Lula participou nesta terça-feira (2), em São Paulo, da última reunião da direção antes do CONCUT (Congresso Nacional da CUT), que acontece em outubro e definirá os dirigentes para os próximos quatro anos.
Para ele, a mobilização capitaneada pela Central foi e segue fundamental para impedir que o Brasil retome o modelo de desenvolvimento construído à custa da exploração do trabalhador. Conforme defendeu, é preciso ir também além do repúdio à política econômica recessiva e apresentar saídas concretas a essa pauta.
Ao analisar a atual conjuntura, o presidente Nacional da CUT, Vagner Freitas, parabenizou os atuais secretários e ressaltou que encerrarão o mandato com o sentimento de dever cumprido. Apontou, porém, que a maior organização sindical do país permanece com a missão de ser protagonista na defesa incondicional da classe trabalhadora, da democracia e na manutenção da mudança do Estado brasileiro.
“Somos uma central socialista, que propõe uma mudança na sociedade brasileira, uma sociedade construída e hegemonizada pela classe trabalhadora. E essa mudança inclui impedir que aja retrocesso, que aja golpe de uma direita que não aceita o fato de termos um presidente da República metalúrgico, uma mulher presidenta. Golpe no Brasil hoje significa um golpe na América Latina”, avaliou.
Balanço 
No processo de renovação dos quadros, alguns secretários que não irão compor a próxima gestão fizeram um balanço de seus mandatos. Caso do atual comandante da Secretária Adjunta de Relações Internacionais da CUT, João Felício, também presidente da CSI (Confederação Sindical Internacional).
CUT é protagonista e deve apresentar propostas concretas de mudança de rumo, apontou Lula
Ex-presidente da Central entre 2000 e 2003 e entre 2005 e 2006, Felício lembrou que desde a eleição de Lula, em 2003, a entidade não deixou de fazer críticas aos governos que ajudou a eleger. Com a mesma intensidade que repudia agora tentativas de golpe.
“Na nossa visão, o governo federal continua errando na política econômica ao adotar o Plano Levy, mas não cabe a golpistas derrubar um governo democraticamente eleito. Aliás, golpistas são históricos, são os mesmos que provocaram o suicídio de Getúlio Vargas e que derrubaram o João Goulart antes de instaurem a ditadura civil e militar. Quem tem direito de derrubar governo é o povo por meio do voto”, defendeu.
Em relação à atuação internacional, ele apontou que a CUT avançou e tem uma influência muito grande na formulação de políticas em espaços onde defende a importância das organizações da classe trabalhadora defenderem um programa que combine um projeto de nação com a unidade sobre a pauta trabalhista.
Como no Brasil, o desafio no exterior é pensar políticas de sindicalização. “Temos somente 16% de trabalhadores filiados a sindicatos no mundo e muito disso se deve ao obstáculo de atrair os jovens, que são doutrinados a acreditar no equívoco de que a luta coletiva não tem importância, que as pessoas sobem na vida por conta do esforço própria. Precisamos de cursos de formação que enfrentem essa ideia equivocada”, apontou.
Meio ambiente e Comissão da Verdade
Recém-eleito presidente da CUT no Espírito Santo, o atual secretário de Meio Ambiente da Central, Jasseir Fernandes, apontou a importância da crise mais recente no Brasil para definir claramente a postura de cada central sindical.
Fernandes avaliou que o desafio de comandar uma estadual fora dos grandes centros urbanos é semelhante ao de incluir na pauta dos trabalhadores a discussão sobre o meio ambiente. E igualmente urgente para descentralizar a discussão e ampliar a mobilização.
“Conseguimos mostrar que o que parecia ser periférico, é emergente, especialmente para os trabalhadores. Porque, se você pegar em São Paulo, quem mais tem dificuldade com a falta de água é o trabalhador que mora na periferia e não tem recursos para driblar a crise hídrica ou mudar de estado. É também quem mais sofre com o impacto do agrotóxico na alimentação e com as mudanças climáticas”, afirmou.
Bancário pernambucano, o atual secretário de Políticas Sociais, Expedito Solaney, acredita que a CUT foi essencial para mostrar que a economia é quem deve estar a serviço da política. E que o atual governo se equivoca ao adotar uma política regressiva, recessiva e neoliberal.
Após três mandatos, ele deixa a direção nacional, mas será representante de seu estado junto à Central. Da mesma forma que Jasseir Fernandes, Solaney também ressaltou a importância de colocar na agenda sindical o tema dos direitos humanos, que em sua gestão tratou da organização de trabalhadores LGBT, com deficiência e da articulação de um grupo de trabalho ligado à Comissão Nacional da Verdade para apurar crimes cometidos durante a ditadura.
“Integramos um grupo de trabalho que culminou em um relatório da Comissão Nacional da Verdade Memória e Justiça da CUT, que apresentará o resultado da nossa pesquisa durante o CONCUT. Isso foi muito importante para o nosso ambiente, que já consagrar os direitos civis e políticos, mas, muitas vezes reproduz a lógica da elite, que relega os direitos humanos a segundo plano”, definiu.