Cultura, educação e democracia andam juntos, apontou a primeira mesa de debate deste sábado (09)

A cultura é uma das áreas sob profundo ataque desde a eleição de Bolsonaro. Os artistas, seu trabalho e seus produtos são tratados como indesejáveis pelo governo federal, que fechou o Ministério da Cultura e entregou o tema a uma limitada secretaria que tem a nítida tarefa de implodir as políticas públicas antes existentes e interditar qualquer iniciativa ou debate de fomento cultural.

Esse foi o diagnóstico apresentado pelos expositores da primeira mesa de debates deste sábado, 9 de julho, terceiro e último dia do 12º CTE, “Cultura e Direitos Humanos no Enfrentamento do Fascismo”. O ex-ministro da Cultura Juca Ferreira, a multiartista Preta Ferreira e a deputada federal Érika Kokay compuseram a mesa. Os trabalhos foram conduzidos pelas diretoras do Sinpro Carolina Moniz e Leilane Costa.

Érika afirmou que os ataques às áreas da cultura, da educação, da ciência são traço central do programa e da personalidade de Bolsonaro: “Esse governo combate a educação, a ciência e a arte porque elas são expressões de criação, e expressões de criação são expressões de liberdade”, disse ela. Para a deputada, esse posicionamento tem íntima relação com o negacionismo que também caracteriza o governo. “O negacionismo em curso não é pontual, não é apenas da ciência, não é apenas o terraplanismo. É uma busca por negar a própria realidade, buscando substituí-la por uma narrativa fundamentalista”, observou ela.

A deputada também lembrou da importância da cultura para garantir o direito da população à cidade, direito esse que não está disponível para o conjunto da população, afinal, a muitos segmentos é negado o espaço público. Érika Kokay também pontuou que a política de destruição do governo Bolsonaro tem como tática implodir as áreas por dentro. Basta notar que órgãos governamentais como a Secretaria de Cultura, o Ministério do Meio-Ambiente, a Fundação Palmares e o Ministério da Mulher têm à sua frente inimigos declarados, respectivamente, da cultura, do meio-ambiente, da luta antirracista e do feminismo.

Preta Ferreira destacou justamente a ausência de políticas públicas, sobretudo para o setores que produzem cultura e para a população negra. “O empoderamento da mulher negra não é garantido pelos governos”, afirmou ela.

A multiartista falou da experiência de ser uma presa política no ano de 2019, numa ação do Movimento Sem Teto do Centro (MSTC) em São Paulo. Na prisão, onde permaneceu por 108 dias, ela escreveu Minha Carne – Diário de uma Prisão e se tornou, além de feminista e antirracista, uma lutadora abolicionista penal, defendendo o desencarceramento em massa no Brasil e no mundo.

O ex-ministro da Cultura Juca Ferreira localizou a sede de destruição da cultura do governo Bolsonaro num contexto de combate aos direitos sociais, onde nem os direitos mais básicos estão garantidos. Da mesma forma, Juca apontou que a cultura se potencializa e se desenvolve em ambientes democráticos, portanto, cultura e democracia andam juntos. “Porém, a democracia nunca foi estendida a toda a população. Há um largo número de pessoas miseráveis, excluídas, submetidas a uma pobreza radical”, disse ele, resgatando a tradição golpista do país. “Cada vez que retomamos a democracia, perdemos muito do que tinha sido acumulado”, apontou o ex-ministro.

Para Juca, é necessário construir uma política cultural que crie um ambiente inclusivo e democrático para o desenvolvimento da cultura, fomentando a capacidade e a possibilidade de expressão de todos os segmentos sociais. “Atualmente, o que se quer é estrangular o desenvolvimento cultural”, disse ele. O cenário de violência e intimidação alimentado pelo governo Bolsonaro é o oposto do investimento que deveria ser feito na convivência democrática, especialmente em se tratando de um país dotado de tão rica diversidade cultural.

Juca Ferreira saudou os professores(as) e orientadores(as) educacionais pela presença, e destacou: “Este congresso vem num momento muito oportuno, os educadores são centrais na construção de um novo Brasil”.

12º CTE

O 12º Congresso dos Trabalhadores (as) em Educação está sendo realizado de 7 a 9 de julho, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Nesta edição, o lema é: “Um outro Brasil é possível”, e os eixos de debate são fundamentados nos seguintes temas: conjunturas internacional, nacional e local; defesa da educação pública, gratuita, de qualidade, laica e socialmente referenciada; organização e estrutura sindical; e Plano de Lutas para o próximo período. Saiba mais em https://bit.ly/39ZjzXl.