Cultura afro nas escolas

Regional de Santa Maria dissemina raízes negras em concerto cultural

A Escola Classe 108 Sul realizou, ontem, um movimento para os alunos da 1ª à 4ª série do Ensino Fundamental com o objetivo de difundir a cultura negra e a miscigenação, que resultou no povo brasileiro. Para isso, o Concerto Cultural Brasileiro Raízes Culturais – Batuques e Canções, criado pela Regional de Santa Maria, foi convidado pela escola para que se apresentasse, dando continuidade à ação pedagógica.

Desde a publicação da Lei 10.639/2003, que obriga as escolas a ensinarem a cultura afro-brasileira, divulgando a luta e a contribuição dos negros no Brasil, Júlio César Moronari, diretor de teatro e também diretor Regional de Ensino, resolveu fazer diferente. Idealizador do projeto, ele criou um Núcleo de Pesquisa da Cultura Africana, como alternativa de ensino, o que tornou as escolas de Santa Maria pioneiras no cumprimento da lei. “Queremos mostrar que o dia da consciência negra tem que ser o ano todo, e não só no dia 20 de novembro”, explicou o diretor.

Para a diretora da Escola Classe 108 Sul, Suzana Salomão, o trabalho maior é levar para os alunos valores como respeito, amizade e confiança. “A ideia é mostrar que a cultura negra no Brasil não é apenas o que os livros falam da escravidão, mas que muito do que temos hoje veio graças a eles. Como coisas com que convivemos no dia a dia e que não sabemos que é de cultura africana”, explicou Suzana. Ela completou ainda que a apresentação de ontem foi a terceira do projeto da escola, que mostrou também a cultura indígena e branca, que compõem a miscigenação brasileira.
Com gosto de quero mais
Composto por alunos, professores, artistas e servidores da DRE de Santa Maria, a equipe realiza o projeto nas 25 escolas da cidade e começa a divulgar também em outras do Distrito Federal (DF). “É um trabalho muito cansativo administrar 25 escolas e mais essas outras que estão sendo incluídas agora. Mas o resultado disso é a reação das crianças. É muito gratificante, nos faz querer mais”, contou Julio. O diretor contou que Santa Maria não tem cinema, nem teatro, o que torna a divulgação cultural muito difícil e que a escola acaba sendo uma referência para as crianças. “Elas não são carentes, são querentes. As crianças querem essa cultura, esse ensino, precisam de pessoas que lhes ofereçam”, completou.

O retorno das crianças com o projeto também surpreendeu a diretora da escola. “Essa apresentação faz com que as crianças se aproximem daquilo que aprendem nos livros, dentro da sala de aula. Elas veem e interagem pessoalmente com a cultura africana”, explicou Suzana. Com isso, no dia 12 de setembro, as crianças se apresentarão a partir das 10h30 na Escola Classe 108 Sul. Divididos entre as turmas, cada grupo representará uma dança dentro de uma cultura, como espanhola, portuguesa, italiana e até hip-hop.

O projeto, porém, tem um destaque a mais. Alunos que se preparam para a vida universitária têm conquistado espaço na Universidade de Brasília (UnB), como é o caso de Kayque Pedro da Silva, de 19 anos. O estudante, que também é voluntário do projeto de Julio, foi aprovado na primeira etapa do vestibular de Artes Cênicas da UnB, em julho deste ano. “Teatro para mim significa tudo. Poder participar desse grupo é um prazer enorme, estamos quebrando preconceitos quanto à cultura africana e podendo ensinar às crianças de uma maneira alternativa”, contou o estudante.