Convivência intergeracional: um direito humano
(*) Por Kátia Franca Vasconcellos
Quando a gente ama
É claro que a gente cuida.
Peninha (Música: Sozinho)
Vamos falar de amor. Um amor intenso e sereno, maduro e novo. Esse amor trouxe-me para um lugar desconhecido de sensações únicas, mas também revisitadas.
O AMOR de avó/avô.
Ao olhar e pegar a minha neta no colo pela primeira vez, meu coração foi inundado de um amor imensurável. Sensações de renovação e esperança preencheram um lugar, até então desconhecido.
Os momentos de convivência no cotidiano de ser avó são preciosos, impagáveis e eternos. Um amor renovado a cada encontro, a cada sorriso. A primeira papinha, o engatinhar, andar, falar vovó, pedir colo, o aniversário do primeiro ano, a entrada na creche, as festas escolares, enfim, esses cotidianos, que transformam os dias em felizes e especiais.
Cotidianos de descobertas, sorrisos largos, abraços doces, beijos melados, caminhadas de mãos dadas. Momentos eternizados de puro amor. Todos os dias são de novidades, aprendizagens, leveza e renovação.
Busco em Bituca, nosso Milton Nascimento, licença para poetizar esse amor, na sua bela canção – Coração de Estudante.
“Mas renova-se a esperança
Nova aurora a cada dia
E há que se cuidar do broto
Pra que a vida nos dê flor
Flor e fruto”
Renovar a esperança.
Sim. Ser avó renovou a minha esperança. A esperança do verbo ESPERANÇAR, como tão bem disse o Mestre Paulo Freire.
A Esperança que anuncia novidades, a construção de pontes, persistências, possibilidades de mudanças. Assim, nasce uma criança, repleta de novidades, mas carregada de historicidade.
O acontecimento do nascimento, paradoxalmente, revelou-me dois sentimentos: o primeiro é o amor já declarado e o segundo, um incômodo. O incômodo pelo direito das crianças, das meninas. Da condição de ser mulher em uma sociedade machista e, ainda, tão patriarcal.
Há dois anos nasceu o meu neto. Hoje sou avó da Luna e do Ravi. Dois seres humanos que inundam e me fazem transbordar de amor.
Com o nascimento do meu neto a esperança da renovação veio carregada do desejo, que o seu olhar fosse sensível com outro e para o mundo. Um homem forte com doçura, amorosidade e sinceridade. Um homem, que lembre, primeiramente, da sua condição humana. Um homem que não tenha receio de demostrar sentimentos e permita-se chorar de alegria/tristeza e ou emoção.
A luta é transformar o incomodo por justiça social. São muitas as lutas que estão no nosso cotidiano.
Como contribuir para que as crianças possam viver em um mundo/país que respeitam os Direitos Humanos?
O que podemos fazer para ensinar o cuidado com os seres humanos?
Como podemos garantir que todos os humanos tenham a garantia do direito à liberdade, à igualdade e à dignidade, com o respeito a sua imensa diversidade?
“Há que se cuidar da vida
Há que se cuidar do mundo”
Esse mundo é possível?
Impossível é não pensar na possibilidade da luta, no coletivo, na educação e no amor.
Nossa luta é:
Um mundo sem miséria; respeito à infância e sem trabalho infantil; educação e saúde públicas de qualidade; salários e condições de trabalhos dignos; respeito e dignidade aos idosos, aposentados e pensionistas; saneamento básico; segurança; preservação do meio ambiente, da fauna e da flora; proteção aos rios, florestas e ecossistemas e de suas respectivas populações; garantia de ir e vir; garantia da liberdade de expressão e de pensamento; respeito a nossa identidade étnicas, raciais e de gênero; respeito a memória, a história, a cultura, ao patrimônio…
A defesa da Democracia é a defesa dos Direitos Humanos, um país de fato democrático é humanizado para todos, todas e todes.
Um Estado Democrático de Direito é um Estado que cuida e zela pela garantia dos Direitos Humanos, e principalmente da infância, das crianças e jovens que é o nosso futuro.
A todas avós e todos avôs que amam seus netos, sejam crianças, adolescentes ou adultos. Desejo que não percamos a capacidade de lutar e, principalmente, a capacidade de falar das lutas necessárias, na consolidação dos Direitos Humanos.
E há que se cuidar do broto
Pra que a vida nos dê flor
Flor e fruto
(*) Por Kátia Franca Vasconcellos, professora aposentada da Secretaria de Estado da Educação do Distrito Federal (SEE-DF e, atualmente, diretora de Direitos Humanos/Instituto Horizonte)