CNTE participa do Encontro do Movimento Pedagógico Latinoamericano

encontro
Iniciou-se nessa quinta-feira (07/07), em Belo Horizonte-MG, o capítulo mineiro do Movimento Pedagógico Latinoamericano. O evento conta com a participação de 500 delegadas e delegados afiliados ao Sind-UTE/MG.
Durante a abertura do encontro, as intervenções foram no sentido de apresentar os desafios que estão postos na atual conjuntura política e social que vive o Brasil, que demandam de todos os movimentos sociais estratégias e unidade para enfrentamento do golpe que ameaça os direitos dos trabalhadores da educação.
Os trabalhos de abertura foram conduzidos pela Presidenta do Sind-UTE, Beatriz Cerqueira que deu as boas vindas aos presentes e agradeceu o apoio da CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação) e da IEAL (Internacional da Educação para América Latina) para a realização do Encontro que ela chamou de “marco da luta por democracia e em defesa da educação pública em Minas Gerais, no Brasil e na América Latina”.
leaoagorasim
O presidente da CNTE e vice-presidente mundial da Internacional da Educação Roberto Franklin de Leão, fez sua saudação lembrando que o Encontro é um momento para profunda reflexão, fundamental neste contexto em que a ofensiva neoliberal avança e tenta destruir as políticas de inclusão que estavam sendo construídas no país por meio de um projeto político autônomo e libertador. “Sairemos daqui mais fortes, mais unidos e ainda mais determinados para seguir nossa luta por uma educação emancipadora para toda a América Latina”, concluiu.
fatima
“Estamos escrevendo a história, e vamos contar para as próximas gerações que lutamos contra um golpe que tentou roubar direitos conquistados com muito esforço. No passado, não muito distante, apenas os poderosos faziam seus registros, mas hoje nós deixaremos nossa marca na história, como uma gente que luta coletivamente e conquista para todos e não para uma minoria burguesa”, avaliou Fátima Silva, Secretária de Relações Internacionais da CNTE e Vice-Presidenta da IEAL.
Também compuseram a mesa de abertura do Encontro, Julia Louzada do Levante Popular/MG, Jairo Nogueira Filho, Secretário Geral da CUT/MG, Dehonara de Almeida da Marcha Mundial de Mulheres e Joceli Andrioli, Coordenador Nacional do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens).
Os desafios para defesa da democracia e dos direitos sociais foram o tema central da palestra de Nilma Lino, ex-ministra das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, no Governo da Presidenta Dilma Rousseff. Além de ser educadora, sua experiência numa pasta de governo trouxe importantes elementos para a construção de estratégias contra a onda conservadora e neoliberal no continente. “Nosso desafio é continuar construindo práticas políticas e pedagógicas mediadas pelo conhecimento”, disse.
Ela lembrou que, historicamente, a luta docente sempre foi marcada pela resistência e fez referências ao papel protagonizado no pelos estudantes no último período. Disse que, quando estes tem usado palavras de ordem como “a escola é nossa”, não é um movimento munido de sentimentos privatistas, mas de uma consciência nascida no seio dos movimentos sociais de que o direito à educação é legítimo e deve ser defendido por todos. Encerrou sua contribuição falando sobre a tentativa da direita de implementar o projeto da Escola sem Partido (PL 867/2015). “As águas turvas da despolitização não podem ser as águas turvas da desesperança. Não podemos e não vamos desistir dos avanços de tudo que conquistamos”, finalizou.
Na sequência da programação, os convidados de Honduras (COLPROSUMAH), Elías Muñoz Varela, e do Paraguai (OTEP-Autêntica), Juan Gabriel Spinola, trouxeram as experiências que seus países enfrentaram com golpes de Estado e as consequências para o povo com ataques aos direitos sociais e assolando a educação.
Especificamente no caso do Paraguai, Spinola, explicou que a condução foi através de um golpe parlamentar, semelhante ao implementado no Brasil. A grande diferença é que o Presidente Lugo foi deposto em algumas horas e não sofreu o massacre psicológico e midiático imposto à presidenta Dilma Rousseff ao longo de vários meses. A experiência vivida pelos hondurenhos foi a de um golpe militar clássico, contra o Presidente Mel Zelaya, um movimento apoiado pelas elites dominantes com articulação do judiciário e parlamento. Houve reação popular, mas as elites tradicionais prevaleceram e o apoio internacional não foi suficiente para depor o governo golpista.
Na última mesa do dia, intitulada “A Unificação das Lutas no Governo Macri”, o palestrante Miguel Duhalde, secretário de Educação CTERA/Argentina, explicou como os trabalhadores têm sofrido com as medidas neoliberais do governo Macri que governa para os ricos e que em poucos meses de vigência, criou um milhão e meio de pessoas mais pobres, com perda de postos de trabalho e medidas de arrocho contra a classe trabalhadora. Fatos como o aumento na mercantilização da educação tem sido muito preocupantes, e lançam o desafio de voltar a levantar a bandeira de que a educação é um direito social e que envolve os âmbitos político e cultural.
Um dos aspectos que também está colocado como desafio para os movimentos sociais na Argentina, é compreender exatamente o que levou os eleitores, especialmente os trabalhadores da educação, a votarem no modelo de governo Macri, pois há a plena consciência de que esse retrocesso foi confirmado nas urnas e precisa ser revertido com legitimidade.
Os palestrantes internacionais convidados manifestaram o apoio total e irrestrito ao governo da Presidenta Dilma Roussef, reiterando a posição dos sindicatos que representam de reconhecer a legitimidade deste governo eleito por mais de 54 milhões de brasileiros e brasileiras.
Encerrando a programação do dia, o jornalista Leonardo Wexell Severo, redator-especial da Hora do Povo e observador internacional do caso no Tribunal de Sentenças de Assunção, lançou o livro “Curuguaty, carnificina para um golpe”. A partir de uma narrativa lúcida sobre o massacre de Curuguaty (Paraguai), fato forjado para embasar o golpe que depôs o presidente Fernando Lugo e que custou a vida de 11 camponeses e 6 policiais, essa obra denuncia a atuação da grande mídia para criminalizar os movimentos sociais e impor o retrocesso aos países latinoamericanos.