CEM 02 de Ceilândia realiza projeto que exalta negritude

Tudo começou quando os professores observavam que as alunas negras do CEM 02 de Ceilândia  escondiam os próprios cabelos debaixo de toucas e lenços, faziam procedimentos de alisamento químico, ou deixavam os mesmos presos, porque muitas tinham vergonha de mostrá-los, porque sofreram bullying, ou na infância ou mesmo na adolescência.

O projeto pedagógico inicialmente nomeado Crespas e Cacheadas, surgiu em 2015 e é um ensaio fotográfico que convida os(as) estudantes do ensino médio a participarem de sessões de fotografia, com toda a produção, maquiagem, com objetivo de valorização do perfil que antes eles(as) julgavam não terem o mesmo valor. Desde 2022, os meninos também participam e a escola renomeou para Cresp@s e Cachead@s. Neste ano, 15 fotógrafos participaram do projeto com cerca de 60 alunos(as).

“Muitos alunos e principalmente alunas vêm do ensino fundamental com muitos traumas e sequelas de bullying por conta da cor da pele e tipo de cabelo e quando entram na nossa escola, sabendo que há um projeto que valoriza o cabelo crespo ou cacheado, que há uma afirmação da beleza negra, elas se sentem fortalecidas e começam a se soltar. Isso tudo coincide com várias mudanças de comportamento e de afirmação”, afirma Gildenor Araújo, professor de história e coordenador do projeto.

Um dos propósitos do projeto é a valorização das culturas afro-brasileira e africana, a busca da ancestralidade, pois promove uma mudança de comportamento, aumenta a qualidade de vida, combate a baixa autoestima, quando o(a) jovem percebe o valor da sua identidade.

“Eu comecei a participar do projeto em 2022 como um dos fotógrafos. Começou como uma iniciativa de sala de aula para tratar de autoestima e posteriormente a atividade se ampliou, com apoio do professor Gildenor Araújo que fez uma proposta para que fosse construído um mural na escola para as fotos ficassem expostas o ano todo. Então me chamou muita atenção os alunos que estavam retratados nas fotos passarem ali quase que diariamente e ficarem ali admirando suas próprias fotos e chamarem os colegas para olharem também, era uma situação constante. Isso foi um ganho impressionante. Dar visibilidade para eles e eles também se sentirem visibilizados dentro do projeto”, diz Roberto Schiavini, coordenador pedagógico e professor de sociologia.

De acordo com Roberto, “a exposição faz com que a visibilidade se dê uma forma positiva (tem o maquiador, eles vêm paramentados, os fotógrafos têm todo o cuidado no tratamento das fotos), então isso gera um ótimo efeito. Um dos resultados mais diretos é o combate ao bullying, a retratação deles se dá de uma forma positivada”.

Cerca de 75 a 80 fotos vão para o mural, mas muitas outras são tiradas e os(as) alunos(as) recebem links para baixarem as próprias fotos, após autorização dos pais ou responsáveis para participarem do projeto. E o resultado, vai aos poucos também mudando esta relação dos estudantes com seus familiares.

“A juventude está muito carente de apoio familiar em decorrência das demandas de cada família com a correria pela sobrevivência. Muitas vezes, elas e eles não têm o apoio, a atenção. Isso é um comportamento que está alheio a classe social. Mas eu já recebi alguns feedbacks por parte das alunas e alunos que houve uma melhora nessa questão, porque muitos traziam essas negativas do seio da família”, diz Gildenor.

Para ver as fotos do álbum do Facebook do Sinpro clique aqui.

Fotos: Roberto Schiavini