CEFAB encerra novembro com a Exposição Leitura e Consciência Negra

Fotos: Cefab

 

 

O Centro de Ensino Fundamental Athos Bulcão (CEFAB), do Cruzeiro Novo, encerrou o mês de novembro – mês da consciência negra no Brasil – com a sétima edição da Exposição Leitura e Consciência Negra. O trabalho, cuja culminância ocorreu no dia 20/11, faz parte do Projeto Político-Pedagógico (PPP) da escola.

Durante todo o mês de novembro, os(as) cerca de 600 estudantes foram apresentados a obras literárias escritas ou não por autores(as) negros(as), bem como, a livros que tratam de diversas questões étnico-raciais, tais como a História da África e a do Brasil, políticas educacionais para um educação antirracista, quilombos, biografias de personalidades negras. Este ano, também assistiram à reportagem “Negros na literatura: personagens ajudam na construção da identidade”, da TV Brasil, da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC).

Atualmente, a exposição é um projeto pedagógico que envolve todas as disciplinas do Ensino Fundamental – língua portuguesa, história, ciências, matemática, inglês, geografia, artes e educação física – e a Biblioteca, espaço organizado para recepcionar os(as) estudantes de forma acolhedora com elementos e trabalhos artísticos que remetem à cultura afro-brasileira. Mas, antes, no início do projeto, ele era específico da disciplina língua portuguesa, que, na época, era lecionada pela professora Nerinete Colonna, idealizadora do projeto.

“Esse trabalho da Athos Bulcão funciona como mais um registro importante da Lei nº 10.639/2003, que tornou obrigatório o ensino de História e Cultura Afro-Brasileiras e Africanas nas instituições de ensino do País, como bem demonstra a qualidade dos projetos nas escolas públicas do Distrito Federal, ajudando a construir caminhos democráticos e de maior justiça social”, afirma, Regina Célia, diretora da Secretaria de Assuntos e Política para Mulheres do Sinpro.

 

“Livros, vídeos, elementos e trabalhos artísticos (feitos com tecidos, bonecas de cerâmica, estatuetas e quadros) são objetos culturais capazes não só de apresentar as questões étnico-raciais relevantes aos(às) estudantes, mas também, de propiciar o diálogo entre eles sobre tais temas, de encantá-los, de elevar a auto-estima de muitos deles, de valorizar a diversidade, de enfrentar o racismo na escola, de apresentar o acervo literário da biblioteca da escola e de colaborar para a formação do gosto pela leitura”, informa Nerinete, professora de língua portuguesa readaptada para o trabalho em apoio pedagógico. O projeto conta com a participação intensa das também professoras readaptadas Adriana Costa de Miranda e Rosimary Souza Freitas.

 

Ao centro, a ativista negra Elisangela Tibério. À esquerda de Elisangela, Larissa Colonna (filha da professora) e, à direita, a professora Neris, de língua portuguesa, idealizadora do PPP Consciência Negra 

 

Metodologia e culminância

Ela explica que, como a Exposição Leitura e Consciência Negra faz parte do Projeto Pedagógico de Consciência Negra, o tema é trabalhado com discussões e trabalhos com os(as) estudantes e professores(as). “A culminância ocorre com a exposição de leitura, momento em que os(as) autores(as) negros(as) são apresentados(as) aos(às) estudantes, com suas biografias, leitura de trechos das obras e contribuições, bem como com apresentações de atividades diversas, sempre dentro do tema, tais como oficinas de tranças e turbantes; apresentações artísticas e culturais, como música, capoeira, danças; Desfile da Beleza Negra etc.”

 

Professora Bárbara, coordenadora pedagogia (à direita) e Professora Lucinéia de língua portuguesa (esquerda). A professora Lucinéia é uma das professoras parceiras da biblioteca. Desenvolvemos trabalhos juntas durante todo esse ano.
Professora Bárbara, coordenadora pedagógica (à direita) e professora Lucinéia de língua portuguesa (esquerda). A professora Lucinéia é uma das parceiras da Biblioteca. Foto: Cefab

 

 

Os(as) professores(as) participam desenvolvendo trabalhos em sala de aula, discutindo o tema, apresentando vídeos, fazendo trabalhos escritos e orais com as turmas. Os(as) estudantes, por sua vez, apresentam seus trabalhos no dia da “Culminância”– geralmente, no dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra –  e, nesse dia, os(as) professores(as) oferecem as oficinas. De 2015 até hoje, o projeto passou por algumas reformulações. No início, ele era executado durante o ano todo, mas, com a pandemia da covid-19, muita coisa mudou e ele passou a ser executado somente em novembro.

“Na minha coordenação, nos anos de 2015 a 2017, a exposição tinha um formato diferente porque eu estava em sala de aula, e, então, era feito um trabalho com as turmas de língua portuguesa desde o primeiro bimestre. Trabalhávamos a literatura dos(as) autores(as) negros(as), porém em 2018, me readaptei e, daí, o projeto tomou um formato menos abrangente para mim e a exposição só passou a ocorrer em novembro”, afirma a professor Neris, como é carinhosamente chamada na escola.

Ela conta que, desde que chegou na escola, sempre se preocupou em trabalhar o tema antirracista como parte do PPP , mas já havia um tempo que não vinha ocorrendo. “Como o tema é de meu interesse, eu me ofereci para desenvolvê-lo desde então. Tenho recebido apoio e incentivo da direção e de professores(as) para mantê-lo acontecendo”, afirma.

Como surgiu e a importância do projeto

O Projeto Pedagógico de Consciência Negra é realizado para o turno vespertino – que abrange as turmas dos 6⁰ e 7⁰ Anos – e para o matutino, turmas dos 8⁰ e 9⁰ Anos. Ocorre também de forma diferenciada, conforme a decisão do grupo. A proposta surgiu da idealização de um sonho da professora Neris.

“Como professora de língua portuguesa, eu percebia que os e as estudantes não tinham conhecimento dos autores negros e das autoras negra e nem conheciam suas contribuições para o Brasil. Os e as estudantes não conheciam suas histórias de vida e de luta. Com a exposição, é possível vê-los(as) se identificando com esses(as) autores(as), tomando gosto pela literatura e até mesmo exaltando-os(as)”, diz.

Segundo ela, o tema da consciência negra foi escolhido por ser de profunda relevância no cenário atual, em que o respeito às diferentes culturas, principalmente à cultura negra, da qual se origina a maioria dos(as) estudantes, professores(as) e servidores(as) da escola, bem como por ser um debate necessário dentro da escola, local principal para fomentar a erradicação do racismo fora e dentro do espaço escolar.

Técnica de gestão educacional e diretora da escola, Mirian Silveira Silva considera o projeto muito importante. “Foi desenvolvido para conscientizar sobre a importância dos povos e da cultura africana na construção sociocultural brasileira, promover o resgate da identidade negra, bem como dedicar um tempo desse nosso conteúdo e trabalho pedagógico à erradicação do preconceito e à aceitação da diversidade étnico-racial”, finaliza.