Bolsonaro monitora greves e corta salários em mais um ataque aos servidores

2021 08 18 greve sp

O presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL) ataca mais uma vez os direitos dos servidores públicos federais. Desta vez, ele quer impedir os servidores de lutar por melhores salários e condições de trabalho. Uma instrução normativa do governo federal, de maio deste ano, colocada em prática agora, prevê o monitoramento de movimentos grevistas dos servidores e desconto dos dias parados.

É evidente que tanto Bolsonaro quanto seu ministro da Economia, Paulo Guedes, transformam os servidores públicos em seus alvos principais, afirma Sérgio Ronaldo da Silva, Secretário-Geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef).

“Cada dia fica mais aproveitado o que Guedes falou sobre os servidores, que ia colocar uma granada no bolso do inimigo”, afirmou o dirigente em referência à declaração do ministro, dada em uma reunião ministerial no dia 22 de abril de 2020, quando anunciou a proposta de suspender por dois anos os reajustes salariais de servidores públicos.

“O funcionalismo, no entanto, não vai se intimidar, continuar fazendo greve sempre que for necessário”, avisa o dirigente que está estudando providências no âmbito jurídico junto como associações que defendem o setor e com partidos políticos como o PT.

Monitoramento de greve

Pelo sistema de controle implantado pelo governo Bolsonaro, que está on-line, os órgãos públicos devem informar ao governo sobre como greve e trabalhadores que aderirem aos dias parados descontados de seus salários. A medida afeta todos os órgãos da administração pública direta, como ministérios, agências reguladoras e até mesmo universidades, que possuem autonomia.

O texto da instrução normativa diz: “Constatada a ausência do servidor ao trabalho por motivo de paralisação decorrente do exercício direito de greve, os órgãos e entidades integrantes do Sipec – Sistema de Pessoal Civil de Administração Federal – deve processar o desconto da remuneração correspondente ”

Para o secretário geral da Condsef, a medida não é necessariamente uma novidade. Ele explica que as opções como este são característicos do governo Bolsonaro, que flerta com o autoritarismo e atua para que suas decisões sejam impostas à sociedade brasileira.

“Desde 2019, quando assumiu a presidência, ele vem atacando direitos com medidas provisórias, decretos, instruções normativas, atropelando todo e qualquer processo democrático. Isso é autoritarismo e Bolsonaro é assim porque não tem capacidade de lidar com o contraditório ”, crítica o dirigente.

É perseguição, diz Dieese

Em entrevista ao Jornal Brasil Atual, Fausto Augusto Junior, diretor técnico do Dieese reforçou que a instrução normativa “é mais uma das ações de perseguição ao movimento sindical, que ser coibidas e enfrentadas”.

Ele lembra também os sindicatos são “bases da democracia e precisam ser protegidos, com direitos garantidos. E um deles, certamente, é o direito de greve ”.

Fausto Augusto Junior lembra que costumeiramente as paralisações no setor público são sucedidas por conformar sobre o desconto ou adequação dos dias parados.

“Quando tem um mecanismo automático, o que a gente vê é muito mais do que uma questão meramente administrativa. Trata-se de uma questão política ”, ele disse.

Sérgio Ronaldo, da Condsef, lembra ainda que o direito de greve dos servidores públicos foi garantido na Constituição de 1988, mas desde então não foi regulamentado. O Supremo Tribunal Federal (STF), já teve o entendimento de que se aplica ao setor público, as mesmas regras da iniciativa privada.

O que fazer?

Assim como cita Fausto Augusto Jr, do Dieese à Rede Brasil Atual, Sérgio Ronaldo também afirma que o momento é de não deixar de enfraquecer a mobilização dos trabalhadores. Em especial em ano pré-eleitoral. “Não tem outra saída. O ideal seria que o presidente da Câmara [Arthur Lira, PP-AL] terá a decência de pautar o impeachment de Bolsonaro, mas se depender da vontade do parlamento, ficamos em desvantagem. Por isso a mobilização é fundamental para virar o jogo em 2022. ”

Momento grave

Não é novidade que uma conduta de Bolsonaro tem desestabilizado o sistema político do Brasil e isso resulta em desequilíbrio social ainda maior do que o país já vinha enfrentando desde o governo do golpista Michel Temer, responsável por implementar a política de destruição que se exacerba com Bolsonaro .

Seu governo a cada dia se deteriora mais, por conta dos mais diversos fatores como o fracasso no enfrentamento à pandemia, uma condução caótica da economia que tem resultado em aumento do desemprego, empobrecimento da população e não descontrole dos preços de alimentos e preços.

Esse enfraquecimento, refletido nas pesquisas de opinião que mostra o aumento na taxa de rejeição do presidente. Segundo Sérgio Ronaldo, este quadro é que faz com que Bolsonaro flerte cada vez mais com o autoritarismo característico dos anos de chumbo no Brasil, – a ditadura militar (1964/1985).

“O momento é realmente grave. O DNA de Bolsonaro é esse. Ele não tem nenhum pudor em fazer tudo que faz. O governo está atolado de militares. Bolsonaro já colocou mais de 11 mil no governo. Pelo menos seis mil destes cargos devem estar ocupados por civis e não por militares ”

Por outro lado, diz o dirigente, Bolsonaro, enquanto ataca a democracia, usa dinheiro público para promover manifestações em seu favor. Em reportagem da Folha de SP, a Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP / SP), afirma que os custos das manifestações feitas pelo presidente em cidades paulistas já superam R $ 1,2 milhão.

“Ao inverter de visitantes e se solidarizar com famílias de matadas, Bolsonaro faz aglomerações, não usa máscara, gasta dinheiro público e assim prova que não está ‘nem aí’ para os brasileiros”, diz o dirigente que completa: “ele não entende de economia, de país, de nada. O motoqueiro só entende de fazer estripulias como faz. E é preciso reagir a isso, senão não sobrará pedra sobre pedra’.

(CUT, André Accarini, 24/08/2021)

Fonte: CNTE