Artigo científico sobre a Operação Brother Sam (1964)
Por ocasião do aniversário de mais um ano do golpe militar de 1964, o professor e pesquisador Carlos E. Musse acaba de lançar o artigo “A Operação Brother Sam revisitada”, trazendo novas luzes sobre a operação ultrassecreta conduzida pelo governo dos Estados Unidos em apoio ao golpe que depôs o presidente João Goulart. O estudo, fundamentado em documentos recentemente desclassificados, revisita e compara fontes primárias e secundárias, apresentando uma análise detalhada das manobras políticas e militares que cercaram a operação. A versão em inglês do artigo será publicada em abril.
Neste trabalho, Musse examina com profundidade os três principais componentes da operação: uma força-tarefa naval, um comboio aéreo e uma frota de petroleiros, todos prontos para prestar suporte logístico aos militares golpistas. O artigo também ressalta o papel estratégico desempenhado pelo embaixador dos EUA no Brasil, Lincoln Gordon, e pelo coronel Vernon Walters, que atuaram diretamente na articulação entre os EUA e as forças armadas brasileiras.
“Quando a movimentação de tropas em Minas Gerais foi iniciada no dia 31 de março de 1964, a embaixada dos Estados Unidos prontamente notificou Washington. Na manhã seguinte, houve uma reunião entre a cúpula militar, a CIA, os Secretários de Estado e de Defesa e o presidente Johnson, após a qual foi aprovada a Operação Brother Sam”, destaca o artigo. “A operação envolvia garantir o fornecimento de petróleo para os veículos blindados, enviar carabinas e gases de efeito moral, e ostentar a bandeira americana nas costas brasileiras como forma de dissuasão”, explica Musse.
“A força-tarefa era composta pelo porta-aviões USS Forrestal, acompanhado por seis destróieres e um navio-tanque. Além disso, a Força Aérea foi encarregada de enviar um carregamento de 250 carabinas, 110 toneladas de munição e gás lacrimogêneo. Para essa operação, foi designada uma flotilha composta por seis aviões C-135, seis caças, até oito aviões de reabastecimento, um avião de apoio de socorro aéreo, um avião de comunicações e um posto de comando aerotransportado. Quatro petroleiros também foram mobilizados para transportar petróleo, óleo e lubrificantes, garantindo o abastecimento de combustível para os blindados”.
“O sucesso do golpe, aliado à falta de reação popular, levou ao cancelamento da operação antes da chegada da frota ao Brasil, quando esta ainda navegava nas proximidades de Antigua e Barbuda”, afirma o autor.
A pesquisa foi desenvolvida com base em uma metodologia qualitativa históricobibliográfica, tendo como referência autores que previamente estudaram o tema, como Parker, Corrêa, Fico, Napolitano, Gaspari, além de Kraensy e Petrilák. Foram também consultados arquivos virtuais, como os do U.S. Department of State, Office of the Historian, JBJ Presidential Library e National Security Agency Files. Além disso, foram feitas solicitações de desclassificação de documentos com base no Freedom of Information Act (FOIA) a entidades como a CIA, o U.S. Southern Command e o Naval History and Heritage Command (NHHC), resultando na desclassificação total ou parcial de alguns documentos. Entre os materiais obtidos estão o Relatório Anual do USS Forrestal e seu Diário de Bordo.
O artigo contribui para uma compreensão mais profunda do apoio estadunidense ao golpe de 1964, elucidando aspectos que permaneceram obscurecidos por décadas. A publicação busca fomentar o debate sobre a interferência estrangeira em momentos críticos da história do Brasil e reforça a relevância da desclassificação contínua de documentos para a construção de uma memória histórica mais precisa e justa. Musse observa que o golpe ocorreu no contexto da Guerra Fria, com conflitos de influência também no Brasil. De um lado, os Estados Unidos, por meio de órgãos como o USIS, investiam em propaganda, incluindo exibições de documentários, bolsas de estudo e programas de intercâmbio. Do outro, a União Soviética, por meio da StB (Státní bezpečnost), o Serviço de Inteligência Tchecoslovaco, apoiava o Partido Comunista e as Ligas Camponesas, além de facilitar o treinamento de grupos armados em Cuba.
Artigo: A Operação Brother Sam revisitada. In: Horizontes Contemporâneos: Abordagens e Desafios
em Pesquisas Atuais (p. 313–336). Arco Editores (Publicação: março 2025).
Autor: Carlos E. Musse é professor da SEDF e Licenciado em História e Letras.
Zap: (61) 985706368 E-mail: Prof.Carlos.Esp@gmail.com
https://lattes.cnpq.br/8210304849573383
https://orcid.org/0000-0001-9797-1468
Artigo completo disponível em: https://zenodo.org/records/14954702