Após um ano de interdição, Caic Castello Branco, do Gama, registra 57% de evasão escolar por negligência do GDF

Abandonado pelo Governo do Distrito Federal (GDF), o Caic Castello Branco, do Gama, já perdeu, aproximadamente, 57% dos(as) estudantes. A evasão ocorre, intensamente, há um ano. Ou seja, mais de 340 estudantes com idade entre 7 e 11 anos abandonaram a escola por causa da negligência do GDF que nem sequer iniciou as obras de recuperação da escola.

Dos 600 estudantes, hoje, a escola tem apenas 260. Para denunciar a situação, a diretoria e professores(as) da escola e o Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro-DF) realizaram, neste sábado (8), uma aula pública com a participação de toda a comunidade escolar, incluindo pais de estudantes.

O Caic Castello Branco foi interditado em 4 de junho do ano passado com a promessa do GDF de que em 90 dias  instalaria sua equipe e estudantes numa estrutura única e provisória mais bem estruturada nas proximidades da região em que os mais de 600 estudantes moram. E isso não aconteceu.

Há um ano parte dos corpos docente e discente está amontoada na Escola Classe 29 (EC29), no Setor Sul, e, a outra parte, no Centro de Educação Infantil 06 (CEI06), no Setor Oeste, desde maio de 2018. Idenilde e Ivone, mães de estudantes, participaram da aula pública e disseram que está impossível manter seus filhos na escola.

“As opções do governo são todas longe de casa e isso está causando sofrimento em todos nós porque temos de lidar com forte poeira e longas distâncias, além de outros problemas. Precisamos que o Caic volte a funcionar”, cobraram.

A situação é grave para todos(as) e está se tornando visivelmente assédio moral do governo. Os alojados na EC 29 estão num galpão precário. E, o CEI 06, não comporta a quantidade de estudantes designada para lá. Na aula pública, que contou com a participação de cerca de 100 pessoas da comunidade escolar, a diretora Yeda Alves da Rosa Vieira fez um relato da situação.

Ela contou que, desde 2012, há vários processos do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e da Secretaria de Estado da Educação do Distrito Federal (SEEDF) com registros sobre as condições estruturais do Caic.

Os relatórios indicam, desde então, que havia risco de incêndio, de choque, de vazamento de gás e até de desabamento. Em 2016, o MPDFT deu um prazo até abril de 2018 para a SEEDF retirar as crianças do Caic. Mas isso não aconteceu. O governador Rollemberg (PSB) ignorou a exigência.

Em 2018, os problemas pioraram. Os vazamentos de água se aprofundaram e as rachaduras nas paredes apareceram, colocando a estrutura do prédio do Caic na mira da Defesa Civil que, em relatório, disse que a situação era tão grave que o prédio poderia desabar e causar uma tragédia anunciada. Interditou a escola.

“Isso poderia ter sido evitado se o governo tivesse cumprido o prazo de 2 anos dado pelo MPDFT para tirar as crianças em segurança”, disse a diretora. Ela contou que a emergência da situação fez com que a transferência fosse imediata.

“Hoje o Caic está em dois espaços. Contudo, o prédio condenado está sendo usado para a entrega e recebimento das crianças que pegam o ônibus para a EC 29”, informa.

Yeda observou que o tempo dentro do transporte é totalmente perdido. “Todos os dias as crianças perdem de 20 a 30 minutos por dia em tempo de aula tanto na ida como na volta da EC 29. Ao todo, perdem cerca de 50 minutos a uma hora de tempo que poderia estar sendo usado para aula”, ressalta.

Ela destaca também outros prejuízos. “Os Projetos Interventivos e todos os projetos pedagógicos também estão prejudicados. Além de os pais não conseguirem levar os filhos, a EC 29 não tem espaço físico para comportar todos(as) os estudantes do Caic. Além disso, os pais moram distantes e não conseguem levar os(as) filhos(as) para a escola. O diálogo com eles(as) fica prejudicado. As convocações ficam impossíveis e, por causa da distância, muitos não têm condição de pagar ônibus ou Uber e, quando conseguem ir, vão a pé para as reuniões”, relata a diretora.

Ainda assim a equipe de professores(as) e a diretoria têm se esforçado em dobro para manter a qualidade pedagógica. “Neste sábado, os pais e responsáveis foram chamados para lembrar da situação e continuar mobilizados. Precisamos de mostrar que estamos em luta e manter a unidade”, disse Yeda. Durante a aula pública, ela agradeceu a confiança dos pais no trabalho pedagógico.

Em 2018, uma Comissão de Pais foi criada. Josi e Jorge são representantes. Eles contam que, no ano passado, foram ao Secretário de Educação e ao MPDFT e apresentaram as dificuldades. Os promotores foram à escola, fizeram relatório e foi aberto outro processo sigiloso.

O fato é que as crianças não têm como estudar nas condições atuais e a comunidade escolar pede solução imediata. Atualmente, há proposta para as salas modulares.

“Está em andamento o processo para as salas modulares. Na quinta-feira passada, engenheiros e arquitetos contratados pelo GDF de forma emergencial para fazer os primeiros complementares de construção do Caic, que inclui água, luz, fundação do prédio entre outras. Levarão 2 meses para iniciar a demolição do prédio, quando o projeto complementar ficar pronto”, disse a Jorge.

Josi, por sua vez,  informou que tem feito mobilização pelo Facebook e na página eletrônica do secretário. Disse que incentiva os pais a fazerem o mesmo. E declarou que, constantemente, cobra do governo.

A conselheira tutelar Ana Maria Soares falou sobre os direitos da criança de estudar próximo à sua residência e do direito ao acesso à educação. “O governo está roubando os direitos das crianças e o pouco que está fazendo é graças a essa cobrança que estamos fazendo”, declarou a conselheira.

Ela informou também que um documento registra as péssimas condições de trabalho a que os(as) professores(as) estão submetidos por essa situação e relata o sofrimento deles(as). O GDF pratica, sem nenhum constrangimento, o assédio moral contra o corpo docente e discente do Caic Castelo Branco há um ano. Salientou ainda a importância da educação pública.

Letícia Montandon, diretora do Sinpro-DF, afirmou que o sindicato tem dado todo o suporte e apoio desde a interdição e cobra, em todas as reuniões de negociação com o governo, alguma solução. O sindicato tem reivindicado ao GDF levar o Caic para outro lugar provisório, com melhores condições de trabalho e maior proximidade da comunidade até que seja construída a nova escola.

“O que não permitiremos é o fim de uma escola pública por falta de planejamento e descaso das gestões que poderiam ter evitado isso ou que agora podem dar alguma solução”, disse Letícia. Uma nova reunião com o governo está prevista para o dia 12 de junho. “Cobraremos um cronograma de obras”, disse a diretora do Sinpro-DF.