Após luta da comunidade escolar, GDF suspende, por tempo indeterminado, retorno das aulas presenciais

Vitória da vida. Depois de muita pressão dos(as) trabalhadores(as) do magistério público, estudantes e mães, pais e responsáveis, o governador Ibaneis Rocha (MDB) decidiu suspender, por tempo indeterminado, o retorno das aulas presenciais na rede pública de ensino na manhã desta quarta-feira (19). Se o Governo do Distrito Federal (GDF) não agisse assim, correria o risco de transformar a capital do País no epicentro epidemiológico do mundo.
 
Diante dos números subnotificados da Covid-19, a diretoria colegiada do Sinpro-DF vê como única alternativa do governador a suspensão. Milhares de vidas foram poupadas com a mudança de posição do governo ao atender o pleito da comunidade escolar, que tem lutado, por meio das várias campanhas do sindicato, contra o retorno das aulas presenciais previsto para ocorrer a partir de 31 de agosto, em pleno agravamento da pandemia do novo coronavírus no Distrito Federal.
 
A decisão do governo é resultado do empenho do Sinpro-DF, que tem mostrado, insistentemente, a impossibilidade desse retorno por causa de dezenas de fatores, sobretudo, pela aceleração diária e descontrolada da pandemia da Covid-19 na capital do País, que tem batido sucessivos recordes em relação a outras unidades da Federação e a outros países a ponto de chegar, à tarde desta quarta-feira, com a triste marca de 2.129 óbitos pela Covid-19 e 140.539 (mil) contaminados. O retorno das aulas presenciais significaria aumentar muito mais esses números.

Luta da vida contra a morte
“Não falamos que tivemos uma vitória porque estamos numa luta da vida contra a morte literalmente. A gente pensa, às vezes, que obtivemos uma vitória, mas quem está vencendo todas as batalhas, neste momento, é a pandemia, que continua em alta no DF. Antes de mais nada, o Sinpro-DF se solidariza com todas as famílias do DF, e, principalmente, da categoria do magistério público, que perderam alguém querido, especialmente com os colegas professora(as) e orientadores(s) educacionais”, afirma Rosilene Corrêa, diretora do Sinpro-DF.

A diretoria colegiada agradece o empenho da comunidade escolar – gestores(as), professores(as), orientadores(as) educacionais, estudantes, mães, pais e responsáveis –, que dedicaram tempo às campanhas do sindicato, se manifestando, para, realmente, assegurar essa mudança de decisão do governo. Lembra que a entidade fez todo um esforço, com várias campanhas, especialmente para alertar a população do risco que ela estaria se submetendo se apoiasse o retorno das aulas agora, no dia 31 de agosto, e alerta, no entanto, para outros problemas relacionados à pandemia que precisam ser resolvidos imediatamente.

“Primeiramente, temos de dizer que essa decisão já era esperada porque, como a gente vem insistindo, a situação do DF já apontava para isso. O que se poderia esperar de um governador era que tivesse mesmo uma atitude de responsabilidade com a população do DF. Com isso, muitas famílias e trabalhadores ficarão mais calmos, porém não mais seguros. E aí vai o apelo da gente à população que continue com o empenho de sair de casa apenas se for extremamente necessário”, observa.

Aulas remotas e exclusão educacional
Outros problemas decorrentes da pandemia são apontados pelo Sinpro-DF. Um deles, tão urgente quanto a suspensão das aulas por tempo indeterminado, é a exclusão educacional que ocorre em decorrência da pandemia. As aulas remotas estão acontecendo, mas há uma parcela muito grande de estudantes que não está conseguindo acessá-las. Não consegue e não conseguirá se o governo não cumprir sua parte de providenciar as condições e prover os excluídos das aulas virtuais com equipamentos (tables ou celulares ou computadores etc.), especialmente a banda larga, que se comprometeu a disponibilizar e já tem 1 mês e não aconteceu.

Além de assegurar o direito à educação a essa parcela grande de estudantes sem acesso às aulas remotas, a conexão desses estudantes ofertada pelo GDF irá impedir outras formas de contaminação e até morte em gestores(as) e outros(as) servidores(as) que têm tido de comparecer presencialmente às escolas para entrega de materiais impressos e outras atividades. A diretoria colegiada do Sinpro-DF tem alertado sobre o risco de contaminação e cobrado do GDF a suspensão de todo e qualquer tipo de atendimento presencial nas escolas.

Enquanto isso, os(as) gestores(as) continuam expostos ao risco de contaminação e morte por Covid-19 ao prestarem serviços presenciais. “Não é somente a suspensão por tempo indeterminado dos estudantes, mas também dos(as) gestores(as) e outros(as) servidores(as) que têm tido a obrigação de comparecerem às escolas para cumprirem tarefas presenciais”, afirma. No entendimento da diretoria, a realidade do DF, infelizmente, é que, agora, as aulas serão remotas e, com a decisão desta quarta-feira, foi instituída uma escola virtual que deverá demorar mais tempo do que o que se esperava. Isso obriga o governo a tomar medidas que ele ainda não cumpriu, embora seja de sua responsabilidade, como é o caso de fornecer Internet e equipamentos de informática para estudantes carentes para que os prejuízos sejam menores.

Teletrabalho extrapola jornada diária
Outro problema que precisa ser resolvido, urgentemente, é a jornada de trabalho da categoria. A diretoria observa que, hoje os(as) professores(as) estão com uma carga horária maior do que a de costume, sobrecarregados, há muitas incertezas porque é tudo muito novo, portanto, é preciso, imediatamente, definir regras para esse tipo de prestação de serviço que está fora daquilo que estava previsto para a nossa atuação.

No entendimento da diretoria, é preciso iniciar, de imediato, o debate pedagógico, repensar e reorganizar, urgentemente, os conteúdos ministrados e pensar, imediatamente, numa proposta curricular para recuperar os prejuízos que os estudantes estão sofrendo este ano para que tão logo seja possível o retorno presencial a gente já tenha também uma proposta pedagógica que possa atender.

Ela observa que é preciso ressignificar os conteúdos e promover uma adequação curricular. “Diante disso, já solicitamos, no contato que ele fez com o Sinpro-DF, na manhã desta quarta-feira (19), para anunciar a decisão do governador, o início do debate pedagógico. Vamos imaginar que em 2021 a pandemia esteja absolutamente sob controle, que tenha vacina, mas não podemos ignorar todos os prejuízos causados pela Covid-19 na vida escolar dos nossos estudantes”, alerta.