América Latina foi a única região do mundo que construiu governo de esquerda, diz Emir Sader
A América Latina protagonizou neste século uma referência histórica mundial da esquerda, foi a única região do mundo que construiu um governo não liberal.
A opinião é do sociólogo e cientista político, Emir Sader, que participou na tarde desta quinta, 8, do seminário Educação e o Mundo do trabalho da secretaria de Formação da CUT, em Florianópolis.
“O governo neoliberal da Argentina privatizou o petróleo, foi uma tragédia e um retrocesso sem tamanho. Só com a eleição de Hugo Chaves, Lula, Evo Morales e Rafael Correa que houve prioridade nas políticas sociais. A América Latina é o continente mais desigual do mundo, porém foi priorizada por estes governos”, ressaltou.
Na avaliação de Emir Sader, faltou, porém, resolver os problemas que ele considera importantes, como a hegemonia do capital financeiro. “Qual é o setor hegemônico atual, é o setor financeiro. É o setor financeiro que vive do endividamento de governo, das pessoas. Veja o exemplo do Banco Itaú”.
“Permitimos também que elegessem um Congresso pior que os anos anteriores”, continua. “Tem lobby da educação privada e não tem para defender a educação pública, o SUS (Sistema Único de Saúde), as mulheres, os negros”, sinaliza.
O sociólogo lembra ainda que a hegemonia do governo neoliberal é o setor de mercado, que “transforma tudo em mercadoria”. “É um modelo que tudo tem preço e é nesse marco que a América Latina sofreu um grande retrocesso. A subida brutal da taxa de juros fez com que esses países vivessem numa recessão”, finalizou.
Sader lançou no final do evento o seu livro “O Brasil que queremos” e dialogou com militantes, educadores e sindicalistas.
Dando continuidade à atividade na parte da tarde, o secretário de Relações Internacionais da CUT, Antônio Lisboa e Amanda Villatoro, secretária de Política Sindical da CSA, fizeram um panorama sobre as perspectivas da educação na América Latina.
“É importante reconhecer os desafios, reconstruir juntos e enfrentar a que a conjuntura nos apresenta. Na formação sindical temos que fazer um debate como este aqui que busca mostrar elaboração de estratégias. Para todas as companheiras das organizações da América Latina e do Caribe, devo dizer que a educação é um direito”, afirmou Amanda.
Para Lisboa, o avanço da direita na América Latina destruirá as conquistas sociais na educação. Ele cita ainda que o projeto de reforma do ensino médio aprovada ontem na Câmara tem o objetivo de enxugar a educação pública e privatizar.
“É importante discutirmos uma escola pública de qualidade de fato. Não podemos discutir a ampliação do acesso, sem discutir que a escola pública tenha capacidade de levar conhecimento científico paras as classes trabalhadoras. Só as novas gerações de trabalhadores para que possamos mudar a correlação de forças em nessas regiões”, realça Lisboa.
A Carta de Florianópolis
Daqui do seminário “Educação e o Mundo do Trabalho promovido pela Secretaria Nacional de Formação da CUT foi lançada a “Carta de Florianópolis” na tarde desta quinta-feira, 8. O documento, que foi construído coletivamente, aponta o posicionamento da CUT em defesa da educação.
“Esse mesmo esperançar que se soma ao amplo clamor popular, representado por inúmeras manifestações de rua da classe trabalhadora do campo e na cidade e pela ocupação de diversas escolas pelos estudantes secundaristas, universidades e institutos federais pelos estudantes universitários por todo o Brasil”, diz o trecho da carta.
O encontro também celebrou os 20 anos de educação integral da Central que tem servido como um espaço de construção e resistência dos trabalhadores nos últimos anos.
Para encerrar com chave de ouro, a atividade que começou na Praça de diálogo de Paulo Freire terminou numa roda de emoção onde foi plantada uma muda de árvore como símbolo de tudo que foi discutido durante o seminário.
Com informações da CUT