Alimentação saudável nas escolas é chave para frear obesidade infantil, aponta CNTE

Os índices de obesidade entre crianças e adolescentes brasileiros chamam atenção e acendem um alerta sobre os hábitos alimentares no país. Estudo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), de setembro de 2025, revela que, enquanto a desnutrição caiu de 13% para 9,2% entre 2000 e 2025, o número de crianças com sobrepeso no Brasil saltou de 5% para 36%.
Para a Secretária de Saúde da CNTE, Francisca Pereira, esses números estão diretamente ligados à transformação dos padrões alimentares e à falta de atividade física.
“O alto consumo de alimentos ultraprocessados é o que causa a obesidade e o sobrepeso, aliados à baixa atividade física”, afirmou. Ela destaca que a luta da entidade é para garantir “comida de verdade nas escolas” e incluir também os professores nas refeições, como parte de um processo pedagógico que ensina, na prática, a importância de uma alimentação equilibrada.
A secretária defende uma educação integral que contemple alimentação saudável e prática esportiva, lembrando que o governo federal tem incentivado a compra de produtos da agricultura familiar — alimentos in natura e com menos agrotóxicos —, reduzindo a presença dos ultraprocessados no cardápio escolar. Relatórios internacionais, como o “Alimentando o Lucro”, do UNICEF, reforçam a necessidade de políticas públicas que assegurem dietas nutritivas e adequadas para crianças e adolescentes.
Entre as ações prioritárias, ela aponta a importância de desenvolver intervenções que estimulem a amamentação, a alimentação complementar saudável e a prevenção do excesso de peso desde os primeiros anos de vida. Além disso, defende a rotulagem clara dos alimentos industrializados, com destaque para a quantidade de sódio, açúcares e gorduras, para que a população entenda melhor o que consome.
No entanto, ressalta que informação não basta: é necessário garantir preços acessíveis para os alimentos saudáveis, o que depende de incentivos à agricultura familiar e de uma reforma agrária que fortaleça os trabalhadores rurais.
“Sem merenda, não há quem aprenda”
A retomada do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) também é vista como fundamental para melhorar o desenvolvimento infantil, fortalecer a produção agrícola local e diminuir o consumo de ultraprocessados. “Como diria Gonzaguinha: ‘Sem merenda não há quem aprenda’”, lembrou a secretária. Para isso, a Lei da Alimentação Escolar (Lei 11.947/2009) precisa ser efetivamente cumprida, garantindo refeições de qualidade para todos os alunos da rede pública.
A CNTE apoia a inclusão de projetos de alimentação saudável nos currículos escolares, com autonomia para que as escolas adaptem suas práticas de acordo com a realidade local.
Segundo a secretária, a integração entre escola, professores e famílias é essencial para mudar hábitos. “São as famílias de maior vulnerabilidade que enfrentam mais dificuldades no acesso a alimentos saudáveis, porque são mais caros, enquanto os ultraprocessados são mais baratos. Isso agrava o problema do sobrepeso e da obesidade”, destacou.
Para enfrentar as desigualdades regionais e socioeconômicas, ela defende investimentos em infraestrutura e logística que permitam o escoamento adequado de alimentos frescos, além de campanhas nacionais de educação alimentar e regulamentação da publicidade dirigida a crianças. “É necessário criar infraestrutura e logística adequada para o escoamento dos alimentos saudáveis, que se deterioram mais rapidamente justamente por serem naturais”, explicou.
Por fim, a secretária aponta que uma mudança sustentável de hábitos depende de uma forte mobilização social. “Precisamos de uma grande campanha nacional, que envolva todas as escolas de ensino básico, mostrando a importância da alimentação saudável e exigindo que as propagandas de ultraprocessados informem os malefícios causados à saúde humana por seus produtos.”
Com informações da UNICEF
Fonte: CNTE