Algumas reflexões sobre ato de professora
O Sinpro informa que está prestando assistência jurídica à professora que, em ato impensado, amordaçou um aluno porque ele se recusava a obedecer. A professora admitiu que se excedeu e lamentou ter perdido a cabeça após várias tentativas de acalmar o garoto, que é hiperativo, como a própria mãe admitiu.
Sabemos que toda sociedade, com razão, condena o fato, mas entendemos que um erro, mesmo grave, deve ser compreendido no contexto em que ocorre. O Sinpro recebe cotidianamente professores estressados, doentes, desesperados com a falta de condições de trabalho no interior das escolas. Eles se sentem sozinhos na tentativa de trabalhar o respeito e a disciplina em sala de aula.
Os professores, aliás, são os profissionais que mais sofrem com a chamada Síndrome de Burnout, uma doença profissional detectada como uma sensação de “queimar por dentro”, ansiedade proveniente da certeza de se estar “dando murro em ponta de faca”, de que por mais que você se esforce não consegue mudar a realidade das suas condições de vida e trabalho.
Esta professora, por exemplo, já havia sido atendida pelo Sinpro e toma remédios para controlar a ansiedade. Para que não ocorram casos como esse, entendemos que é urgente que a Secretaria de Educação crie uma política de prevenção à saúde. Essa é uma das reivindicações mais caras aos professores, que, quando adoecem, têm que enfrentar a desconfiança da Gerência de Perícia Médica-Odontológica, que muitas vezes força o retorno para a sala de aula de colegas sem condições psicológicas para o trabalho educacional.
Pelo menos para nós que conhecemos a realidade das salas de aula no DF, mais do que ser condenada pela Justiça pelo erro que cometeu, essa professora, com 32 anos de regência de classe sem qualquer ocorrência parecida, necessita de assistência terapêutica. A direção da escola ressalta que ela sempre foi uma excelente alfabetizadora, dedicada a seus alunos. No ano passado, inclusive, uma das turmas em que ela dava aula tirou a primeira colocação em Português no exame do Siade.
Esperamos que esse episódio lamentável leve a Secretaria a entender o sinal de alerta e a buscar uma política preventiva que entende e respeite a delicadeza e a peculiaridade de um trabalho como o realizado pela nossa categoria. E que a sociedade reflita também sobre a parcela de responsabilidade das famílias em ensinar a necessidade de disciplina e respeito por parte dos nossos filhos.