Para especialistas, reforma não leva em conta questões fiscais e demográficas
“A reforma aumenta a desigualdade social e dificulta o acesso à aposentadoria”, esse foi o parecer unânime da mesa ‘Contexto e motivação da Previdência Social’ do Seminário da CUT Brasília em parceira com o Dieese. O coordenador do IPEA, André Calixtre, analisou que, levando em conta o alto índice do trabalho informal no Brasil, que gira em torno de 40%, será difícil que os trabalhadores cheguem aos 65 anos com 25 anos de contribuição.
Outro ponto destacado por Calixtre foi a respeito do crescimento da população idosa no país. Ele pontuou que à medida que cresce a despesa do governo com esse grupo, decrescem os gastos em outros setores, o que não é disposto nas contas governamentais. “Faz-se um cenário apocalíptico a respeito e estabelecem a reforma como solução. O cidadão que viveu na informalidade, geralmente o mais pobre, não terá acesso ao benefício previdenciário. É uma das propostas mais duras que já vi”, afirmou.
Já o pesquisador do IBGE, Miguel Bruno aponta o crescimento da financeirização e do neoliberalismo como dois pontos prejudiciais para a atual conjuntura. Para ele, a PEC 55, conjugada com a PEC 287, materializam o sonho liberal-monetarista. “O discurso de crise é falácia dos políticos. Quanto maior a presença do Estado nos gastos públicos, menor os lucros para o setor privado. A saída é recuperar o caráter público do Estado para que volte a trabalhar a favor da sociedade”, disse.
A senadora Gleisi Hoffmann (PT/PR) esteve presente ao evento e enfatizou a intensa participação das mulheres, maiores prejudicadas, na luta para barrar a PEC 287, se reportando aos atos do 8 de março. Ela ressaltou o trabalho realizado pela Central Única dos Trabalhadores no esforço de informar a população e desenvolver a unidade contra os ataques engendrados para a retirada de direitos. Gleisi alerta que a grande mídia se esforça em vender o discurso de que os governos anteriores estouraram as contas públicas e que por isso a reforma se faz necessária. No entanto, ela ressalta que não existe rombo nas contas, mas sim, uma crise conjuntural. “O papel que temos, tanto na Câmara como no Senado, é de enfrentamento e não há negociação. Estamos ali para fazer transição e ser interlocutores dos movimentos sociais. A solução para a atual conjuntura não está em cortar despesas, mas, sim, em recuperar a economia”, afirmou.
O debate sobre o tema continua com a mesa ““PEC 287: regras de acesso aos benefícios e seu valor”.