Educação é eixo estratégico para o combate às mudanças climáticas

Em 2024, mais de 1,17 milhão de estudantes brasileiros ficaram sem aulas por causa de enchentes e secas, segundo relatório da Unicef. Se a crise climática ameaça o direito à educação, a própria educação pode ser uma das chaves para reverter esse cenário. Foi o que apontou o debate “COP 30 e Educação”, realizado pelo Sinpro nessa terça-feira (28/10).

O encontro aconteceu em um momento em que líderes mundiais, cientistas, organizações não governamentais e representantes da sociedade civil se preparam para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), em Belém.

Para as lideranças que contribuíram para o debate, mudanças estruturais relacionadas ao tema passam, necessariamente, pela sala de aula.  Além de formar cidadãos com senso crítico, a educação constitui gerações capazes de compreender, agir e propor soluções sustentáveis.

Segundo Igor Gonçalves, membro do Movimento Vida e Água para as ARIS, a educação se apresenta também como pilar estratégico para combater o negacionismo climático e democratizar a discussão sobre o tema.  Ele lembrou que a Universidade de Brasília (UnB) incluiu nos editais do vestibular e do Programa de Avaliação Seriada (PAS) conteúdos relacionados ao efeito estufa — o que estimulou as escolas a discutirem o assunto com mais ênfase.

“A partir do momento em que a sociedade consegue interpretar o que é o fenômeno físico, a gente pode começar a entender o problema, problematizar o problema e buscar soluções para ele. Então, a educação é estratégica para enfrentarmos esse desafio, que talvez seja o maior desafio da humanidade do século 21”, disse Igor.

Já o diretor do Sinpro Fernando Augusto trouxe como exemplo a China, que integra a educação climática desde os anos iniciais, com políticas que articulam escola, comunidade e governo na formação ambiental das crianças.

“Uma educação para a preservação, para conscientização sobre o meio ambiente, sobre a transição justa, vai fazer com que as próximas gerações cresçam nativas dentro desse conceito. Se toda a sociedade tiver essa consciência, pautas ambientais poderão avançar em projetos políticos e mobilizar a participação coletiva na luta por justiça climática”, disse o dirigente sindical.

Ensino em risco

O secretário de Meio Ambiente da CUT-DF (Central Única dos Trabalhadores do DF) e ex-diretor do Sinpro, Henrique Torres, apresentou dados que evidenciam os impactos da crise climática para estudantes, educadores(as) e demais pessoas que vivenciam as escolas todos os dias.

De acordo com artigo produzido pelo Centro sobre a Criança em Desenvolvimento da Universidade de Harvard (EUA), publicado em julho de 2024, as perdas de aprendizagem nos Estados Unidos aumentaram em até 50% quando as temperaturas em dias letivos ficavam acima de 38°C, em comparação com dias acima de 32°C.

No DF, apesar de não haver dados concretos sobre os efeitos das mudanças climáticas, estudantes, professores(as) e orientadores(as) educacionais têm sentido na rotina escolar os impactos da seca, do calor extremo e das chuvas intensas.

Em 2024, por exemplo, as aulas de educação física foram suspensas nas escolas públicas devido à seca. O problema se agrava ao ter como cenário o problema de infraestrutura das unidades escolares que, sem investimento, são marcadas por salas de aula sem climatização ou mesmo ventilação adequada. 

Segundo dados do Instituto Unibanco com base no Censo Escolar 2023, mais da metade das escolas públicas não têm quadra coberta. No DF, um estudo identificou que 23% das escolas de Ensino Fundamental ainda não contam com quadra poliesportiva, o que indica que muitas unidades podem estar sem cobertura ou com quadra descoberta.

“Os dados mostram que é um tema urgente e que precisa ser encarado como uma pauta central de toda a sociedade. As mudanças climáticas impactam diretamente o cotidiano escolar e as condições de trabalho de várias categorias. Por isso, não é um problema isolado, é uma questão que exige uma resposta coletiva. Enfrentar a crise climática é defender a educação, os trabalhadores e o futuro do país”, disse Henrique Torres.

Luta antiga

O secretário de Relações Internacionais da CUT, Antonio Lisboa, fez um resgate da trajetória dos debates climáticos e da participação ativa do movimento sindical nas discussões sobre o tema. Ele lembrou que, desde sua fundação, a CUT tem denunciado o modelo econômico baseado na exploração de trabalhadores e da natureza, e defendido uma transição energética justa — com emprego, renda e sustentabilidade.

Segundo Lisboa, a educação tem papel central nesse processo, pois é por meio dela que a sociedade compreenderá a dimensão da crise climática e seus impactos sobre o trabalho e a vida cotidiana. “Precisamos entender como esses efeitos estão chegando às escolas e o que deve ser feito para mitigá-los. Os trabalhadores da educação precisam estar no centro das soluções e das estratégias coletivas de enfrentamento da crise climática”, afirmou.

A COP 30

A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30) é um encontro global anual onde líderes mundiais, cientistas, organizações não governamentais e representantes da sociedade civil discutem ações para combater as mudanças do clima. O evento é considerado um dos principais eventos do tema no mundo e, este ano, será realizado de 10 a 21 de novembro, em Belém.

Entre os temas que serão debatidos no encontro estão a redução de emissões de gases de efeito estufa, a adaptação às mudanças climáticas, o financiamento climático para países em desenvolvimento, a preservação de florestas e biodiversidade, justiça climática e outras.

 

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Edição Vanessa Galassi