Educação e militarização: Seminário abre campanha sobre o assunto
“Estamos presenciando o avanço do projeto político da militarização da educação, e por isso precisamos retomar o debate, com formação continuada dentro e fora das escolas”.
A fala é da diretora do Sinpro Ana Bonina, e abriu o Seminário Educar Não é Militarizar, realizado segunda (22/9), como iniciativa do Sinpro. Segundo a dirigente sindical, a atividade “é o pontapé inicial de uma campanha permanente contra a militarização das escolas”.
O seminário abordou temas diversos sobre a militarização e trouxe novas perspectivas para fortalecer a luta contra a escalada do modelo de gestão escolar cívico-militar no DF. A incompatibilidade entre os princípios da educação e militarismo, a realidade objetiva das escolas militarizadas, as formas e os processos de militarização em curso estão entre os temas debatidos no encontro. Os assuntos serão abordados em matérias publicadas periodicamente no site e redes do Sinpro. A professora Catarina de Almeida Santos e o professor da rede pública de ensino Alexandre Marinho Pimenta realizaram as discussões.
Para Ana Bonina, são urgentes as discussões sobre o tema, tendo em vista que a militarização representa apenas parte do projeto político de destruição do modelo de escola pública que o Sinpro defende: uma escola que acolhe todas as diversidades de forma digna.
“Os princípios do militarismo vão contra o que acreditamos e defendemos como escola pública. Além disso, a militarização não ataca a raiz do problema e a causa estrutural da crise educacional, que é a falta de investimento. Ela é a impossibilidade de termos um currículo emancipador, uma formação crítica, que questione os privilégios. Por isso, seguiremos em luta para impedir que o modelo avance”, disse.

O diretor do Sinpro Herbert Anjos lembrou que, desde 2019, mais de 20 escolas foram militarizadas no DF, com maior concentração nas regiões de Taguatinga, Samambaia e Núcleo Bandeirante. Para o sindicalista, o avanço do modelo precisa ser enfrentado.
“A militarização enfraquece as escolas públicas, a gestão democrática e a autonomia pedagógica. Precisamos construir alternativas para enfrentar esse processo. A chamada gestão compartilhada, na prática, transforma a escola em um espaço engessado e controlado, que limita a participação de professores, estudantes e da comunidade, prejudicando a qualidade do ensino”, disse.
De acordo com a diretora da Confederação dos Trabalhadores em Educação (CNTE) Rosilene Corrêa, o DF vivencia a implementação de uma política ultraliberal, o que tem apresentado impactos na educação.
“Não combina investimento na educação com um governo liberal. A sociedade que quero ter é baseada na educação que vou oferecer. Esse problema (militarização) não é só no DF. Outros estados têm avançado no modelo. O nosso papel é resistir a essas medidas, promover o debate público e lutar por uma educação democrática, inclusiva e de qualidade para todos”, afirmou Rosilene.
Carta aberta
No DF, a militarização foi implementada de forma unilateral em 2019 — via decreto do governador Ibaneis Rocha, sem qualquer debate com a comunidade escolar ou com o Sinpro.
À época, após comunidades escolares de duas escolas públicas rejeitarem a militarização por meio de votação, o governador chegou a afirmar: “Quem governa sou eu. Os que estiverem insatisfeitos com a gestão compartilhada busquem a Justiça”.
Diante da imposição de um projeto letal à educação crítica e emancipadora, recentemente, ex-professores(as) e ex-integrantes da equipe de direção do Centro de Ensino Médio 417 de Santa Maria lançaram uma carta pública alertando sobre os problemas do modelo de gestão e a urgência de unidade contra seu avanço.