Memórias e legados marcam os 104 anos do nascimento de Paulo Freire

Nesta sexta-feira (19), o Brasil comemora os 104 de nascimento do Patrono da Educação Brasileira, Paulo Reglus Neves Freire (1921 1997). O educador e filósofo nasceu em Recife, Pernambuco, oriundo de família de classe média baixa.  Era o caçula entre cinco filhos do casal Joaquim Temístocles Freire e Edeltrudes Neves, que residiam no bairro da Casa Amarela. Um marco na história da educação no Brasil e no mundo, foi perseguido e exilado nos primeiros momentos da ditadura militar no país, e só retornou no ano de 1980.

Andou pelo mundo deixando sua influência e seu método na educação de vários países e repercute fortemente até hoje. Freire esteve várias vezes em Brasília e sua presença moldou iniciativas educacionais que persistem até hoje em escolas, como, por exemplo, no Centro de Educação Paulo Freire de Ceilândia (Cepafre).

Projeto‑piloto de alfabetização (1963‑1964)

Em junho de 1963, Paulo Freire desembarcou em Brasília para chefiar a Comissão de Cultura Popular, nomeado pelo Ministério da Educação (MEC), com o objetivo de implantar na capital o sistema de alfabetização que levava seu nome. Nesse período, foi criado o projeto‑piloto no Distrito Federal, com círculos de cultura realizados à noite, sob supervisão de coordenadores(as) que trabalhavam diretamente com comunidades locais.

Retorno após exílio e seminários nos anos 1980

Após o exílio, Freire voltou a Brasília em agosto de 1980 para participar da 28ª Assembleia da Confederação Mundial das Organizações de Professores (CMOPE), quando discursou no Hotel Nacional e defendeu uma educação libertadora. Em 1981, ele voltou à participação em seminários na Universidade de Brasília (UnB), coordenados por vários(as) professores(as), como Venício Artur de Lima, sobre temas como Educação Popular e Sistemas Não Formais.

Em abril de 1982, ainda em Brasília, houve  o seminário “Paulo Freire e a educação brasileira”, com debates e exposição fotográfica, organizada pela Frente Cultural de Brasília e pelo Movimento Candango de Dinamização Cultural (CUCA).

Homenagens e memória viva

Em Ceilândia (DF), foi instalada uma placa no Restaurante Comunitário, no local onde antes ficava o “Quarentão”, relembrando a presença de Paulo Freire há cerca de 25 anos, por ocasião do I Fórum Permanente de Alfabetização de Jovens e Adultos.

A exposição virtual “Paulo Freire em Brasília: tessitura de uma educação emancipadora”, realizada pelo Museu da Educação do Distrito Federal, apresenta fotos, documentos e relatos sobre sua atuação na capital, com visitações virtuais em salas que abordam os períodos dos anos 1960, 80 e 90.

Freire marcou para sempre a vida de Jeter Gomes

O educador popular Jeter Gomes, de perfil e à esquerda, e educador Paulo Freire. Foto: Arquivo pessoal
O educador popular Jeter Gomes, de perfil e à esquerda, e educador Paulo Freire. Foto: Arquivo pessoal

 

Em 2016, a Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) comemorou os 20 anos da Casa de Paulo Freire de Brasília, instituição dedicada à alfabetização e formação de professores em Educação de Jovens e Adultos no DF. A história do educador  popular Jeter Gomes ilustra como a influência de Paulo Freire marcou a vida e trajetória profissional de jovens e adultos em todo o Brasil.

Educador popular com formação inicial em engenharia mecânica, encontrou sua verdadeira vocação ao se aprofundar na obra  de Paulo Freire. Ele conta que a leitura do livro “Educação como Prática da Liberdade” foi um marco, fazendo-o perceber que sua inclinação natural para a pedagogia, manifestada ao ajudar colegas de estudo, era, na verdade, um chamado para a carreira de educador.

Essa epifania o levou a propor um projeto de alfabetização para sua cidade natal, inspirado diretamente nas ideias freirianas. A iniciativa inicial culminou em um encontro histórico com o próprio Paulo Freire em 1980. Durante um evento no Rio de Janeiro, Jeter teve a oportunidade de apresentar sua ideia ao educador, que o encorajou, oferecendo apoio e abrindo as portas para um diálogo mais aprofundado em São Paulo.

Essa aproximação inicial evoluiu para uma relação de colaboração e convivência, com Jeter reencontrando Freire diversas vezes ao longo de sua trajetória, até mesmo quando o educador era Secretário de Educação de São Paulo. A influência de Freire foi tão profunda na vida e formação de Jeter, que ele a transformou em prática política, dedicando-se à educação popular e, posteriormente, à formação da Central Única dos Trabalhadores (CUT).

A dissertação de mestrado de Jeter investigou as conexões entre a pedagogia freiriana e a política de formação sindical, reforçando a ideia de que Freire não foi apenas um educador, mas um intelectual fundamental no processo de redemocratização do Brasil. Para Jeter, a pedagogia de Freire também se entrelaça na luta sindical, pois sua filosofia de diálogo e libertação guiou a formação de uma população autônoma e consciente.