Agosto de Lutas: desgosto é não lutar – Por Heleno Araújo

notice

A cultura popular costuma falar de agosto como o mês do desgosto, sugerindo acontecimentos negativos e muitos mal-entendidos para essa época do ano. Essa percepção com o oitavo mês do nosso calendário gregoriano remonta a Antiguidade e tem suas origens ligadas a fatores astrológicos ou mesmo climáticos. A energia do signo de Leão, horóscopo preponderante no mês, dá a entender que a sua força e potência podem, não raro, afetar o equilíbrio da “energia” do momento. Ou porque em muitas regiões do mundo, trata-se de um período de extremos climáticos, com ondas de calor muito fortes ou temporadas de furacões e tempestades.

Dizem até que as agendas de casamentos das igrejas encontram nesse mês o seu período com mais espaços livres, tamanha a implicância com o agosto. Mas independentemente de todas as superstições e mesmo de eventos que corroborem com essa sensação ruim que impregnou, e não de agora, a nossa sensação com o mês nomeado em homenagem e honra ao imperador romano César Augusto, nesse nosso Brasil do ano de 2025, o mês de agosto será de muita luta.

E isso também não vem de agora. Para nós do campo da educação, esse é um mês de datas comemorativas importantes no calendário educacional brasileiro: no dia 06 de agosto, por exemplo, comemoramos o Dia Nacional dos Profissionais da Educação. Instituído em 2014 pela Presidenta Dilma Rousseff, é nesse dia que homenageamos todos os profissionais que, dentro do chão da escola, fazem o processo educacional acontecer. Do porteiro à merendeira, da professora à diretora da escola, todas e todos somos educadores/as. Trata-se, sobretudo, de um reconhecimento histórico à luta do movimento sindical educacional brasileiro que, do Brasil, pautou o mundo todo. Se hoje globalmente reconhecemos o papel valoroso dos/as funcionários/as da educação, colocando-os/as no mesmo patamar de quem exerce o magistério, é porque essa foi uma pauta política empreendida pelo nosso movimento sindical de educadores/as, em especial a nossa Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação – CNTE.

E para esse dia 06 de agosto estamos chamando um Ato Nacional em Brasília, em frente ao MEC, para apresentar o conjunto de nossas reivindicações de valorização dos/as profissionais a educação. É urgente que nos façamos ouvir nesses tempos de incremento descomunal dos processos de terceirização, mercantilização e privatização em nossas escolas. Nesse dia também, a nossa pauta envolverá a emergência de aprovação do PL 2.531/2021, pelo fim da invisibilidade que insiste em se impor aos/às funcionários/as de nossas escolas. É fundamental reconhecermos a importância desse segmento no espaço escolar e isso só pode vir se tivermos um Piso Salarial dos Funcionários da Educação. A exemplo do que temos com os/as profissionais do magistério, mesmo que ainda hoje esse Piso seja descumprido por vários entes da nossa Federação, é fundamental avançarmos para garantir esse direito em Lei Federal.

A Aliança das Três Esferas, que reúne os/as servidores/as públicos federais, estaduais, distrital e municipais, também assumiu para esse mês de agosto um calendário com fortes mobilizações. Os/as servidores/as vêm enfrentando uma conjuntura muito difícil e desafiadora, com a contumaz ameaça a nossos direitos e conquistas, o que exige atenção, mobilização, unidade e debate permanentes. No centro da discussão estarão dois temas principais que unem a agenda de todos esses segmentos do funcionalismo público brasileiro: a reforma administrativa, que voltou ao cenário político com a instalação de um grupo de trabalho (GT) na Câmara dos Deputados e promete ganhar fôlego com o fim do recesso parlamentar; e a PEC 66, articulada durante a Marcha dos Prefeitos, conhecida por muitos como a “PEC da Morte”, que propõe aplicar automaticamente as regras da reforma da Previdência de Bolsonaro-Guedes (EC 103/19) aos Estados, DF e Municípios que ainda não se adequaram a ela.

Em 11 de agosto também comemoramos o Dia do Estudante, colado às comemorações do Dia Internacional da Juventude, quando no dia 12 todos nós homenageamos essa fase da vida que sempre foi e deve ser marcada pela rebeldia e insubordinação. A educação talvez seja um dos maiores desafios de toda juventude, em toda parte do globo terrestre e época humana. A eleição de Bianca Borges no último final de semana para conduzir a União Nacional dos Estudantes (UNE), a quem saúdo pela eleição, aproveitando a oportunidade, já avisou que a mobilização pela soberania e contra o extremismo será a marca de sua gestão. No campo educacional, a UNE trabalhará duramente para combate às altas taxas de evasão dos/as estudantes das universidades e faculdades de nível superior no Brasil, propondo políticas de permanência para esse contingente importante de nossa população.

Não podemos deixar de destacar, antes de acabar esse artigo, do chamado feito pelo nosso presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Sergio Nobre, “convocando toda a classe trabalhadora e, especialmente, as bases da CUT, sindicatos e entes, nos 26 estados e DF, a organizarem e se engajarem no grande ato nacional que faremos, em 1º de agosto, pela soberania nacional e contra os ataques de Trump ao Brasil”. A luta por uma educação pública não pode nunca estar dissociada da nossa luta pela soberania desse país. A educação pública que ousamos sonhar e construir só prosperará com um Brasil livre e soberano. E sobretudo dos brasileiros e das brasileiras! Que esse mês de agosto venha com muita luta e mobilização! Sigamos firmes e fortes!

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum.

Fonte: CNTE