Toca Literária do Cerrado: o desafio da educação ambiental em meio à queimada do Parque do Riacho Fundo

O projeto lúdico de leitura de histórias e educação ambiental aconteceu para celebrar a semana do Cerrado. Mas coincidiu com uma das estiagens mais severas já enfrentadas no Distrito Federal, e concorreu com um incêndio a poucos metros do local onde foi realizado – que, por sorte, não representou perigo para nenhuma das crianças envolvidas. A Toca Literária do Cerrado, sob coordenação de Cristiane Salles, acontece de 11 a 21 de setembro deste ano no Parque do Riacho Fundo.

A Toca Literária do Cerrado é um espaço literário, lúdico, com foco no meio ambiente, para trabalhar arte, cultura e ciência com crianças de Escolas Classe (primeira etapa do Ensino Fundamental) da comunidade local, que foram visitadas e receberam convites para participarem do projeto levando suas turmas em excursão.

 

Segunda edição

O projeto está em sua segunda edição. Na estreia, foi executado na comunidade rural de Vargem Bonita. Desta vez, o espaço conta com cenografia de Alneiza Faria, e foi montado no Parque Ecológico do Riacho Fundo. A ideia inicial era atender a 10 turmas, mas o Ibram “anexou” as 12 turmas a serem atendidas por seu projeto Parque Educador à ideia da professora aposentada da SEE-DF Cristiane Salles que, ao final do projeto, recebeu 29 turmas de Escolas Classe da região do Riacho Fundo. Para isso, conseguiu apoio da Administração Regional e do Ibram, além do patrocínio da Neo Energia.

“Recebemos as crianças neste espaço lúdico, todo decorado com bichos do cerrado. Na entrada há réplicas em barro de animais do cerrado, e dentro da toca há bichinhos em pelúcia. As crianças ficam encantadas”, comemora a professora. As turmas ouvem contações de histórias de um acervo escolhido a dedo por Cristiane, com histórias que falam de meio ambiente, cerrado e preservação da natureza. Fazem um lanche-piquenique, e têm acesso a todos os livros de contações de histórias. Antes de voltarem para a escola, fazem outra tarefa, que pode ser um passeio ou uma oficina.

“Teve turma visitando o viveiro do parque. As crianças conversaram com o biólogo do viveiro, e aprenderam sobre as plantas do cerrado”, conta Cristiane. Já as turmas que visitam a Toca no fim de semana fazem trilhas e oficinas. Uma turma fez trilha acompanhada da engenheira agroflorestal Fabiana Peneireiro. Voltou pra Toca com vários exemplares de folhas do cerrado, e fez uma oficina de xilogravura com o professor Valdério Costa. Outra turma, da Escola da Natureza do Riacho Fundo, fez oficina de construção de instrumentos de percussão a partir de sucatas com o grupo Patubatê, de Fred Magalhães. As professoras aproveitaram a oficina para também aprender e ensinar as outras turmas da escola. “Foi uma grande farra”, resume a professora.

 

Educação ambiental em meio a um parque em chamas

Neste ano de 2024, a condução do projeto foi complicada pelos incêndios criminosos que assolam Brasília e 60% do território nacional. “O Parque do Riacho Fundo queimou por quatro dias, só conseguimos continuar com o projeto porque o vento levou a fumaça e o fogo para o outro lado do parque”, conta Cristiane, que garante que o evento ocorreu dentro dos padrões de segurança. “Ainda assim, 4 turmas cancelaram a participação por causa da fumaça”, lamenta.

E como é falar de conscientização ambiental para estudantes da rede pública em meio a um incêndio florestal ali do lado? “Recebemos crianças de 4 a 10 anos. A gente lê as histórias e as crianças ficam muito tristes. Algumas reclamam: “Como essas pessoas podem ser tão malvadas?”. Outras contam que pais, avós e elas mesmas sofrem com asma, estão doentes. Mas nós persistimos, e falamos com elas sobre esperança e futuro”, explica Cristiane Salles. “Foi muito desafiador esse trabalho. Celebramos a semana do cerrado em meio à seca severa e aos incêndios”.

Este fim de semana marca o encerramento dos trabalhos da toca Literária do Cerrado. Vai ter trilha até a nascente d’água do parque, com a companhia da bióloga Cláudia Franco. A seguir, para combinar com a fluidez da água da nascente, a leveza de uma aula de yoga para as crianças.

“A vida tem que ir pra sala de aula!”, diz Cristiane.

Ano que vem tem mais.