8 de janeiro: de tentativa de golpe à defesa da democracia

Presidente da CUT-DF, Rodrigo Rodrigues, durante o ato em defesa da democracia, nesse domingo (7/1/24). Foto: CUT-DF/Divulgação

 

 

Desde domingo (7), o Brasil se mobiliza para relembrar um dos momentos trágicos da sua história para não repetir: o 8 de janeiro de 2023, data em que os Poderes da República foram atacados por terroristas apoiadores(as) do governo Jair Bolsonaro (PL), derrotado nas urnas em 2022, com a conivência das polícias do Distrito Federal. O ataque tinha a pretensão de instalar nova ditadura militar no País.

Um ano depois, mais de duzentas pessoas participaram do “Ato em defesa da democracia – sem anistia para golpistas”, convocado pela Central Única dos Trabalhadores no Distrito Federal (CUT-DF) e realizado na manhã desse domingo (7), no Eixo Norte, na altura da Superquadra 208, em Brasília.

A manifestação ocorreu na véspera porque, nesta segunda-feira (8), o governo federal realiza, durante todo o dia, uma série de eventos para marcar o 1 ano do ataque aos Três Poderes. O ato público desse domingo foi uma iniciativa do conjunto de partidos de esquerda formado, sobretudo, pelo PT, PC do B, PDT, Psol, CUT-DF e também pelo Fórum de Oposição Permanente ao governo de Ibaneis Rocha (MDB).

Nos demais estados do País, as entidades sindicais, partidos políticos e movimentos sociais realizarão, nesta segunda (8), seus próprios atos públicos. Importante destacar que recentes revelações da Polícia Federal mostraram que, além de depor o presidente Lula, eleito democraticamente em 2022; fechar o Congresso Nacional  e o Supremo Tribunal Federal (STF), os(as) terroristas tinham planos de enforcar o ministro do Supremo, Alexandre de Moraes, na Praça dos Três Poderes.

Em entrevista à imprensa, o ministro do STF, Gilmar Mendes, atribuiu a Jair Bolsonaro a responsabilidade pelos ataques: “a responsabilidade política [de Bolsonaro] é inequívoca”, disse Mendes à AFP, durante uma entrevista.

O Sinpro se alinha aos(às) defensores(as) da democracia e dos direitos humanos e ressalta que minimizar a gravidade dos ataques do 8 de janeiro de 2023 é ser conivente com todo tipo de atrocidade, como os crimes praticados pela ditadura militar; o holocausto na Segunda Guerra Mundial; o genocídio dos palestinos na Faixa de Gaza, dentre muitas outras tragédias.

Como bem lembrou a biomédica Alexandra Yamaguchi em suas redes sociais: a cegueira é contagiosa. “Nos revoltamos ao pensar em como foi capaz aquela geração ter aceitado a escravidão, o holocausto, a caça às bruxas, mas quando as atrocidades e injustiças acontecem bem na nossa cara, fingimos, ainda hoje, que não é da nossa conta e aceitamos orgulhosos o mal que se escancara aos nossos corações. A cegueira é contagiosa”.

 

Ato público em Brasília

 

Rosilene Corrêa, dirigente sindical da CNTE, durante ato público em defesa da democracia nesse domingo (7/1/24). Foto: Poder 360

 

 

No ato público realizado em Brasília, dirigentes sindicais destacaram a importância da democracia e da soberania do País. O presidente da CUT-DF, Rodrigo Rodrigues, declarou que o principal objetivo do ato é relembrar o que aconteceu na Praça dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023, para, a partir da reflexão, “fortalecer a democracia” e tentar impedir que eventos semelhantes voltem a ocorrer.

 

Segundo apuração da Agência Brasil, Rodrigues disse que “houve uma tentativa de golpe de Estado por meio da desestabilização dos poderes da República, com o objetivo de inviabilizar o governo democraticamente eleito [em 2022]”. Ele lembrou também que o episódio no início do ano passado foi precedido por uma série de atos criminosos e antidemocráticos.

 

“Houve atentados no centro da capital federal, como o ataque ao prédio da Polícia Federal [em dezembro] e a tentativa de explodir uma bomba próximo ao aeroporto de Brasília. Tudo para impedir a posse do futuro presidente [Luiz Inácio Lula da Silva], eleito democraticamente, por maioria dos brasileiros. Então, acreditamos que as pessoas responsáveis, sobretudo aquelas que arquitetaram ou favoreceram este golpismo, incluindo militares, precisam ser punidos”.

 

Ex-presidente João Goulart

 

Apuração do site Poder 360 traz também o discurso, durante o ato, do filho do ex-presidente João Goulart e presidente do PCdoB no DF, João Goulart Filho, que criticou o Governo do Distrito Federal (GDF) e a Polícia Militar do Distrito Federal (PM-DF). Segundo o site, Goulart afirmou que os órgãos foram “coniventes” com os atos extremistas no 8 de janeiro em 2023.

“Aquilo que aconteceu em Brasília em 8 de janeiro do ano passado foi conivência deste governador [Ibaneis Rocha, do MDB] e destas polícias militares que não foram presas em 1964 e foram anistiadas”, afirmou. Goulart Filho também disse que a “esquerda quer a estabilidade e avanços nas lutas democráticas”: “ — Democracia sem justiça social, não é democracia”.

Vale lembrar a história e mostrar que o golpe civil-militar de 1964, que depôs o ex-presidente João Goulart do poder e durou 21 anos, foi resultado de uma conspiração realizada pelas Forças Armadas e policiais e por grupos empresariais, conservadores e fascistas da sociedade brasileira com ajuda intelectual e financeira dos Estados Unidos da América (EUA).

O golpe, aplicado entre 31 de março e 9 de abril de 1964, deu início à chamada ditadura militar, um dos períodos mais nefastos da história do País, caracterizado por censura, sequestros e execuções cometidas por agentes do governo brasileiro. Período em que as liberdades políticas foram cassadas; a democracia; eliminada; e, a soberania do País, vendida a estrangeiros.

 

Resistência e democracia

Em 2024, centenas de pessoas foram às ruas do Distrito Federal para participar do ato público não somente em memória da tragédia de 8/1/23, mas também para fortalecer a resistência a esse tipo de ataque aos Poderes constituídos. Nesse domingo (7), a defesa da democracia movimentou o Eixão do Lazer, uma atividade recreativa que ocorre, há 33 anos, nos Eixos Rodoviários Norte e Sul. Na altura da SQN 208, as várias tendas atraíram o público com vendas de camisetas, bonés, bottons e comida. O evento começou às 10h30 e se estendeu numa tenda até às 12h30, seguido de eventos culturais com músicos da cidade.

O Sinpro-DF aproveita a oportunidade para reforçar sua histórica trajetória na defesa intransigente da democracia e das liberdades individuais, de opinião e democráticas. A entidade é uma das pioneiras do País no combate a todo tipo de autoritarismo, ditaduras, fascismo e outros golpes contra o Estado e a soberania nacionais.  Forjado na luta contra a ditadura militar (1964-1985), o Sinpro combateu, desde o primeiro momento, o governo golpista de Michel Temer (MDB), entre 2016 e 2018; e esteve à frente de todas as lutas contra o governo fascista de Jair Bolsonaro (PL), entre 2019 e 2022.

O Sinpro lembra que ambos os governos trabalharam com todas as forças para enfraquecer e privatizar a educação pública brasileira, basta ver, dentre outros ataques, o que fizeram na reforma educação pública com o chamado Novo Ensino Médio. Os eventos do 8 de janeiro de 2023 devem entrar na agenda acadêmica como mais uma data trágica da história do Brasil em que o fascismo neoliberal tentou engolir a democracia e submeter o povo a nova ditadura.

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