Escolas enfrentam vandalismo e violência em todo o país

“Eles me deram murro na cabeça, chute. Eu caí no chão. E eles começaram a chutar”, diz um estudante agredido. “Como é que eles bateram em você? ‘Ah mãe, foi, eles me deram murro na cabeça, me deu chute, entendeu? Eu caí no chão. E eles começaram a chutar’”, conta Helena Dutra, mãe de um aluno agredido. O filho de Helena, um menino de 9 anos, é mais uma vítima da violência nas escolas. Ele estuda em um colégio público em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, e há uma semana apanhou de cinco colegas – só porque é gago. Sofreu lesão no ligamento do pescoço.
“A escola é um lugar aonde a gente aprende, aonde a gente manda as crianças para aprender, para ser alguém na vida”, diz a mãe. Também em Ribeirão, um adolescente de 15 anos foi atacado por outro aluno há duas semanas. Sofreu cortes na cabeça e no pescoço. O agressor foi levado para a Fundação Casa, antiga Febem. “Ah, ele queria que eu saísse do lugar dele e eu não saí. Na segunda aula ele chegou, saiu, pegou a faca e me deu uma facada”, conta a vítima.
Em um colégio em Pedregal, Goiás, o clima é de descontrole: há cadeado na porta da escola, grade na sala da coordenação. Enquanto a professora tenta dar aula, menores de idade, fora da sala, tomam cachaça com refrigerante. Com medo, os professores denunciam. “Alguns alunos se matriculam para vender drogas”, relata professor.
Em Bauru, interior de São Paulo, uma pré-escola e uma creche públicas foram depredadas. Brinquedos foram queimados e destruídos e comida e material escolar espalhados. O ataque foi obra de cinco ex-alunos de 8 a 13 anos de idade. O caso está na Justiça. Outra história aconteceu no interior de São Paulo. Rincão é uma cidadezinha de dez mil habitantes, onde a calma predomina. Mas não para uma mulher e o filho dela. “Várias vezes eu encontrei hematomas no corpo dele, ele sempre falava que caiu. Eu perguntava ‘alguém te bateu?’, mas ele sempre negava”, relata Andreia Nunes. O menino, de 12 anos, estava apanhando no caminho da escola. Os agressores eram quatro jovens com idades entre 13 e 15 anos, que cobravam para não bater nele. “Ele tinha que dar dinheiro. Se não desse, apanhava. A gente percebeu a falta de quase R$ 300”, conta a mãe.
O filho dela estuda em um colégio particular e os agressores em uma escola pública, na qual, segundo uma funcionária, um dos menores de idade já foi procurado por um traficante. O promotor sabe por quê. “Eles já apresentam envolvimento com entorpecentes, inclusive relacionado ao uso e ao tráfico”, afirma o promotor de justiça Carlos Alberto Melluso Jr. Bem perto, fica Américo Brasiliense, outra cidade pequena com o mesmo problema. Uma menina de 14 anos é a mais nova vítima. “Começaram a bater e não pararam mais. Teve uma hora que tava no chão. Uma delas pegou e me ergueu pelo cabelo, foi a parte que deu mais dor, eu falei, arrancaram meu cabelo fora”, conta a menina.
A briga foi na saída de uma escola pública. Entre as agressoras, estavam duas irmãs, de 13 e 16 anos. “Elas discutem por bobagem, por um namoradinho, por um menino, porque uma está mais bem vestida que a outra, ou porque o cabelo é mais bonito que o da outra. Elas montaram como se fosse uma gangue”, conta Laura Marsili, coordenadora do Conselho Tutelar.
Nesses dois casos os jovens agressores têm uma longa ficha de antecedentes. As duas irmãs de Américo Brasiliense são conhecidas no Conselho Tutelar. Uma delas recebeu seis advertências e a outra, onze. Já tiveram que prestar serviços à comunidade e ficaram em liberdade assistida, e não adiantou.
Os rapazes da cidade vizinha passaram, no total, 60 vezes pelo Conselho Tutelar e um deles responde a processo por tráfico de drogas. Esta semana, os quatro foram internados na Fundação Casa. As duas irmãs também. “Fatos graves, fatos gravíssimos, praticados tanto em Américo Brasiliense, como em Rincão”, diz o promotor. Uma especialista em violência alerta para a influência das drogas nas escolas e lembra que a agressividade dos filhos, normalmente, reflete o comportamento dos pais. “Eles são hostis em casa. E, paralelamente, eles também são muito permissivos. Então existe uma contradição entre às vezes agredir fisicamente o filho, e às vezes permitir com que ele faça o que bem entender”, opina Lúcia Williams.
Para as vítimas, nem a punição aos culpados é motivo de paz. “Cheguei a pensar em mudar de cidade porque a sensação de medo é horrível, uma coisa que não desejo para ninguém”, diz Andréia.
Com informações do site do Fantástico