Editorial: Orgulho de fazer parte de uma categoria de garra

Professores (as) da rede pública de ensino do Distrito Federal iniciam uma greve por tempo indeterminado no Dia do Professor: data em que deveria comemorar o magistério. Em vez de festa, a categoria vai à luta contra a redução salarial e pelo cumprimento das tabelas salariais vigentes do plano de carreira. No dia 15 de outubro, professores (as) e orientadores (as) iniciam uma greve deflagrada nessa quinta-feira (8).
Não é a primeira vez que a categoria docente deixa de comemorar o Dia do Professor para atribuir ao 15 de outubro uma carga de luta e de protestos. Mas é a primeira vez que um governador do DF reduz o valor do salário da categoria e nem sequer se preocupa com o fato de estar infringindo a Constituição Federal. Andar na ilegalidade, tornou-se uma marca da gestão neoliberal do governador Rodrigo Rollemberg.
A categoria docente não aceita retrocessos e não hesitará em transformar o Dia do Professor em data de luta. É uma categoria de garra e vai parar sem previsão de volta às salas de aula porque não admite retrocessos trabalhistas e, muito menos, a imposição de uma redução salarial injustificada, bem como o descumprimento de leis que asseguram qualidade de vida aos (às) professores (as) e orientadores (as) educacionais.
Estamos em greve porque o governo Rollemberg não pagou e se nega a pagar a tabela salarial vigente. Diferentemente do argumento veiculado na mídia, os reajustes previstos para setembro, advindos dessas tabelas, foram concedidos a partir do princípio do diálogo e da pressão das 32 categorias de servidores do Governo do Distrito Federal (GDF) em 2012.
Com essa intransigência, a atual gestão pública, no Palácio do Buriti, desrespeita um processo construído no passado, mesmo sabendo que o chefe do Poder Executivo, governador Rollemberg, também colaborou, na ocasião, para a solução dos impasses ocorridos três anos atrás, quando a categoria docente parou suas atividades por mais de um mês para que o governador de então atendesse a seu pleito salarial. Foi uma greve de 52 dias que resultou na construção do novo plano de carreira e nas tabelas salariais em vigor.
Na época, o então senador Rodrigo Rollemberg, apoiou a nossa luta e intercedeu para que o governador daquele momento aceitasse o nosso atual plano de carreira. O mesmo que ele desrespeita todos os dias. Essa ambiguidade e falta de clareza do atual governador do DF beira ao total desrespeito e descompromisso. Não se pode tratar o serviço e os servidores públicos com tamanho descaso. Essa série de ataques a nossos salários e a nossos direitos trabalhistas, desde o início do ano, revela, no mínimo, inaptidão para lidar com o dinheiro público.
No dia 24 fizemos uma paralisação de alerta ao governo. Todas as categorias realizaram uma greve de 24 horas. Houve uma imensa adesão dos servidores. Ainda assim o governo Rollemberg preferiu apostar na desmobilização e que não haveria greve por tempo indeterminado. Como afirma o secretário geral da Central Única dos Trabalhadores (CUT) Brasília, Rodrigo Rodrigues, “ao apostar na desmobilização dos servidores, o governo revela sua irresponsabilidade com os serviços públicos”.
Mas o movimento unificado está conduzindo a greve geral dos servidores públicos do DF e todas as categorias, cada uma a seu tempo, estão paralisando e aderindo ao movimento. Ou o governo negocia, apresenta propostas sérias numa mesa de negociação e respeita o sindicato e a representação das categorias ou os serviços continuarão parados. A responsabilidade pela interrupção do serviço público é do governador que não cumpre a lei e não garante o pagamento dos reajustes.
Estamos em greve porque não aceitamos ser responsabilizados pela má gestão do dinheiro público e nem pela inabilidade deste governo em gerir as contas do DF. Nossa luta é também para desmascarar esse forjado ambiente de crise financeira. Não compartilhamos dessa estratégia do quanto pior melhor.
Não reconhecemos o clima de falta de recursos no DF porque já sabemos o que vem depois disso. Já vivemos situação semelhante em outros governos neoliberais e conhecemos muito bem os discursos e os caminhos que os gestores privatistas: depois do discurso da suposta crise, adotam o discurso da saída pela privatização de direitos sociais, como a educação, a saúde entre outros.
Mais do que reduzir, inconstitucionalmente, o valor do salário, o governo revela uma voracidade incomum para atacar direitos trabalhistas garantidos em lei. Todos somos trabalhadores e temos direito ao nosso salário atualizado, condizente com nossas atividades e com o seu poder aquisitivo assegurado. Não adianta ter salário que não tem poder de compra e nem ficar com ele retido nos cofres do GDF.
Trabalhos para receber salário. E somo servidores públicos porque estudamos, investimos em um emprego digno, livre das injustiças trabalhistas cotidianas e impunes da iniciativa privada. Lutamos muito para que, pelo menos nos órgãos do Estado, os empregos fossem dignos, bem remunerados, com ingresso democrático e isonômico, ou seja, por meio do concurso público. Lutamos para o GDF estabelecer uma boa relação trabalhista com o funcionalismo.
E toda essa luta é para garantirmos na capital de nosso país serviços públicos, gratuitos, de qualidade, afinal, são serviços caros que pagamos com nossos impostos, independentemente de estarmos empregados ou desempregados.
A aprovação da greve na assembleia geral realizada na quinta-feira (8) é a demonstração da categoria que chegamos no limite. Desde o início do ano tentamos negociar. Na última rodada de negociação, em vez de se abrir ao diálogo e dar um basta nessa tensão, o governador instituiu a intolerância e a intransigência.
Para nós, professores e professoras, orientadores e orientadoras, chega. Ou negocia ou não voltaremos ao trabalho. Hoje, somos mais de 30 mil professores (as) e orientadores (as) da ativa e mais os (as) aposentados (as) com redução salarial num ano em que a inflação retoma forte o cenário econômico do país.
Confira a seguir a situação do movimento grevista nessa sexta-feira (9)
O Fórum de Defesa do Serviço Público do DF e o Movimento Unificado em Defesa do Serviço Público divulgou nota em que afirma que 17 movimentos sindicais de servidores do GDF atenderam de pronto ao chamado e estiveram presentes na assembleia de quinta-feira (8) e que funcionários do quadro das 31 administrações regionais e das 24 secretarias de Estado de Brasília aderiram à paralisação.
Entraram em greve também servidores da Saúde, do Departamento de Trânsito (Detran), do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), do Instituto Médico Legal (IML), do Na Hora, da Fundação Hemocentro de Brasília, da Defensoria Pública do DF, da Fundação Jardim Zoológico de Brasília, do Complexo Penitenciário da Papuda, do Serviço de Limpeza Urbana (SLU), dos funcionários de carreira da assistência social e do sistema socioeducativo, do Instituto de Defesa do Consumidor (Procon), do Instituto Brasília Ambiental (Ibram) e da Vigilância Sanitária.”
A Polícia Militar precisou usar gás de pimenta para conter manifestantes. De acordo com o comando da corporação, no entanto, não eram servidores. Um grupo de trabalhadores sem-terra acampado entre a Praça do Buriti e o Memorial dos Povos Indígenas queimou pneus e tomou a Via N1 em frente do Palácio do Buriti. Essas pessoas teriam incitado a violência, mas foram rapidamente contidas. Não houve prisões.
Categorias envolvidas na mobilização
Apoio a atividades da procuradoria
Assistência à educação
Assistência pública à saúde
Atividades complementares de segurança pública
Atividades culturais
Atividades de trânsito
Atividades do Hemocentro
Atividades do meio ambiente
Atividades penitenciárias
Atividades rodoviárias
Atividades de transportes urbanos
Auditoria de atividades urbanas
Auditoria de controle interno
Cirurgião-dentista
Desenvolvimento e fiscalização agropecuária
Enfermeiro
Fiscalização e inspeção de atividades urbanas
Gestão de apoio de atividades da Polícia Civil
Gestão fazendária
Gestão sustentável de resíduos sólidos
Magistério
Médica
Músico da orquestra sinfônica
Planejamento e gestão urbana e regional
Policiamento e fiscalização de trânsito
Políticas públicas e gestão governamental
Pública de assistência social
Regulação de serviços públicos
Socioeducativa
Vigilância ambiental e atenção comunitária à saúde