Professores de escolas de natureza especial defendem jornada ampliada

Professores (as) dos Centros Interescolares de Línguas (CIL), Escolas Parque e outras escolas de natureza especial decidiram, nesta sexta-feira (14), manter e defender a jornada ampliada nas unidades em que ela existe e concluíram que não cabe a algumas escolas discutirem, isoladamente da rede, a permanência ou a saída do formato da jornada ampliada porque isso traz fragilidades para a luta coletiva da categoria no Distrito Federal.
A diretoria colegiada do Sinpro-DF orienta os (as) docentes a usar o tempo da reunião com as direções das escolas, prevista para ocorrer nesta segunda-feira (17/10), nos CIL, para reestruturação da grade horária de atendimento aos (às) estudantes, enquadrando-a na jornada ampliada. No entendimento dos(as) professores que participaram da reunião, o governo criou o problema das horas residuais e deve retomar a jornada ampliada como única solução viável para desfazer esse equívoco.
Deliberaram também pela criação de um coletivo específico, no Sinpro-DF, para discutir problemas e soluções pedagógicas e trabalhistas dos Centros de Línguas. O coletivo deverá criar um documento base com uma proposta organizativa e pedagógica para esse tipo de escola especial. Há mais de 40 anos os CIL foram instalados na rede pública de ensino do DF e toda vez o DF elege governos neoliberais, tenta-se usá-los para retirar direitos conquistados pela categoria docente.
Desta vez, o governo Rodrigo Rollemberg (PSB) tenta acabar com a jornada ampliada. O Governo de Brasília encontrou uma fragilidade na grade de atendimento dos CIL e quis iniciar, por esse tipo de escola, o desmantelamento da jornada ampliada na escola pública. A fragilidade, contudo, foi criada pela própria Secretaria de Estado de Educação (SEEDF) que, nos últimos anos, obrigou professores e professoras dos CIL a utilizarem parte da carga horária em dois tipos de atendimento: o Curso de Formação Continuada (CFC) e a Atividade Pedagógica Complementar (APC).
A SEEDF quer utilizar esse argumento para impor um retorno da carga horária conhecida como 20/20, a qual já foi largamente avaliada pela categoria como prejudicial às condições de trabalho e, ao mesmo tempo, leva a comunidade escolar a ter menos horas ofertadas.
Como a escola faz um atendimento diferenciado sem a jornada ampliada, ela deixará de atender em 2 horas diárias, 10 horas semanais e 40 horas mensais a comunidade. Esse é o número de horas que a comunidade escolar perde, no diurno, quando a escola retoma um modelo de carga horária 20/20 já superado e recusado pela categoria docente.
Os (as) professores (as) dos CIL e de algumas Escolas Parque que participaram da reunião desta sexta (14) entendem que o CFC e a APC são problemas criados pelo próprio Governo de Brasília e que, como não deram certo, então, cabe ao governo Rollemberg retomar o atendimento à comunidade escola que existia anteriormente, com a grade horária normal, sem o CFC e a APC.
Cibele Chaves, professora do CIL 01, de Brasília, afirma que os (as) professores (as) não abrem mão da jornada ampliada. “Estamos contra a proposta do governo porque a gente sabe que ele pode mexer nessa questão do CFC e APC sem mexer na nossa conquista histórica que é a jornada ampliada. O professor não se recusa a dar aula e nem a cumprir sua carga completa. Nós queremos voltar a ter a carga completa de segunda a sexta. Assim, se o problema é que a CFC e a APC são consideradas horas residuais, tira-se isso: 95% dos professores dos CIL nunca quiseram isso”, afirma a professora.
Jornada ampliada e 20/20
Os (as) professores (as) não vão brigar pela manutenção do CFC e APC, mas vão lutar, juntamente com a categoria, pela manutenção da jornada ampliada. “Não há oposição, da parte dos professores, da grade estar fechada sem o CFC e a APC, mas há muita disposição de toda a rede pública de ensino em defender a jornada ampliada nas escolas de natureza especial”, diz Cláudio Antunes, coordenador de Imprensa do Sinpro-DF.
Ele informa que esse tema integrará a pauta da Assembléia Geral prevista para o dia 10 de novembro. E lembra que, historicamente, o Sinpro-DF sempre defendeu a existência, no magistério público, de um período de coordenação pedagógica maior para o (a) professor (a)  poder organizar melhor suas aulas e também para aperfeiçoar seus conhecimentos e fazer uma formação continuada. Para isso ocorrer, foi criada, em 1996, por ocasião da instalação da Escola Candanga, a jornada ampliada.
Segundo esse modelo, estudantes passariam a ter, em vez de 800 horas aulas anuais, 1.000 horas e, a aula que antes tinha apenas 4 horas passa a ter 5 horas. Para o (a) professor (a), em vez de dar aula de manhã e de tarde, ele e ela, que atuam no diurno, passaram a ter a regência toda concentrada em um único turno, ou seja, em um turno ele trabalha 25 horas em regência, e no contraturno, trabalha 15 horas em coordenação.
Assim o (a) estudante passou a ter o ganho de uma hora a mais de aula, 200 horas anuais, e, o(a) professor (a), obteve outro ganho na sua organização porque houve redução do número de estudantes em algumas disciplinas, principalmente em Atividades, que diminuiu em 50% o número de estudantes atendidos (as) e permitiu, assim, que as escolas organizassem coordenações pedagógicas coletivas.
No sistema de 20/20, cada um coordena num determinado dia da semana. Na jornada ampliada há uma possibilidade enriquecedora de haver uma coordenação coletiva e efetiva alinhado com o projeto político-pedagógico da escola. Não é à toa que as escolas públicas do Distrito Federal são escolas de excelência, como é o caso dos CIL.
A outra vantagem da jornada ampliada é que ela abre tempo na grade horária do (a) professor (a) para formação continuada. Dessa forma, podem desenvolvem oficinas, workshops e outras atividades no horário da coordenação. A quarta-feira, por exemplo, é um dia referencial das coordenações pedagógicas porque, a partir da jornada ampliada, foi um dia escolhido pela categoria para realizar determinadas atividades e planejamentos escolares.
“O fim da jornada ampliada seria uma economia no número de professores, embora a SEEDF negue que haveria devolução de professores, o fim da jornada ampliada significa sim uma necessidade menor de professores, diminuição de carga horária e de atendimento a estudantes, mesmo em comunidades que prestam serviços especializados, como os CIL e demais escolas de natureza especial”, afirma o diretor do Sinpro.
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