Vandalismo na Prainha: basta de racismo religioso!

No início da noite da quinta-feira, 26, a estátua de Ogum, na Praça dos Orixás, foi encontrada destruída. A imagem foi derrubada do pedestal e desfeita em cinzas. Sua cabeça foi arrancada e pendurada em uma das árvores próximas.

Na manhã desta sexta, 27, lideranças dos povos tradicionais de matriz africana se reuniram no local para um ato contra o racismo, denunciando os sucessivos ataques às imagens da Praça dos Orixás, ocorridos desde a sua inauguração, em 2000. Também exigiram das autoridades providências para revitalização do espaço: uma luta que já dura mais de 10 anos.

O secretário de cultura do Governo do Distrito Federal, Bartolomeu Rodrigues, e a administradora do Plano Piloto, Ilka Teodoro, estiveram presentes. Também participou da atividade Mãe Baiana, uma das principais lideranças do candomblé em Brasília, e coordenadora de Políticas de Promoção e Proteção da Diversidade Religiosa do Governo do Distrito Federal (GDF).

O secretário se comprometeu com a revitalização da Prainha, e a Administração Regional do Plano Piloto emitiu nota de repúdio assumindo o mesmo compromisso e lamentando o ato de violência. “A Administração Regional reforça seu compromisso com a preservação dos espaços culturais na cidade e informa que já está tomando as devidas providências para restauração do local, incluindo a reposição das imagens, e para impedir que estes atos de vandalismo e intolerância religiosa se repitam”, diz o texto.

Para Márcia Gilda, diretora da Secretaria de Raça e Sexualidade do Sinpro-DF, o vandalismo contra a estátua de Ogum não reflete intolerância religiosa, mas sim, racismo religioso. “São resquícios de uma sociedade escravocrata, que tentou embranquecer o país e, nesse processo, estabelecer o cristianismo como religião oficial”, pontua Márcia. “Embora sejamos um país laico, hoje, com as representações políticas que temos – racistas, violentas e preconceituosas -, seus seguidores se sentem empoderados a cometer esses atos de violência, como a invasão de terreiros e destruição de imagens”, finaliza.

A Prainha foi declarada patrimônio imaterial do DF em 2018, por decisão unânime do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural do Distrito Federal (Condepac). É inadmissível que ataques como esse continuem acontecendo sem que o governo garanta a manutenção, a segurança e os devidos cuidados com o espaço.

Mais do que nunca, é preciso reforçar os programas de educação para as relações étnico-raciais, em consonância com a Lei 10.639 de 2003, que altera o artigo 26-A da LDB e estabelece o ensino da cultura e história africana nas escolas, de forma transversal. Tal medida é fundamental para desmitificar as tradições de matriz africana e ampliar a compreensão da importância da ancestralidade negra na construção do Brasil.

Fotos: Daniel Garcia

 
 

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