Trump ataca Pix por interesse bilionário em favor dos EUA contra os brasileiros

Os ataques do presidente dos EUA, Donald Trump ao Pix tem como pano de fundo a perda de bilhões que as empresas Visa e Mastercard deixam de arrecadar ao serem substituídas pelo sistema utilizado no Brasil

Mas neste ano o ataque ao Pix pelo governo norte-americano aumentou. O presidente dos Estados Unidos Donald Trump com a desculpa de evitar evitar o julgamento por tentativa de golpe de Estado por parte de Jair Bolsonaro (PL), justificou o tarifaço de 50% em cima das exportações brasileiras, também a uma “prática comercial desleal”, segundo ele, por parte do Brasil, numa referência indireta ao uso do Pix. Os ataques ao Pix e à soberania brasileira têm sido apoiados pelo filho do ex-presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) que está nos EUA e por parte de parlamentares da extrema direita.

Mas por quê Trump quer o fim do Pix?

Primeiro que hoje para usar o Pix como pagamento à vista, as pessoas físicas e Microempreendedores Individuais (MEIs) não pagam tarifas ou taxas adicionais. Já as empresas (pessoa jurídicas) pagam um percentual muito abaixo dos cartões – em média de 0,33% do valor da transação e, dependendo do banco podem ser isentas porque a cobrança é opcional. Uma transação via cartão de débito custa ao comerciante em média entre 1,23% e 2% e o de crédito entre 3% e 5%. 

Essas facilidades e juros menores acabaram por diminuir consideravelmente o uso dos cartões pelos brasileiros levando as grandes instituições financeiras dos EUA a perderem espaço e milhões de dólares. Além disso o Pix começou a ser aceito em alguns estabelecimentos da América Latina e na França, o que pode tirar o poder do dólar na economia mundial.

A economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) Vivian Machado demonstra o quanto o PIX retirou de lucro das empresas norte-americanas. Ela conta que uma pesquisa da Federação Nacional dos Bancos (Febraban) mostra que a participação do cartão de crédito, mesmo nos meios de pagamento, tem caído.

“Em 2020, por exemplo, as transações feitas pelo cartão de crédito representavam 22% do total e hoje estão em 14%. O cartão de débito representava 25% das transações no ano passado e neste primeiro semestre de 2025 ficou em apenas 11%”, diz Vivian.

Já o Pix se consolidou como o meio de pagamento mais utilizado no Brasil, superando o cartão de débito e o dinheiro em espécie. A pesquisa do Banco Central mostra ainda que 76,4% da população utiliza o Pix, enquanto o cartão de débito é usado por 69,1% e o dinheiro em espécie por 68,9%. 

Volume financeiro

O volume financeiro movimentado pelo Pix em 2024 atingiu a marca de R$ 26,455 trilhões, com 63,51 bilhões de operações. Isso representa um crescimento de 54% em relação ao ano anterior, quando foram movimentados R$ 17 trilhões, segundo o Banco Central. 

Por sua vez, o volume financeiro das compras realizadas com cartões de crédito, débito e pré-pagos cresceram 10,9% em 2024, somando R$ 4,1 trilhões, de acordo com dados da ABECs, associação que representa a indústria de meios eletrônicos de pagamento. 

“O ataque de Trump é por conta disso, exatamente porque embora o volume de transações via cartões tenha aumentado, percentualmente diminuiu e o Pix aumentou muito mais “, diz Vivian.

Uma conta hipotética mostra o quanto as empresas dos EUA estão perdendo com o PIX. Se calcularmos apenas R$ 1,00 por Pix dentre as 63,51 bilhões de transações feitas, os cartões de débito e crédito perderam a movimentação no ano passado de R$ 63,51 bilhões. Esta conta não calcula a possibilidade do uso de TED e outros meios de pagamentos. Ainda assim a perda financeira dos cartões norte-americanos é bilionária, o que para Trump é inadmissível.

Quem também perde com o Pix é a modalidade do WhatsAPP Pay da bigh tech Meta, da holding que controla também as redes sociais: Facebook, Instagram e Threads, de Mark Zuckerberg, já que os brasileiros não aderiram a esse tipo de pagamento.  

Pagamento on-line por Pix cresce

Até 2030, seis a cada em 10 pagamentos (58%) realizados em lojas virtuais serão feitos via Pix em 2030, segundo relatório “The Global Payments Report 2025” (Relatório Global de Pagamentos 2025) da Worldpay, multinacional norte-americana que oferece serviços e tecnologias de pagamento.

Atualmente as vendas pelo e-commerce (compras on-line) pelo Pix representam 41% das transações realizadas pelos consumidores. Já em lojas físicas, esse percentual cai para 31%. Ainda assim somando crédito, débito e pré-pago os cartões seguem como formas de pagamento fundamentais no Brasil. Segundo o relatório da Worldpay, essas modalidades responderam por 39% do valor das transações no e-commerce em 2024. Só o cartão de crédito segue sendo muito utilizado em compras de maior valor, especialmente por conta do parcelamento.

“Mas as pessoas estão preferindo o pagamento via Pix, muitas vezes, sem precisar carregar mais cartão, e entre acionar o cartão eletronicamente e fazer o pagamento via Pix, é mais fácil pegar o QR Code de onde você vai fazer o pagamento ou dar a sua chave Pix para receber alguma transferência. Então, o Pix está sendo priorizado pelos custos e pela facilidade”, acrescenta Vivian.

Outra facilidade do uso do PIX, segundo a economista, é o fato dele funcionar 24 horas, os sete dias da semana. 

“Se você está num restaurante num sábado, o comerciante não vai esperar até segunda-feira para compensar aquele pagamento que ele recebeu. Então, para ele, é vantagem ter a liquidez do Pix. É vantagem para os comerciantes, é vantagem pra quem usa, pra quem paga, porque a pessoa física não tem taxa, não tem tarifa pra fazer esse tipo de transferência”, ressalta Vivian.

Compras parceladas podem acirrar competição

As compras parceladas pelo PIX começarão a funcionar a partir de setembro, o que pode aumentar o uso desse sistema de pagamento pelos brasileiros, já que os juros aos consumidores e para as empresas serão muito menores do que os cobrados atualmente pelas instituições financeiras de cartões de crédito como Visa e Mastercard, além da facilidade de o valor cair imediatamente na conta de quem vende.

Outro benefício do Pix parcelado é a não necessidade de limite. Basta ter o valor das parcelas na conta mensalmente para o débito ser efetuado. Caso não haja saldo na conta, o valor será pago da mesma forma, submetido ao cheque especial.

“O Pix parcelado também vai ajudar a evitar fraudes praticadas com boletos falsos enviados por golpistas já que as empresas não precisarão mais emitir esses boletos”, entende a economista.

Essas facilidades e juros menores devem diminuir ainda mais o uso dos cartões pelos brasileiros levando as grandes instituições financeiras internacionais a perderem espaço no mercado e bilhões de dólares.

Com esses novos formatos de Pix haverá uma redução do uso de cartões. O que também é importante, porque a gente tem um endividamento muito grande no cartão, que tem a pior taxa de juros no Brasil. Então, o fato de reduzir o uso dos cartões é benéfico no sentido de buscar diminuir também o endividamento da população

– Vivian Machado

Saiba como vai funcionar o Pix parcelado (informações do BC e G1)

O Pix parcelado surge como alternativa às taxas exorbitantes dos clientes bancários no cartão de crédito rotativo (acima de 15% ao mês) caso não paguem o valor total da fatura. Essa é a linha de crédito mais cara do mercado financeiro. Embora o parcelamento por meio do PIX já seja oferecido por várias instituições financeiras o BC vai padronizar as regras, o que tende a favorecer a competição entre os bancos.

O parcelamento deverá estar disponível para a população e para os lojistas a partir de setembro de 2025. Segundo o presidente do BC Gabriel Galípolo a nova modalidade beneficiará 60 milhões de pessoas que não tem acesso ao cartão de crédito.

Quem estiver recebendo terá acesso a todo o valor instantaneamente, mas quem estiver pagando poderá parcelá-lo.

O PIX parcelado possibilitará a tomada de crédito pelo comprador, em uma instituição financeira, preferencialmente com a qual já tenha relacionamento, para permitir o parcelamento de uma transação PIX.

A instituição onde o comprador detém a conta dará o crédito e definirá o processo em caso de atraso no pagamento das parcelas ou de inadimplência (juros), considerando seus procedimentos de gerenciamento de riscos, conforme o perfil do cliente como já acontece com outras linhas de crédito.

O Pix Parcelado poderá ser usado para qualquer tipo de transação, inclusive para transferências.

Prêmio Nobel de Economia elogia o Pix

O economista norte-americano Paul Krugman publicou um artigo nesta terça-feira (22) elogiando o sistema brasileiro de pagamentos Pix — sugerindo que o Brasil pode ter inventado o futuro do dinheiro. Krugman é vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 2008 e é professor da Universidade da Cidade de Nova York.

No artigo, intitulado “O Brasil inventou o futuro do dinheiro?”, Krugman critica a posição de parlamentares republicanos (partido de Trump) que aprovaram lei que impede a criação de moedas digitais por bancos centrais (públicos), sob a alegação de preocupações com privacidade, mas que suas verdadeiras preocupações são que muitas pessoas optariam por ter moedas digitais do banco central, em vez de contas correntes em bancos privados.

O governo de Trump aprovou a lei do Genius Act que estabelece regras para o mercado de stablecoins, as criptomoedas com lastro em dólar norte-americano.

Para o economista, a nova lei norte-americana “abre caminho para futuras fraudes e crises financeiras”.

A história do Pix pode ser lida aqui .