Sinpro promove debate sobre assédio moral e sexual em escola classe do Paranoá

A Escola Classe Cora Coralina, localizada na área rural do Paranoá, recebeu o Sinpro nessa quarta (2/4), para a realização de importante debate sobre assédio moral e sexual no ambiente escolar. A iniciativa faz parte do projeto “Faça Bonito com o Sinpro”, que busca conscientizar e capacitar os profissionais da educação para enfrentar situações de violência e abuso no trabalho.
A roda de conversa foi conduzida pela diretora do Sinpro Mônica Caldeira, que destacou a necessidade de ampliar a compreensão sobre violência no ambiente escolar. “A Secretaria de Educação orienta a adoção de uma cultura de paz nas escolas, mas restringe a questão da violência às relações entre estudantes, ignorando que os profissionais da educação também são vítimas”, afirmou.
Durante o encontro, a diretora do Sinpro ressaltou a defasagem da legislação brasileira na proteção dos trabalhadores e trabalhadoras “A legislação atual data da década de 1940 e não acompanha as necessidades atuais dos trabalhadores. Precisamos buscar legislações internacionais, como a Convenção 190 da OIT, que estabelece o direito a um ambiente de trabalho livre de violência e assédio”, explicou.
Ela também destacou que o assédio no ambiente escolar ganhou proporções ainda mais preocupantes nos últimos anos, com projetos como o “Escola Sem Partido”, que incentivam a perseguição e criminalização de professores. Segundo Mônica, isso gerou uma cultura de desconfiança e exposição dos profissionais da educação a situações de assédio e violência.
Saúde mental em risco
Outro ponto de discussão tratado na roda de conversa foi o impacto do assédio e da violência na saúde mental dos(as) professores(as) e orientadores(as) educacionais. Dados apresentados no encontro apontam que, de janeiro a abril de 2023, mais de 5,1 mil servidores da rede pública de ensino do Distrito Federal precisaram de atestado médico, sendo que 26% desses casos estavam relacionados a transtornos mentais gerados, inclusive, pelo assédio no trabalho.

A diretora do Sinpro Mônica Cadeira ressaltou que 80% das readaptações de professores no DF atualmente são motivadas por problemas de saúde mental. “O grande problema da saúde mental é a invisibilidade. Muitas vezes, as vítimas de assédio sequer têm consciência de que estão sofrendo violência”, alertou.
“Uma escola com professores e professoras, orientadores e orientadoras que sofrem com violência a assédio terá repercussões como queda da produtividade, rotatividade de pessoal, faltas, queda na qualidade de ensino, gastos com o tratamento de saúde, até gastos com excessos judiciais. Então, o que a gente tem que fazer é criar uma cultura organizacional de intolerância à violência. A gente precisa definir dentro e fora da sala de aula o que é intolerável”, completou a diretora do Sinpro.
Ela destacou que, em todos os ambientes de trabalho, os profissionais enfrentam relações de poder desiguais, marcadas por vulnerabilidades relacionadas a gênero, raça, sexualidade e até mesmo à forma de contrato de trabalho.
“Pela primeira vez no mundo, uma convenção aponta que o trabalhador pode sofrer violência pela marca social que traz. E isso é um marco muito importante que a convenção 190 da OIT traz para a gente pensar em justiça e acabar com o assédio moral e a assédio sexual no ambiente de trabalho.”
Repercussão
Segundo a pedagoga Thais Oliveira, o debate é essencial para ampliar a compreensão sobre assédio e violência. “A falta de informação sobre o que é violento e o que não é acaba dificultando nossa reflexão sobre o tema. Precisamos conhecer melhor nossos direitos e formas de proteção”, afirmou.
A professora Márcia Abreu também reforçou a importância da ação. “Foi um dia de muita emoção e formação política. Esse debate é urgente e deveria ser ampliado para todas as escolas”, defendeu.
A diretora da Escola Classe Cora Coralina, Andréa Moura, destacou que formações como essa fortalecem a instituição pública de ensino. “Trazer informação e conscientização para o grupo é fundamental para garantir um ambiente de trabalho mais seguro e saudável”, afirmou.
Ao final da atividade, a dirigente sindical pontuou que “nos últimos anos, há uma vigilância diante do revisionismo histórico e extremo do conservadorismo confundindo educação formal cientificamente qualificada em educação informal fortemente influenciada por costumes e crenças”. “Esse cenário gera vulnerabilidade para o e a profissional do magistério. A escola precisa se fortalecer no cuidado e respeito mútuo pela defesa de cada um e da educação emancipadora ao mesmo tempo”, concluiu Mônica Caldeira.
“Faça Bonito com o Sinpro”
A campanha “Faça Bonito – Proteja nossas crianças e adolescentes” foi oficializada em 2023 pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), com o objetivo de conscientizar sobre o abuso e exploração sexual infantil em todo o território nacional. A data oficial da luta é 18 de maio.
Por entender a escola como uma aliada na detecção desses casos, o sindicato desenvolveu o projeto “Faça Bonito com o Sinpro”, em parceria com o Conselho Tutelar. Além de levar o debate sobre abuso e exploração sexual infantil para os estudantes, o projeto também promove rodas de conversa sobre assédio sexual e moral entre os profissionais da educação. A proposta é fortalecer a cultura de paz e garantir um ambiente de trabalho livre de todas as formas de violência dentro e fora do ambiente escolar, incluindo os trabalhadores e trabalhadoras da educação nessa proteção.