O projeto propõe uma mudança na punição para quem cometer os crimes de tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado. Quem for acusado de ter cometido dois ou mais crimes só será condenado pela pena mais grave aplicada e não a soma do conjunto de penas.
Um dos pontos mais importantes é o cálculo para a redução das penas e da progressão de regime. O PL define que os condenados poderão cumprir só 16% da pena em regime fechado, mesmo com uso de violência. A progressão também diminui para os reincidentes. Antes, quem já havia cometido crimes anteriormente tinha que cumprir ao menos 30% da pena em regime fechado. Agora serão 20%.
O principal beneficiado pela decisão é o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Condenado a 27 anos e três meses pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-mandatário poderá ficar apenas 2 anos e 4 meses preso na Superintendência da Polícia Federal. Sem esse projeto, Bolsonaro ficaria preso ao menos até 2033.
O governo se posicionou contra o projeto e tentou adiar a votação para o ano que vem, mas não conseguiu. Senadores do centrão foram os fiéis da balança. Um deles foi Alessandro Vieira (MDB-SE). O congressista afirma que o 8 de Janeiro foi uma tentativa de golpe, mas que era preciso separar quem foi “massa de manobra” de quem organizou os atos golpistas.
Um dos principais alvos dos senadores de direita foram os ministros do STF. Os congressistas entendem que a decisão será questionada pelo Judiciário e que a Corte tomou a decisão por “vingança” pelos atos de destruição aos Três Poderes.
O senador Jaques Wagner (PT-BA) lembrou dos incêndios que precederam o 8 de Janeiro. Ele também chamou de “absurda” a comparação feita pela extrema direita entre a anistia aos golpistas com a anistia feita em 1979 durante a ditadura militar às pessoas que lutavam contra o regime.
“O que votamos é uma afronta a democracia. O 8 de Janeiro foi a tentativa de um golpe com um resultado eleitoral. Eu nunca tinha visto acampamento na frente de quartel. Tentar minimizar o que aconteceu é um convite a que se repita essas tramas golpistas”, disse.
O único senador do PT que votou a favor do texto na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) foi Fabiano Contarato (SE). Ainda assim, ele falou no plenário que o projeto fere princípios básicos do direitos porque beneficia um grupo específico da sociedade em detrimento de outros setores. Ele também questionou a posição da extrema direita de pedir aumento de pena contra crimes comuns, mas pedindo redução de pena para golpistas.
“Falar que essa lei corrige injustiça pelas senhoras que estavam lá é o conto da Carochinha. O que aconteceu lá é a ponta do iceberg. Tivemos uma minuta de golpe redigida dentro do Palácio do Planalto. Tivemos ataques contra a sede da Polícia Federal. Teve plano de matar autoridades. Essa normal não é impessoal e não é abstrata, porque tem um foco político claro”, afirmou.
Outro que criticou o projeto foi o senador Renan Calheiros (MDB-AL). O congressista disse que não há “abrandamento possível” à crimes contra a ordem e o Estado Democrático de Direito.
“Vamos cometer essa insanidade hoje e afrontar o Poder Judiciário e suas decisões. Premiar o crime e soltar os criminosos. A discussão é sobre criminosos extremistas. Essa pauta não pertence mais à política, mas à polícia. A dosimetria e anistia não são agendas da sociedade”, afirmou.
Ele também denunciou um acordo feito pelo governo para votar a dosimetria em troca da votação das desonerações das tarifas. De acordo com ele, isso foi “confidenciado” pelo senador Randolfe Rodrigues antes da votação do projeto na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
O principal argumento do governo contra o projeto é a mobilização popular. A tentativa de anistiar os golpistas de 8 de Janeiro com o PL da Anistia foi duramente rejeitada pela população em setembro e esse novo projeto mobilizou novamente a esquerda no último final de semana. Milhares de pessoas foram às ruas para protestar contra o texto.