Risco de Covid cresce 192% em sala de aula; DF perdeu 84 professores
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O risco de contaminação pela Covid-19 aumenta 192% para professores que estão em sala de aula. Sem vacina e em contato com alunos diariamente, os docentes em regime presencial têm risco maior de desenvolver a doença. A conclusão é de um estudo assinado por pesquisadores de cinco instituições de ensino superior.
Eles analisaram profissionais de 554 escolas com ensino presencial, no período de 7 de fevereiro a 6 de março de 2021. O grupo da Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal do ABC (UFABC), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de SP concluiu que a incidência do coronavírus foi 2,92 vezes, ou 192%, maior nesse público do que na população adulta fora das salas de aula.
No Distrito Federal, a rede pública de ensino optou por aulas remotas, mas a privada manteve o modelo presencial. A preocupação dos docentes se torna maior pela quantidade de colegas que perderam a vida para a doença.
Segundo estimativa do Sindicato dos Professores do DF (Sinpro-DF), 74 educadores da rede pública faleceram por complicações decorrentes do coronavírus.
Nenhuma entidade fez a contagem oficial de óbitos de docentes dos colégios particulares. Com base em matérias públicadas, o Metrópoles apurou 10, mas acredita-se que o número possa ser maior.
Entre os docentes de instituições públicas que não resistiram à doença estão o professor da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB) Antônio Fávero Sobrinho, e a mulher dele, a professora da rede pública Anna Angélica Oliveira Paixão, ambos mortos em 4 de abril.
Em 11 de março, o coronavírus vitimou a professora da rede pública Sílvia Marçal. A profissional trabalhava no Centro de Ensino Fundamental 4, em Taguatinga, e também lecionou no Centro de Ensino Médio Setor Leste, na Asa Sul. Em agosto de 2020, o também docente de unidade do governo Marcelo Mariani morreu por complicações da Covid-19.
Na Justiça
Com medo da doença e focado em denúncias e nos estudos que são parâmetros em outros Estados, o Sindicato dos Professores da Rede Particular de Ensino (Sinproep) pediu à Justiça que suspendesse as aulas presenciais por algumas semanas. “Verificamos que 20 escolas estavam com focos de contaminação. Pedimos a suspensão”, afirmou o diretor jurídico do Sinproep, Rodrigo de Paula.
A intenção era superar o período crítico da pandemia que já ceifou a vida de 7.049 mil pessoas na capital federal. “Neste momento grave, com superlotação dos leitos e sem a vacinação dos professores da rede privada, não podemos contar com aulas presenciais”, afirmou o advogado do Sinproep, Bruno Paiva.
A liminar foi negada pela Justiça do Trabalho, pois há decreto do GDF que autoriza o ensino presencial da rede particular. O Ministério Público do Trabalho (MPT), no entanto, pediu audiência com urgência para que se busque uma solução.
“É preciso ficar clara a urgência da audiência em razão das recentes mortes de professores de escolas privadas no DF que estavam que atividades presenciais”, completou Paiva.
Procura dos pais
Por outro lado, a presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinepe-DF), Ana Elisa Dumont, pondera que, no Distrito Federal, existem quase 600 instituições de ensino privadas e, entre elas, há casos isolados de descumprimento dos protocolos.
A presidente reforça que o Sinepe-DF apoia a fiscalização e tem orientado constantemente as escolas. “No início da pandemia, tínhamos 20% das famílias procurando pelo ensino presencial. Hoje, são 70%, o que demonstra que as famílias têm confiança nas escolas e a educação é um serviço essencial”, afirma.
Segundo ela, os dados mostram a existência da contaminação na sociedade como um todo. “Temos recebido desses pais a necessidade de os alunos estarem em ambiente presencial seguro. Estamos ofertando o modelo presencial e o remoto para que os responsáveis possam optar pelo que atende melhor a sua família”, disse.
Para a presidente do Sinepe, as escolas são serviços essenciais. “O índice de contaminação está abaixo de 1. Os casos estão diminuindo. O governo tem dados para analisar quais setores devem permanecer abertos, tanto que flexibilizou horários para o comércio”, completou Ana Elisa Dumont.
Veja alguns professores que foram vítimas da Covid-19:
9/7/2020: César Augusto Severo, fundador e coordenador pedagógico do curso pré-vestibular e do Colégio Exatas.
13/07/2020: Ernesto Luís, professor de educação física.
14/07/2020: Conceição das Graças Araújo, 71 anos, fundadora do Colégio Guiness.
24/08/2020: Roberto Cavalcante , professor e fundador do Colégio Ideal.
24/03/2021: Darcilene Gonçalves, professora Colégio CCI.
26/3/2021: Marilene Alves Lustosa, 36 anos, docente do ColégioAdventista, de Planaltina.
7/4/2021: Elizabeth Pazito Brandão, jornalista e professora do Iesb.
12/4/2021: Tiago Ferreira Lima Sobreira Rolim, professor do Marista João Paulo II.
13/4/2021: Everton Alves dos Santos, professor da Escola Franciscana Nossa Senhora de Fátima.
13/4/2021: Jeane Rodrigues Dantas, 45 anos, docente nos cursos da área de negócios na UniProjeção em Ceilândia.
(Portal Metrópoles, 16/04/2021)
Fonte: CNTE
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