O ensino médio feito à distância

A decisão do Conselho Estadual de Educação, homologada pela secretária da Educação, autorizando as escolas de ensino médio a oferecer até 20% da carga horária na modalidade a distância poderá contribuir para uma queda ainda maior da qualidade do ensino em São Paulo.
Uma medida de tal impacto no processo educacional deveria ser objeto de debates na rede estadual de ensino. É notório que a oferta de vagas não atende à demanda no estado e os índices de evasão e repetência são altos, sobretudo no noturno, tendo em vista a inadequação dos conteúdos e das dinâmicas à realidade e às necessidades dos alunos-trabalhadores e da juventude em geral. Antes de propor “inovações”, a secretária da Educação deveria preocupar-se em construir uma identidade ao ensino médio.
A meta deve ser a construção de uma educação científico-tecnológica básica, que combine conhecimentos gerais e específicos, articulando pensamento e ação, teoria e prática, escola e sociedade, contemplando: universo da ciência contemporânea; novas tecnologias; relações sócio-históricas estabelecidas pelos homens na sociedade e no trabalho; diferentes formas de linguagem presentes nos espaços sociais e produtivos. Para tanto, o currículo deve combinar uma parte comum (75%) e uma parte diversificada (25%) livremente definida pelas escolas, de acordo com os projetos político-pedagógicos.
Se, em alguns estados com grande extensão territorial e incontornáveis dificuldades de acesso – como na Amazônia – podem ser encontradas justificativas para a aplicação do ensino regular a distância, em São Paulo é completamente descabida a adoção desta forma de ensino, considerando que a transmissão e a construção do conhecimento são processos coletivos, que exigem a inter-relação presencial professor-aluno, aluno-professor e aluno-aluno.
Pretender substituir tal processo de ensino-aprendizagem por outro, no qual o aluno relaciona-se de forma passiva com conteúdos pré-configurados, transmitidos através de um monitor de vídeo significa, na verdade, uma rendição do Estado frente aos problemas do ensino médio decorrentes das políticas educacionais aplicadas por este mesmo Estado.
Não se trata de combater as novas tecnologias. Trata-se, na verdade, de manter e valorizar os processos educacionais que privilegiam a relação direta entre o professor e seus alunos, pois é desta interação, necessária e insubstituível, que pode emergir um ensino de qualidade, desde que asseguradas condições materiais, gestão democrática, projeto político-educacional adequado e outros pressupostos.
As novas tecnologias são ferramentas fundamentais e úteis a professores e alunos como pontes para o conhecimento. Mas, não podem ser utilizadas para substituir ou obstaculizar a relação entre professores e alunos. Qualquer tentativa de fazê-lo significa condenar a educação do estado de São Paulo a mais atraso e menos qualidade. (Maria Izabel Azevedo Noronha, presidenta da APEOESP).