“Nenhuma criança precisa ter medo da matemática”, diz professora aposentada premiada por projeto

Quando criança, Joana Pereira Sandes tinha muitas dificuldades com a matemática. Conseguir solucionar uma expressão numérica ou um problema era algo desafiador. Ela olhava para aqueles numerais e sinais e tudo se embaralhava. Foi difícil compreender e ver sentido naquelas questões. Mas Joana insistiu. Ela cresceu, se tornou professora e fez um compromisso consigo mesma: a partir da educação, apresentaria matemática aos estudantes de forma descomplicada, para que as crianças pudessem sentir alegria e satisfação ao se depararem com um problema.

Foi com esse objetivo que nasceu o “Projeto Caixa Matemática e Situações-Problema na Educação Infantil”, implementado no Jardim de Infância Lúcio Costa (JILC), no Guará. Focado no letramento matemático de crianças de quatro a cinco anos, o projeto foi um dos 12 vencedores do prêmio “Letramento Matemático na Pré-Escola”, do Itaú Social, em parceria com a Secretaria de Educação Básica do MEC (Ministério da Educação), entre mais de 2.500 inscrições de todo o Brasil.

Do prêmio recebido, professora Joana, recém aposentada, decidiu que a metade do valor fosse investida na continuidade do projeto. “Tenho muito orgulho desse trabalho, e espero que ele colabore com aprendizados de muitas crianças. Nenhuma criança precisa ter medo da matemática”, afirma a professora.

 

O projeto

O “Projeto Caixa Matemática e Situações-Problema na Educação Infantil” foi implementado no Jardim de Infância Lúcio Costa em 2021. Devido a sua importância para a aprendizagem das crianças, passou a fazer parte do Projeto Político Pedagógico da Escola.

O projeto utiliza dois recursos didático-pedagógicos centrais para a construção de ideias e conceitos matemáticos essenciais, em especial o conceito de número. Na Caixa Matemática, são oferecidos diversos materiais lúdicos e concretos como argolas coloridas, miniaturas de animais, botões, dinheirinho sem validade, além de outros elementos que auxiliam na exploração de conceitos como: classificação; correspondência; comparação e outros. Já na resolução de situações-problema, as crianças utilizam o desenho para representação das soluções encontradas. Isso porque o desenho é sua primeira escrita e permite realizar os registros e comunicar suas ideias matemáticas.

“Quando as professoras colocavam a Caixa Matemática no chão (na rodinha), as crianças ficavam muito empolgadas. No final, já perguntavam: ‘vai ter Caixa Matemática amanhã?’. Já nos desenhos das situações-problema, as crianças registravam todo o contexto apresentado e conseguiam, inclusive, compreender e representar operações, muitas vezes, complexas, como a divisão”, relata a professora Joana.

Quanto à colaboração que recebeu para colocar em prática o projeto, ela deixa seus agradecimentos à direção do Jardim de Infância Lúcio Costa, que “confiou no trabalho que estava sendo proposto para os estudantes e disponibilizou todo o material necessário para a composição da ‘Caixa Matemática’”. Ela ainda se lembra das “colegas professoras que colaboraram com o desenvolvimento do projeto em sala de aula”. “O trabalho de cada uma foi fundamental”, afirma a professora.

 

Reconhecimento

Professora Joana ganhou o prêmio do concurso “Letramento Matemático na Pré-Escola” na categoria Reconhecimento. Mas a história de vida da professora Joana Pereira Sandes mostra que a premiação do projeto apresentado é o reconhecimento da sua jornada como mais uma das mulheres negras brasileiras que não se entregaram ao conceito de destino – a menos que seja para o sucesso.

Sua origem é uma família humilde. Perdeu sua mãe quando criança, e a sua chegada em Brasília para trabalhar como empregada doméstica (por um longo período de sua vida) lhe deu oportunidade de morar numa cidade grande e construir sua carreira como professora.

Não há romantização nessa história. Há luta. Joana conta que venceu preconceitos, rejeição e enfrentou inúmeras dificuldades. Hoje, ela percebe que tudo isso, na verdade, se transformou em combustível para que ela fosse atrás daquilo que queria: ser professora.

Com sérias dificuldades financeiras, concluiu a graduação e, em 1997, foi aprovada na Secretaria de Educação do DF. Seguiu em frente com coragem e concluiu o mestrado e o doutorado em Educação na Universidade de Brasília (UnB).

Hoje, Joana é professora aposentada e entende a importância de deixar o registro de sua história como exemplo de “que podemos alcançar muitos espaços na sociedade, apesar das dificuldades e barreiras impostas”. “Devemos acreditar e confiar em nosso potencial de luta, especialmente nós mulheres!”, alerta.

Professora Joana faz questão, ainda, de lembrar que “precisamos acreditar no valor das produções pedagógicas realizadas diariamente”. “Muitas vezes realizamos ótimos trabalhos e eles ficam restritos à nossa sala de aula e à escola. Eles podem ganhar muitos espaços e inspirar outros colegas, como aconteceu com o ‘Projeto Caixa Matemática e Situações-Problema na Educação Infantil’.”

Da sua história, professora Joana traz a lição: “a educação, a escola e o apoio de professores queridos ao longo da minha trajetória foram essenciais nas minhas conquistas”.

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