Marcha das Mulheres Negras atrai mais de 20 mil na capital federal

Na antevéspera do Dia da Consciência Negra, mais de 20 mil pessoas de todo o Brasil se reuniram na Marcha das Mulheres Negras, nesta quarta-feira (18), em Brasília, que contou com total apoio da CUT e de seus sindicatos filiados. Integrando as organizações do movimento negro do país, a marcha luta pela cidadania plena das mulheres negras, denunciando e combatendo o racismo, o machismo, a pobreza, a desigualdade social e econômica. Os movimentos saíram  do ginásio Nilson Nelson pouco antes do meio dia e caminharam em direção ao Congresso Nacional, onde mulheres foram provocadas e atacadas com bombas, agressões verbais e físicas e intimidadas com tiros por parte dos integrantes do movimento pró-golpe militar acampados há dias na Esplanada.
O tema da Marcha foi “Mulheres Negras contra o Racismo,  a Violência e pelo Bem Viver”. As milhares de manifestantes ocupam o Ginásio Nilson Nelson desde o dia 16.  No espaço, estão sendo realizadas várias oficinas e vários debates com a abordagem de temas como violência, saúde, racismo e etc, todos analisados sob a ótica de raça e gênero.
A secretária de Política Racial da CUT,  Maria Júlia Nogueira, explica que a Marcha é um marco na história do país. “Milhares de pessoas vieram de todo o país, até de outros lugares do mundo para esta marcha hoje. Mas, a nossa luta vem desde a época das senzalas onde já nos organizávamos em quilombos na luta pela liberdade e igualdade. E hoje o recado é para o Congresso Nacional, para todos os políticos machistas, sexistas e racistas que vêm disseminado o ódio no nosso país. Não cabe mais a discriminação no nosso país, nem nos locais de trabalho. Conquistamos o nosso espaço e isso será multiplicado”, ressalta a dirigente. “Um sonho que se sonha só, é apenas um sonho. Quando se sonha junto é realidade”, parafraseou Miguel de Cervantes e Raul Seixas, referindo-se ao sonho do fim do racismo.
As mulheres negras representam 25% da população brasileira. Isso significa que 49 milhões pessoas estão sujeitas, diariamente, aos ataques racistas e sexistas, e se tornam alvo vivo da desigualdade social.
Através de faixas e cartazes as mulheres denunciavam o genocídio da juventude negra brasileira, a violência contra a mulher, a desigualdade de oportunidades, sociais e profissionais, e gritavam “Fora Cunha”, protestando contra o projeto de lei que dificulta o atendimento de mulheres vítimas de estupro no SUS. Mesmo com indignação, as mulheres espalharam alegria pelas ruas de Brasília cantarolando as  músicas dos ancestrais e fazendo referência a cultura africana.
Golpistas atacam a Marcha
Infelizmente, ao chegarem nas proximidades do Congresso Nacional, as mulheres foram alvo de agressões físicas e verbais por golpistas e defensores da Ditadura Militar que estão acampados no Congresso. Eles ainda dispararam bombas para assustarem as mulheres. Um deles ainda disparou tiros espalhando medo e, por pouco, causando uma grave tragédia. O atirador foi levado pela Polícia Militar, que dispersou as manifestantes, que protestavam contra o atirador-provocador, com gás de pimenta. Um dos jatos atingiu os olhos do deputado Paulo Pimenta (PT-RS) que intercedia para impedir conflito. O atirador é policial civil reformado de Sergipe que já foi preso na semana passada com armas, gás de pimenta e furadores de coco na Esplanada, segundo informes da PM à imprensa local.
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Um dos integrantes do movimento pró-golpe adentrou a área dos CUTistas para provocar. Fugiu ao ser interpelado, fazendo disparos de pistola para o ar (veja foto e vídeos).  Também policial civil, o atirador correu para a barreira da PM, onde foi detido.

O episódio ocorreu cerca de uma hora depois do mesmo grupo atacar as mulheres negras que marchavam próximo ao Congresso. Nesta hora, as mulheres já haviam seguido rumo ao Nilson Nelson.

O acampamento CUTista foi instalado pela manhã desta quarta-feira (18), reunindo dirigentes e militantes CUtistas de várias categorias, especialmente dos rodoviários, de vários pontos do país. Logo cedo, até mesmo antes do ataque que fizeram às mulheres, o golpistas (que também estão acampados nas proximidades) já haviam provocado os sindicalistas com palavras ofensivas.
O secretário de Comunicação da CUT Brasília e do Sindicato dos Rodoviários do DF, Marco Junio, explica que os trabalhadores ficaram  revoltados com a postura da Polícia Militar que não realiza a revista de forma igual nos grupos que permanecem acampados no gramado do Congresso. Vários CUTistas foram revistados sob a mira de armas, enquanto os golpistas circulavam tranquilamente. “Já é um absurdo um cara atirar sem motivo algum no meio de mulheres, homens, idosos e crianças. Pior é a Polícia Militar não tomar providências, o que levou outro a atirar também no meio de pais de famílias, trabalhadores”, explica o dirigente.
O presidente da CUT Brasília, Rodrigo Brito, manda um recado: ‘É lamentável a intolerância, o ódio e o desrespeito daqueles que não se conformam com as vitórias do povo trabalhador. É triste o ocorrido, mas os CUTistas não arredarão o pé enquanto o Congresso não colocar em pauta as reivindicações do trabalhadores. Queremos garantir e ampliar direitos e implementar nova política econômica que promova o desenvolvimento de acordo com os interesses dos trabalhadores, com mais emprego e renda e menos desigualdade social. E não é um grupo de ditadorezinhos e ‘coxinhas’ que precisam usar das armas para conseguir o que quer que vai nos intimidar. Somos da paz, da luta e da coragem e é através disso que vamos avançando na luta”, ressalta o dirigente.
Mesmo com o triste episódio (outro iria acontecer quase uma hora depois, com provocação dos golpistas contra militantes CUTistas), e, ao contrário do que a mídia local noticiou, as mulheres permaneceram firmes, unidas e mobilizadas no ato. Juntas deram continuidade as atividades. Deram a volta em frente ao Congresso e continuaram a caminhada retornando ao Nilson Nelson para atividades de encerramento com show musical.
Com informações da CUT Brasília
Fotos: Deva Garcia