“Macabéa” de Lispector leva reflexão sobre vulnerabilidade e coragem para estudantes de escolas públicas
A apresentação conta uma breve história dentre as centenas vividas em diversos tempos por Quem, a nascida do chifre do boi. Quem é um ser mítico sobrenatural que vive há tantos anos nessa terra que já perdeu as contas. Quem é uma estrangeira do tempo. Em “Quem. Uma Macabea sem fim”, testemunhamos as complexas e duras realidades que um ser mítico imortal é obrigado a passar, degringolando lado a lado com a existência humana por toda a eternidade. Quem está em alerta pois há uma espécie de monstro à solta…
Espetáculo
Fechando a tríade proposta no projeto – Teatro Físico, Palhaçaria, Literatura – a peça “Quem. Uma Macabéa sem fim” coloca em prática a reflexão levantada nas oficinas e terá sessões abertas ao público em geral. A base do processo criativo é a personagem central da obra A Hora da Estrela, escrita por Clarice Lispector, que contrasta com o mito autoral criado por Elisa Carneiro “Nascida do Chifre do boi”. “O texto traz um diálogo intenso com as poéticas contemporâneas, a rotina, as banalidades do dia a dia, o ordinário, e a realidade tão nua e crua inspirada por Macabéa. Esse espetáculo ressalta justamente esses dois mundos, a beleza que existe no cotidiano banal da maioria dos brasileiros e o universo místico que cada um possui dentro de si”, destaca Elisa Carneiro.
Início de turnê
Primeiro solo da atriz e palhaça brasiliense Elisa Carneiro, o espetáculo “Quem. Uma Macabéa sem fim” inicia sua turnê por escolas públicas de Samambaia. A iniciativa integra o projeto “Macabéa – Nascida do chifre do boi” e tem como inspiração poética a personagem principal do clássico da literatura brasileira A Hora da Estrela, de Clarice Lispector. Além da peça, os estudantes também poderão participar de duas oficinas: Palhaçaria – o humor como ferramenta de sobrevivência e Mitologia Pessoal.
A partir da perspectiva do Clown, a ‘Oficina de Palhaçaria – o humor como ferramenta de sobrevivência’ propõe uma visão de mundo por uma lógica invertida, na qual as fragilidades se tornam potencialidades e ferramentas para ampliar as possibilidades de expressão”, explica a atriz. Já a “Oficina de Mitologia Pessoal” pretende construir canais de diálogo com os estudantes para estimular a descoberta de suas próprias jornadas pessoais, usando a mitologia como ferramenta de compreensão e inspiração.
O objetivo desse projeto, de acordo com sua idealizadora, Elisa Carneiro, é abordar temas como vulnerabilidade e coragem, especialmente junto ao público adolescente neste primeiro momento. E, claro, tudo regado com muito humor. “O medo de ser quem se é muitas vezes é o grande gerador de ansiedade entre as pessoas, principalmente entre os jovens. Existe sempre um padrão a ser seguido. O medo de ser ridicularizado e o medo de falhar são uns dos principais responsáveis por criar essa cultura predatória, colocando-os em contextos de isolamento. Para fazer um contraponto a essa realidade, o projeto “Macabéa – Nascida do chifre do boi” vai trabalhar a experiência da incerteza, do risco e da exposição, que podem se transformar em disparadores de emoções como a ansiedade e o medo”, segundo a atriz.
Inclusão e igualdade
O projeto conta com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal e reúne uma equipe formada predominantemente por mulheres, fortalecendo o papel e a importância feminina no cenário cultural. Com mais de 30 anos de carreira, a atriz, palhaça e dramaturga Ana Flávia Garcia assina a dramaturgia de “Macabéa – Nascida do chifre do boi”. A direção fica a cargo da dramaturga e musicista de relevância no cenário cultural da capital Fernanda Jacob.
As oficinas também serão direcionadas a jovens neurodiversos, trabalhando o que são consideradas vulnerabilidades nos seus contextos sociais e no ambiente escolar e estimulando as potencialidades dos estudantes.