Estudante da EC 64 de Ceilândia Sul vira estudo de caso na ONU
Samantha Borges, aluna da 4ª série da Escola Classe 64 de Ceilândia Sul, foi retratada no relatório “10 — Como nosso futuro depende de meninas nessa idade decisiva”, lançado no dia 26 passado pelo Fundo de Populações das Nações Unidas (UNFPA).
O relatório analisa o modo como fatores cruciais tais como leis, serviços, políticas, investimentos, dados e padrões que permitam garantir os direitos das meninas com idades entre 10 anos ou mais podem determinar o cumprimento da Agenda 2030 e seus 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. De acordo com a avaliação da UNFPA, o futuro da humanidade depende de como cerca de 60 milhões de meninas que hoje têm 10 anos são apoiadas.
Segundo a UNFPA, o casamento precoce, o trabalho infantil e outras práticas que prejudicam a saúde e os direitos de meninas ameaçam a ambiciosa Agenda 2030 para o desenvolvimento global – um plano de ação para as pessoas, para o planeta e para a prosperidade.
“O mundo da menina muda quando ela completa 10 anos. Um turbilhão de eventos transformadores pode levá-la a diferentes direções. Seu destino dependerá do apoio que receba e do poder que tenha para moldar seu próprio futuro. Em algumas partes do mundo uma menina de 10 anos, no início da adolescência, tem possibilidades ilimitadas à sua frente e começa a fazer escolhas que influenciam sua educação e, no futuro, seu trabalho e sua vida. Porém, em outras partes do mundo os horizontes são limitados para uma menina nesta idade. Quando ela chega à puberdade, uma poderosa combinação de parentes, figuras da comunidade, normais sociais e culturais, instituições e leis discriminatórias impedem que ela siga em frente”, adverte Babatunde Osotimehin, subsecretário-geral das Nações Unidas.
Para representar os diferentes contextos em que vivem as meninas de 10 anos de todo o mundo, seus desafios e oportunidades, o relatório “10 — Como nosso futuro depende de meninas nessa idade decisiva” retrata 10 meninas de 10 anos de 10 diferentes países. Entre elas está Samantha Borges.
Moradora de Ceilândia, Samantha vive com os pais e o irmão mais novo. Aluna da Escola Classe 64, gosta de estudar matemática – embora seja excelente em outras disciplinas – e seu sonho, quando crescer, é se tornar uma policial ou professora de Educação Física. Se tiver as condições adequadas, Samantha certamente poderá conquistar o seu sonho. Ela gostaria de se casar um dia e ter dois ou três filhos, mas esse não é um objetivo próximo. “Será mais pra frente”, pondera.
Mas como ela foi parar em um estudo como este?
Educação – A estudante, desde os quatro anos de idade, sempre frequentou a EC 64 de Ceilândia, cercada pelas professoras Érica Milhomem, Maria das Dores de Oliveira, Lúdia Santana Flores, Maria Adelaide de Melo Franco, Vivian Moares e Gisele Carolina Silvério ao longo dos anos.
Maria das Dores explica que ela e demais professoras sempre trabalharam na escola com projetos ligados à questão étnico-racial. Ano passado desenvolveu o Diáspora Negra. “Por conta deste trabalho me pediram para indicar uma criança negra, aplicada, que fosse bem resolvida em vários aspectos e consciente de seu papel na sociedade”, conta, lembrando que desde sempre Samantha se assumia como uma criança negra, sem maiores problemas, e com o reforço da família. Fora o fato de ser participativa e estudiosa. “A criança não nasce preconceituosa. Ela se torna, de acordo com o convívio e a educação que recebe, seja em casa ou na escola”, explica a professora.
Apesar do jeitinho tímido, é flagrante a vivacidade de Samantha, que não esconde a maneira “desencanada” – também madura – de encarar a vida. E isso não surgiu do nada.
“O segredo foi a coletividade do grupo. A gente trabalha sempre com projetos procurando valorizar a pessoa, o ser humano, enfatizando as questões éticas-raciais, a inclusão, o direito, o respeito, a valorização e o empoderamento do negro, a contribuição dele para nossa formação. Esse é o trabalho do grupo da escola; de cada professora dando a sua contribuição através dos anos”, pondera a professora Érica Milhomem.
Paralelamente, houve o trabalho da família – comprometida com a educação da menina, participando ativamente da vida da escola e “incentivando os estudos, ou seja, despertando a imaginação e fazendo dela um ser humano feliz”, como explica a mãe da estudante, Sandra Mota.
As professoras apontam como segredo justamente esta integração. “O sucesso de Samantha, assim como o dos demais estudantes, está no comprometimento, na responsabilidade e na postura que temos com a educação aliada à participação da família no processo escolar. Com esse ‘casamento’ o resultado não poderia ser outro. A criança passa à frente o que ela recebe”, sintetizaram.
“Toda criança tem um sonho, e todas precisam de ajuda para realizá-lo. Mas precisamos de oportunidade e de apoio dos adultos, que têm mais experiência na vida. Todos foram muito importantes, em tudo”, disse Samantha com relação às professoras.
>>> Clique aqui e acesse o relatório “10 — Como nosso futuro depende de meninas nessa idade decisiva”
Fotos: Deva Garcia / Sinpro