Escolas federais custam menos que as militares e têm desempenho superior no Enem
Um decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) determina o fomento à criação de escolas cívico-militares em todo o país. Embora o documento não detalhe de que forma será feita a implantação, o ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, afirmou que a inspiração será a experiência dos colégios militares, que têm desempenho acima da média.
A principal diferença, em relação às escolas públicas convencionais, é o investimento do Exército por aluno: R$ 19 mil ao ano, três vezes mais do que em uma escola pública regular. O argumento do bom desempenho encontra respaldo nos números do Enem, em que os alunos dos colégios militares costumam se destacar.
Mas outro modelo, o das escolas federais, tem desempenho superior com custo um pouco mais baixo, de R$ 16 mil ao ano por aluno — ainda assim, bem maior do que o investimento no aluno regular, que não passa de R$ 6 mil por ano.
Colégios de aplicação e institutos federais, com ensino técnico paralelo ao ensino médio _ e não os militares _ são os donos dos melhores resultados do país na escola pública. Mas a experiência bem-sucedida não foi considerada nas discussões da reforma do ensino médio, que entrou em vigor este ano.
No ranking das 10 melhores instituições públicas do país, de acordo com o resultado do Enem em 2017, sete são federais, entre colégios de aplicação das universidades federais e rede IF (institutos federais). Na lista aparece um colégio militar do Exército, o de Belo Horizonte (MG), em 7º lugar. Há ainda duas escolas estaduais entre as melhores do país.
O primeiro colocado é o Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais, que é o 19º no ranking geral do país nas provas objetivas— incluindo as escolas particulares.
Assim como os colégios militares, a rede de educação federal tem professores com título de mestre, doutor e pós-doutor — e, consequentemente, salários mais altos, que possibilitam dedicação integral. Institutos federais investem em pesquisa e produção do conhecimento, e apostam na interiorização para levar formação para além das capitais.
Em Santa Catarina, das 10 primeiras colocadas no ranking das escolas públicas no Enem, oito são institutos federais. O Estado não tem escolas do Exército, mas colégios mantidos pela Polícia Militar onde o investimento, no ano passado, foi de R$ 14 mil por aluno. Nas escolas da PM há reserva de vagas para filhos de policiais, o que levou a reação do Ministério Público no ano passado.
O colégio militar Feliciano Nunes Pires, em Florianópolis, está em 7º lugar entre as escolas públicas do Estado.
Corte de verbas
Dono dos melhores índices do país entre as escolas públicas, o ensino federal foi atingido diretamente por cortes de verbas nos últimos anos. O orçamento para 2019, por exemplo, é similar ao de 2016 _ o que reduz a capacidade de investimentos, já que há aumento vegetativo de gastos com salários, por exemplo.
Institutos federais em todo o país precisaram cancelar projetos e reajustar o orçamento nos últimos anos. Obras de ampliação de salas de aula tiveram que ser suspensas por falta de recursos. Inclusive na rede federal de Santa Catarina, que tem dois institutos: IFSC (Instituto Federal de Santa Catarina) e IFC (Instituto Federal Catarinense).
O governo Bolsonaro ainda não indicou quais serão os caminhos para a rede federal. Toda a diretoria responsável pelos institutos federais foi exonerada, e os novos nomes ainda estão em fase de “reconhecimento de terreno”.
O governo não informou se pretende aumentar o investimento por aluno nas escolas que adotarem o modelo cívico-militar. Vale lembrar que os investimentos em saúde e educação no governo federal foram congelados pelos próximos 20 anos, com aprovação do Congresso Nacional.
Ranking nacional das escolas públicas no Enem
1 – Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa (MG)
2 – Colégio Politécnico da Universidade Federal de Santa Maria (RS)
3 – Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Pernambuco (PE)
4 – Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Vitória (ES)
5 – SEPT da Universidade Federal do Paraná (PR)
6 – FCAP UPE, Escola de Aplicação do Recife (PE)
7 – Colégio Militar de Belo Horizonte (MG)
8 – CEFET Varginha (MG)
9 – Colégio Técnico da Universidade Federal de Minas Gerais (MG)
10 – Colégio Técnico de Campinas (SP)
Fonte: NSC