"Escola sem partido ou sem capacidade de pensar?", por Régis Eric Maia Barros

Recentemente, há uma discussão ideológica construída por “almas” conservadoras deste nosso Brasil. Se depender desses espectros, certamente, o país andará para trás. Não tem jeito, pois a forma como eles pensam é um ataque a todas as ciências humanas as quais são os sustentáculos para a criação do ser em potência e em ato.
Pois bem, assim eles conclamam: “Por uma escola sem partidos”! Na verdade, o termo partido tenta atacar teses progressistas ou de esquerda. Em outras palavras, esses seres conservadores e empobrecidos creem que os outros são doutrinados em supostas lavagens mentais. Daí, haverá uma criação de comunistas e PTistas que se disseminariam tal qual aos filmes de propagação de vírus zumbis.
O que eu poderia falar sobre isso? É um desconhecimento tão grande sobre o ser humano e sua capacidade de abstração que causa espanto. Como um professor pode se expressar sem evidenciar a sua opinião sobre os fatos históricos dos quais ele ministra uma aula? Melhor! Onde podemos encontrar um ser humano que não construiu sua verticalidade frente aos fatos do mundo. Fatos esses que ele leu, refletiu e viveu. Aqueles que preferem aulas sem discussão e opiniões contraditórias deveriam criar um modelo robótico de ensino. Aí, sim, teríamos um Another Brick In The Wall.
Isso tudo é tão tosco que é capaz de desnudar o grave momento pelo qual passa esse doente País. Os respingos de correntes fascistas e dominadoras vão se espalhando com as mais diversas roupagens. Seja na não aceitação das minorias, seja no ataque aos pontos de vista contraditórios, seja na mordaça do pensar educacional.
Fico aqui imaginando o que os principais filósofos clássicos, modernos e contemporâneos falariam a respeito. Eles, com toda certeza, pontuariam que criaremos a pátria caranguejo – aquela que volta e não avança. Em vez de permitir o contraditório, inclusive com o posicionamento dos tutores, tenta-se fazer do ensino algo rígido. Deve ser algo projetivo, pois o conservadorismo medíocre solicita encontrar outros medíocres conservadores.
Para todos aqueles que defendem essa tristeza, resta-me terminar citando uma reflexão de Pirro de Elis. Para esse filósofo cético, ninguém ensina o que o outro já sabe. Portanto, se você fizer isso, não estará ensinando nada. Por outro lado, se você ensina o que o outro não sabe, o obscuro é passado e aquilo que é obscuro não pode ser ensinado. Conclui-se, portanto, que o ensino deve sempre ser dinâmico e demanda das opiniões de todos, sobretudo dos mestres.
Por Régis Eric Maia Barros
*Médico Psiquiatra; associado titular da Associação Brasileira de Psiquiatria; mestre e doutor em Saúde Mental pela FMRP-USP
(do O Povo)