Entenda por que a queda da inflação não chegou no seu bolso

notice

Portal CUT – Escrito por: Marize Muniz | Editado por: Marize Muniz

 

A inflação oficial do Brasil registra deflação pelo terceiro mês seguido, mas a população, em especial a de baixa renda, não sente a queda dos preços em seu dia a dia e continua achando que os preços estão pela hora da morte. Veja abaixo a lista dos 50 produtos que mais subiram desde 2020.

Em setembro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi de -0,29% e registrou deflação pelo terceiro mês seguido. No ano, a inflação acumulada é de 4,09% e, nos últimos 12 meses, de 7,17%, segundo o Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE).

Os trabalhadores e trabalhadoras que ganham menos, porém, não foram beneficiados com a queda dos preços. Eles sentem muito pouco a deflação por pelo menos dois motivos. Primeiro, o que mais impactou na queda da inflação foi a derrubada dos preços dos combustíveis, determinada o pelo governo de Jair Bolsonaro (PL), em pleno período eleitoral. E a população que ganha menos, não tem carro, portanto, não sente tanto a queda dos preços da gasolina como os mais ricos. 

Segundo, os trabalhadores de menor renda usam a maior parte do salário para comprar alimentos, que subiram demais e precisam cair muito para voltarem aos preços cobrados antes da disparada da inflação.

DIEESEDieeseUm terceiro elemento dessa equação, ressalta o técnico do Dieese, Leandro Horie, é o rendimento médio real do trabalhador, que encolheu -4,27% de janeiro de 2020 a agosto/setembro de 2022. No mesmo período, diz Leandro, a inflação subiu 19,70%, a cesta básica +45,07%, o gás de cozinha +61%. Só o leite longa vida acumula alta de 84,20%, o óleo de soja de 123,20%, o café 84,20%. “Na prática, mesmo com esse alívio momentâneo da inflação, a perda de poder de compra foi muito grande, especialmente para a população de mais baixa renda”, afirma o técnico do Dieese Leandro Horio.

“Se considerarmos o período de janeiro de 2020 até junho de 2022, houve uma aceleração muito grande da inflação, ao mesmo tempo em que os rendimentos do trabalho, em termos reais, caíram”, explica o técnico do Dieese.  

Mesmo com algum refresco nos últimos três meses, além da variação dos rendimentos do trabalho ainda permanecer negativa no período como um todo, a queda da inflação não fez frente ao aumento anterior para quase todos os produtos, como alimentos em especial

– Leandro Horie

O técnico do Dieese se refere alimentos básicos e essenciais na cesta dos brasileiros que subiram muito, alguns continuam subindo, outros caíram pouco e continuam com uma taxa acumulada de inflação altíssima.

O arroz, por exemplo, subiu 48,9% de janeiro a junho de 2020, caiu 1,2% entre janeiro e setembro deste ano. Precisaria cair 47,2% para voltar aos preços de 2020.

O feijão carioca (rajado) subiu 50,5% no primeiro semestre do ano passado, caiu 11,4% até setembro deste ano e ainda acumula 33,3% de alta em relação a 2020.

Outros produtos que dispararam, como o leite longa vida continuam subindo, apesar da deflação. Entre janeiro de 2020 e junho de 2022, o  produto  subiu 73,2%. De junho a setembro deste ano, aumentou mais 6,3%. A alta acumula de janeiro de 2020 a setembro 2022 é 84,2%, como mostra o gráfico acima.

O botijão de gás de 13 quilos é outro produto que não viu a cor da deflação. Aumentou 60,8% entre janeiro de 2020 e junho de 2022, mais 0,5%  até setembro deste ano e acumulada alta de 61,6%.

Confira a lista dos produtos que mais subiram desde 2020

Produtos Janeiro 2020 a junho 2022 2022 – julho a setembro Variação líquida no período
Índice geral 21,3% -1,3% 19,7%
Abobrinha 146,8% -24,7% 85,8%
Acém 35,2% -0,4% 34,7%
Açúcar cristal 81,1% -3,1% 75,5%
Alface 87,5% -14,1% 61,1%
Arroz 48,9% -1,2% 47,2%
Azeite de oliva 31,8% -0,4% 31,3%
Banana – d’água 21,7% 24,3% 51,3%
Banana – prata 42,4% 13,4% 61,5%
Batata-inglesa 101,1% -22,9% 55,0%
Biscoito 31,4% 5,6% 38,7%
Café moído 85,9% -0,9% 84,2%
Cebola 100,7% 10,4% 121,7%
Cenoura 102,6% -24,9% 52,0%
Chocolate e achocolatado em pó 30,4% 4,1% 35,7%
Contrafilé 32,4% -2,0% 29,8%
Costela 44,6% -1,6% 42,3%
Couve 52,9% -14,0% 31,4%
Cupim 46,8% 1,8% 49,6%
Etanol 58,7% -29,1% 12,4%
Farinha de mandioca 33,1% 6,9% 42,3%
Farinha de trigo 64,0% 6,0% 73,9%
Feijão – carioca (rajado) 50,5% -11,4% 33,3%
Feijão – macáçar (fradinho) 89,5% -4,3% 81,4%
Fígado 46,1% -2,3% 42,8%
Frango em pedaços 49,8% 4,6% 56,6%
Frango inteiro 43,9% 2,1% 46,9%
Fubá de milho 54,4% 1,2% 56,2%
Gás de botijão 60,8% 0,5% 61,6%
Gás encanado 43,1% 0,4% 43,6%
Gás veicular 73,0% -7,9% 59,4%
Gasolina 59,1% -31,5% 8,9%
Iogurte e bebidas lácteas 32,8% 4,1% 38,2%
Lagarto comum 37,6% -3,0% 33,5%
Lagarto redondo 30,9% 0,3% 31,3%
Leite condensado 33,1% 17,2% 56,0%
Leite em pó 36,1% 11,7% 52,0%
Leite longa vida 73,2% 6,3% 84,2%
Linguiça 38,9% -0,5% 38,2%
Maçã 36,2% 11,2% 51,5%
Macarrão 31,5% 3,5% 36,0%
Mamão 102,3% 3,2% 108,8%
Mandioca (aipim) 77,3% -5,7% 67,2%
Manga 86,7% -12,5% 63,4%
Manteiga 27,2% 10,1% 40,0%
Margarina 52,6% 5,1% 60,4%
Melancia 43,2% 7,6% 54,1%
Melão 123,7% 5,9% 137,0%
Morango 134,0% -41,0% 38,0%
Músculo 45,6% -0,8% 44,5%
Óleo de soja 158,4% -13,6% 123,2%
 
Fonte: CUT