Encontro de Sociologia debate o futuro da educação no Brasil

Com o título “A Sociologia Democrática que Queremos”, o V Encontro Nacional sobre o Ensino de Sociologia na Educação Básica (ENESEB) trouxe à tona os desafios que professores e estudantes terão com a Reforma do Ensino Médio e os perigos existentes no projeto Escola sem Partido. O Sinpro foi representado pela diretora Rosilene Corrêa durante a cerimônia de abertura.
Durante três dias, professores, estudantes e comunidade discutiram os sentidos e os rumos do ensino e da disciplina de Sociologia na escola, em especial no ensino médio, assim como propor reflexões acerca de aspectos da formação docente e do papel da universidade nesse processo. Segundo a coordenadora do ENESEB, Haydée Caruso, este tema se torna ainda mais relevante em tempos em que há uma controvérsia no país sobre a atual Reforma do Ensino Médio, com implicações para a manutenção das ciências sociais como conteúdo obrigatório na grade curricular do ensino básico. “O Encontro acontece há oito anos e se transformou em uma rede de professores do ensino superior, da educação básica e licenciandos em ciências sociais, com um espaço para a troca e intercâmbio de como enfrentar o cotidiano da sala de aula no que tange a sociologia, conectada às demais disciplinas do ensino médio”.
O contexto onde a educação está inserida atualmente foi um dos pontos mais debatidos nas mesas, oficinas e grupos de trabalho, com atenção especial para a reforma do Ensino Médio e os ataques promovidos pelos defensores da Escola sem Partido. Preocupado com este contexto, o professor da rede pública de ensino do DF Mário Bispo argumenta que as medidas implantadas pelo governo Temer fazem parte de uma conjuntura política. “A reforma do Ensino Médio, iniciada via Medida Provisória, teria sido o Ato Institucional nº 1 do governo federal”, analisa o professor. “Na Escola sem partido, uma das preocupações mais fortes é com relação a autonomia do professor. Este projeto ataca esta autonomia e cerceia sua liberdade de expressão. Com relação à reforma do Ensino Médio, procuramos desmistificar a ideia do governo de que a partir de agora o aluno poderá escolher suas áreas e itinerários informativos. Mostramos que, de fato, esta opção será das secretarias de educação, que vão definir tudo. Dependendo da região do país, o aluno não terá opção. Então o que o governo está colocando é uma farsa, porque o aluno não terá opção de escolha, já que dependerá das matérias que a secretaria fornecer”, explica Mário, exemplificando que mais de três mil municípios contam com apenas uma escola de ensino médio. “Isto anula qualquer possibilidade de opção ao aluno, pois dependerá da oferta existente”.
 
Espaços de resistência
Uma das formas de combater esta onda de retrocessos é com a criação de espaços de resistência. Para Haydée Caruso, o ponto principal para isto é fortalecer os sindicatos dos professores. “Precisamos articular com os sindicatos porque precisamos entender o problema, o fenômeno, e unir esforços entre os professores da educação básica e do ensino superior. Para isto precisamos criar canais diretos com os professores e um dos canais é justamente os sindicatos”.
“Algo que é fundamental desde a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) é a formação docente para a construção de discentes autônomos. E com a Escola sem Partido, isto cai por terra, pois preconiza três pontos principais: o forte ataque a toda discussão de gênero, o forte ataque a todas as religiões que não são de matriz cristã e a não discussão sobre desigualdade social no Brasil. É diante de tudo isto que precisamos nos unir e construir, de fato, espaços de resistência”, finaliza Haydée.