De volta aos livros: Suécia recua na digitalização de escolas após resultado desastroso

Autoridades concluíram que digitalização da sala de aula pode transformar a próxima geração de estudantes suecos em analfabetos funcionais

 

Uma decisão recente do Ministério da Educação da Suécia demonstra os riscos à aprendizagem trazidos pela política de digitalização da sala de aula. O país suspendeu um plano ambicioso de digitalização do ensino após a nota do país despencar em exames que avaliam desempenho de leitura.

“Estamos em risco de criar uma geração de analfabetos funcionais”, advertiu a ministra da Educação, Lotta Edholm, após ver a nota do país despencar no Estudo Internacional de Progresso em Leitura (PIRLS), exame internacional que avalia o desempenho em leitura de estudantes.

Segundo matéria publicada no Le Monde, a ministra concluiu que o mau desempenho é resultado da implementação de recursos digitais nas escolas de forma acrítica. E o processo não ocorreu às pressas: num processo que se iniciou há 15 anos, a Suécia vem substituindo os livros físicos didáticos por computadores, tablets, aplicativos e plataformas tecnológicas.

As consequências negativas foram observadas em toda a comunidade escolar. Alunos(as) perderam o hábito da leitura, professores(as) ficaram sem acesso a livros e as mães, pais e responsáveis não conseguem ajudar seus(as) filhos(as).

 

Evidências

Para reverter a situação, além de barrar a estratégia de digitalização, o ministério da educação da Suécia lançou um programa de reintrodução dos livros para recuperar a capacidade de leitura estudantil. Os livros têm “vantagens que nenhum tablet pode substituir”, argumenta.

O plano prevê o investimento de 150 milhões de euros até 2025. “O relatório do PIRLS é um sinal de que temos uma crise de leitura nas escolas suecas. No futuro, o governo quer ver mais livros didáticos e menos tempo de tela nas escolas”, diz a ministra.

A decisão do ministério sueco de abandonar o programa ambicioso de digitalização foi embasada em evidências científicas apresentadas por mais de 60 especialistas. “Todas as pesquisas sobre o cérebro em crianças mostram que elas não se beneficiam do ensino com base em telas”, explica a ministra.

Alerta da Unesco

Mesmo com 60 especialistas corroborando, sua decisão, a Suécia não está sozinha nessa guinada de volta ao impresso. Em relatório recente divulgado pela Unesco, com o título “Tecnologia na educação: uma ferramenta a serviço de quem?”, a agência também alerta sobre os impactos negativos da introdução de tecnologias na educação sem qualquer diálogo ou reflexão crítica.

O documento é mais um que põe em xeque o modelo educacional digital, e destaca que a tecnologia sozinha não garante bons resultados. No Peru, por exemplo, mais de um milhão de laptops foram distribuídos sem qualquer impacto na aprendizagem.

Com informações do SINDICATO DOS TRABALHADORES EM EDUCAÇÃO PÚBLICA DO PARANÁ

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