Coronelismo eletrônico é tema de debate na UnB

Professores, pesquisadores, alunos, ativistas e profissionais da comunicação participaram do debate “Coronelismo eletrônico, eleições de democracia”, realizado nessa sexta (17/10), na Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (FAC/UnB). O evento foi aberto pelo secretário-executivo do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Pedro Rafael Vilela, que falou sobre o Projeto de Lei de Iniciativa Popular (PLIP) da Mídia Democrática.
A pesquisadora Susy dos Santos, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenadora do Grupo de Pesquisa em Políticas e Economia da Informação e da Comunicação (PEIC), participou do debate por videoconferência. Ela explicou que a expressão coronelismo eletrônico é caracterizada pela relação de clientelismo político entre os detentores do poder político e os proprietários de canais de televisão e emissoras de rádio.
Segundo a pesquisadora, o radiodifusor não precisa ser um coronel tradicional, dono de terras e de poder político na sua região, para ser inserido no conceito de coronelismo eletrônico. “Essa relação clientelista, no entanto, provoca uma ruptura na autonomia das instituições sociais porque mantém um alinhamento da mídia com interesses partidários”, explicou.
O “coronel eletrônico” nem precisa ser político com mandato ou compor uma família de políticos, basta manter a relação de troca de privilégios e favores com grupos políticos. A pesquisadora também explicou que esse fenômeno não é exlcusivo do Brasil e nem da atualidade. “Em 1861, Karl Marx já denunciada que jornais londrinos não representavam a opinião popular, mas a voz dos políticos que lhe dariam benefícios”.
Bia Barbosa, coordenadora do Intervozes e membro da coordenação executiva do FNDC, também participou do debate. Para ela, enquanto a sociedade não se idignar com a outorga de canais de rádio e TV para políticos, o debate público das questões mais essenciais para a população estará contaminado por essa troca de benefícios entre políticos e mídia.
Bia explica que não há ilegalidade na candidatura de um proprietário de rádio ou tv aos cargos políticos. “Mas a constituição é clara, em seu Art. 54, quando veta a deputados e senadores o controle dessas empresas de mídia. Se ele é eleito teria que se desfazer imediatamente do controle dessas emissora”.
Verba publicitária
Outro ponto discutido durante o debate foi a verba publicitária que o poder público destina aos meios de comunicação. “Muitas vezes, o prefeito ou sua família são proprietárias de rádios ou canais de TV que recebem dinheiro público para veicular propaganda institucional da prefeitura ou de outros órgãos governamentais. Isso é financiar um negócio da própria família com dinheiro público”, enfatizou Bia.
Também participou do debate a pesquisadora pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) Chalini Torquato Barros, que falou sobre a problematização teórtica do conceito de democratização da comunicação. O encontro foi promovido pelo professor Fernando Paulino, da disciplina de Políticas da Comunicação, como uma das atividades da Semana Nacional de Luta pela Democratização da Comunicação.