Cemi do Gama desenvolve plataforma própria de iniciação científica e é premiado pela CLDF

O Centro de Ensino Médio Integrado (Cemi) do Gama Escola recebeu, na manhã dessa terça-feira (4/11), o troféu do Prêmio Paulo Freire de Educação da Câmara Legislativa do DF (CLDF) das mãos do deputado distrital Gabriel Magno. O reconhecimento foi entregue na própria escola e premiou em primeiro lugar a plataforma de gestão e ensino de Iniciação Científica denominada PLENA – uma ferramenta desenvolvida internamente que agilizou e aprimorou o trabalho em uma disciplina obrigatória do Novo Ensino Médio (NEM).

O CEMI do Gama tem tradição em ganhar prêmios por pesquisa científica desenvolvida na escola e, este ano, mais uma vez, destacou-se no Prêmio Paulo Freire de Educação entre quase 400 projetos inscritos em todo o Distrito Federal. A escola é reconhecida por um trabalho contínuo de 15 anos na área de iniciação científica e protagonismo científico juvenil.

PLENA: a plataforma vencedora e sua missão educacional

Desenvolvida para suprir uma lacuna institucional na rede pública de ensino diante da obrigatoriedade da disciplina de Iniciação Científica (IC) no Novo Ensino Médio, a plataforma PLENA nasceu como resposta à ausência de professores com formação específica na área. A ferramenta, criada no CEMI do Gama, estrutura e orienta o trabalho científico de estudantes e docentes, tornando-se um marco de inovação pedagógica.

A professora Marília Pinheiro, bióloga, bioeticista, coordenadora da Iniciação Científica e co-desenvolvedora da plataforma, explicou que “a Iniciação Científica se tornou uma disciplina obrigatória e, dentro da rede, não tem professores formados em iniciação científica. Não existe essa formação. Aí, cientes dessa lacuna, organizamos toda a estrutura de iniciação científica usando a nossa expertise na área”.

Marília destaca que a PLENA e a produção científica contínua no CEMI são fundamentais para a formação integral dos(as) estudantes e para o desenvolvimento do pensamento crítico. “Para mim, o impacto dessa atuação do CEMI está relacionado à questão do desenvolvimento e atuação desse indivíduo como cidadão. A partir do momento que ele não produz ciência, ele não tem uma leitura correta de mundo, ele não tem uma interpretação correta de dados e não consegue desenvolver um senso crítico. Ele, por fim, não tem uma opinião própria”, afirmou.

A professora também defende a integração entre ciência e tecnologia. “Uma das preocupações na plataforma foi ligar, conectar a ciência e a tecnologia, falando de tecnociências, para trazer esse aluno e inseri-lo dentro de um contexto social, aonde ele possa atuar de forma ativa, crítica, responsável e consciente”, completou.

A PLENA conta com quatro interfaces — para estudantes, orientadores(as), professores(as) e avaliadores(as) — que oferecem suporte pedagógico, conteúdo, acompanhamento e avaliação. O sistema possibilita que os(as) estudantes gerenciem seus próprios projetos, acompanhem notas e feedbacks em tempo real e participem de feiras como a ExpoCemi.

O gestor educacional William Valdo Veras, co-desenvolvedor da plataforma, ressaltou a eficiência do projeto. “O objetivo era uma plataforma para gerir os eventos do CEMI. Começou pequenininho e, ao longo do ano, foi aprimorando mais algumas funcionalidades, como aulas de Iniciação Científica, avaliações de estudantes pelos professores, parte de orientação, dentre outras coisas. É uma plataforma interativa que, quando o usuário termina o processo, ela já tem um resultado e os estudantes podem acompanhar todos os processos. Os alunos conseguem, por exemplo, acompanhar online como é que está sendo a nota dele, o processo e até a conclusão”, explicou.

O projeto foi inscrito no Prêmio Paulo Freire de Educação por sugestão de William e contou também com a participação do vice-diretor e professor Sebastião Portela. O reconhecimento à PLENA reforça a importância da ciência escolar e mostra que o CEMI do Gama está “no caminho certo” ao investir em práticas que unem tecnologia, autonomia e formação cidadã.

CEMI: reconhecimento e necessidade de investimento

Autor do prêmio na CLDF, o deputado distrital Gabriel Magno (PT) enfatizou a importância do Prêmio Paulo Freire para o reconhecimento e valorização dos projetos escolares. “O prêmio visa a valorizar as iniciativas que tem vários projetos na escola, centenas de projetos. Este ano nós recebemos 380 projetos inscritos, que revelam o esforço e a criatividade de educadores e estudantes. Ele tem primeiro o intuito de identificar, mobilizar, divulgar e dar visibilidade para o que acontece no interior das escolas e, ao mesmo tempo, forçar um debate com a Secretaria de Educação, com o poder público, com o governo, de ter estrutura e financiamento para realização de projetos”.

O parlamentar afirmou que muitos desses projetos são realizados “na raça”, com professores(as) que tiram recursos do próprio bolso e que, por isso, o prêmio também busca provocar o debate sobre a necessidade de estrutura e financiamento permanentes e a incorporação definitiva dessas práticas ao Projeto Político-Pedagógico (PPP) das escolas.

Gabriel Magno ressaltou a importância de fortalecer modelos de ensino que funcionam, como o dos Centros de Ensino Médio Integrados, os quais demonstram resultados positivos ao organizar a comunidade escolar de forma democrática e colaborativa. Na avaliação dele, a experiência os CEMIs do DF são uma prova de que a educação pública pode ser inovadora e de excelência, em contraste com políticas de militarização de escolas públicas e de terceirização da mão de obra. Concluiu afirmando que o prêmio é, sobretudo, uma celebração da escola pública e do papel transformador do(a) professor(a).

Há 10 anos na gestão do CEMI do Gama, o diretor da escola, Lafayette Formiga, reforçou a tradição da escola em incentivar a ciência. “A gente tanto estimula aqui os professores como os estudantes, nessa parte da iniciação científica. Todo professor aqui do CEMI e não importa a disciplina que leciona, ele tem de trabalhar essa parte de iniciação científica, orientar algum aluno. A gente já trabalha isso há 15 anos aqui no CEMI, já fomos premiados tanto no Brasil como no mundo”, afirmou.

 

Projetos inovadores em construção

Atualmente, o CEMI conta com 70 projetos na área de Iniciação Científica, sendo 40 deles conectados à tecnologia. Entre os destaques em construção e prestes a serem apresentados em exposições, estão o Eplex, uma pulseira inteligente para monitoramento e detecção de crises epilépticas, desenvolvida pelas alunas Maria Clara Trigueiro Massaranduba e Marisa Medeiros (2º Ano).

O projeto, que faz parte do PIBIC/UnB, utiliza três sensores — batimento cardíaco, acelerômetro e giroscópio — e está ligado a um aplicativo que aciona o SAMU automaticamente após três minutos de crise. As estudantes irão apresentá-lo na 31ª Ciência Jovem, em Pernambuco. Marisa Medeiros e Maria Clara contam que estão desenvolvendo o projeto ainda. “Trata-se do WePlex, uma pulseira inteligente que monitora e detecta a crise de epilepsia. Os três sensores juntos e combinados são capazes de detectar uma crise e alertar o SAMU e familiares”.

Outro destaque é o projeto “Gerando a cada passo”, um protótipo de tênis que gera energia elétrica a partir da energia cinética do caminhar. O professor João Rocha, orientador do projeto, explica que “os estudantes construíram uma interface de forma tal que, à medida que ele pega a energia cinética do caminhar, ela vai transformando essa energia em energia elétrica que carrega as baterias. Essa bateria pode ser utilizada em outra estrutura”.

Também é destaque o Solarius, projeto de geração e armazenamento de energia solar em escala reduzida, desenvolvido por três estudantes do 1º Ano: Davi Oliveira, Marco Antonio Araújo Gonçalves e Júlio César Santana Borges. De acordo com Marco Antonio, “a ideia inicial é fazer igual a usina solar, só que numa escala reduzida, podendo gerar durante o dia, armazeno para usar após a noite, a bateria entra nessa parte”.