Na CLDF, Sinpro discute regulamentação e universalização do acesso às tecnologias nas escolas
Na manhã dessa quinta-feira (10), o Sinpro-DF participou de uma reunião pública na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) para discutir a regulamentação do uso de celulares nas escolas e defendeu não somente a regulamentação, mas também a universalização do acesso à tecnologia para todas as classes sociais. A proposta do debate partiu do deputado distrital Fábio Félix (PSOL), que enfatizou a importância de refletir sobre o impacto das tecnologias na educação, especialmente considerando a desigualdade social no acesso a esses recursos, e contou com a mediação dele e do deputado Gabriel Magno (PT).
Coordenadora da Secretaria para Assuntos de Raça e Sexualidade do Sindicato dos Professores do DF (Sinpro-DF), Márcia Gilda Moreira apresentou uma perspectiva crítica sobre o tema. Em sua fala, ela destacou que faria sua observação sobre o tema a partir do lugar de fala dela, ou seja, como professora da escola pública há 31 anos e como alguém que veio de uma realidade periférica, em que o acesso à tecnologia era limitado.
Márcia ressaltou também a pesquisa do Sinpro-DF, realizada durante a pandemia da covid-19, em que ficou evidente o abismo digital entre classes sociais e estudantes das escolas da rede pública de ensino: muitos alunos e alunas precisavam dividir um único celular entre si para realizar suas atividades escolares ou esperar a mãe deles(as) chegarem em casa para acessarem as atividades remotas enviadas pela escola.
“Hoje, o celular pode ser uma ferramenta valiosa, mas também é uma fonte de distração e alienação para nossos estudantes”, advertiu a sindicalista. Ela citou um relatório da Unesco, divulgado em julho de 2023, que alerta para o uso excessivo dos celulares em sala de aula. “Nesse relatório, a Unesco informa que um em cada quatro países já proibiu o uso de celulares nas escolas. Aqui no Brasil, a gente está ainda discutindo a regulamentação do uso enquanto a realidade do nosso País é que 82% dos nossos estudantes estão nas escolas públicas”, disse.
Universalização
A sindicalista continuou refletindo sobre a necessidade de universalizar o acesso a essas tecnologias, afirmando que “quando falamos em regulamentação, também precisamos abordar a universalização. Precisamos garantir que todos os alunos tenham acesso aos equipamentos para que possamos discutir como utilizá-los pedagogicamente”.
Márcia expressou sua preocupação com a falta de interação social entre os alunos. “No recreio, vejo muitos deles isolados, cada um com seu celular. Isso é alarmante, pois a interação interpessoal é essencial para a vida em sociedade. A geração Z enfrenta dificuldades em lidar com o ‘não’ e em desenvolver habilidades sociais”.
A professora destacou a periculosidade do uso do aparelho celular por crianças, adolescentes e adultos jovens e revelou situações preocupantes que observou no cotidiano. “Recentemente, vi uma criança em um shopping passando por uma crise de abstinência ao ter o celular retirado pela mãe durante o almoço. Essa situação ilustra o impacto que a dependência do celular tem até nas crianças pequenas”.
Ela também alertou sobre a “síndrome da mente acelerada”, que resulta do consumo rápido e superficial de conteúdos. “Estamos criando uma geração impaciente, que não consegue se concentrar em leituras mais longas. Precisamos ter um currículo que integre a tecnologia, mas que não substitua a interação humana”.
Márcia ressaltou que a regulamentação poderia proporcionar mais segurança para os professores, que muitas vezes se sentem intimidados pelo uso dos celulares em sala de aula. “Um colega meu recentemente sofreu ataques nas redes sociais após um aluno filmar uma situação de aula. Isso se agrava com a pressão social e as campanhas contra os educadores”.
A professora também mencionou preocupações sociais mais amplas, como a descoberta de células nazistas em Ceilândia, alertando que “o celular tem sido um instrumento de alienação, levando alguns estudantes a se envolverem em grupos extremistas”.
Outras participações
Durante a reunião, a necessidade de um movimento coletivo para lidar com o uso de celulares foi destacada. Andrea Galassi, representante do Movimento Desconecta, falou sobre a iniciativa de adiar a entrega de celulares às crianças. “Os pais estão firmando um pacto para adiar a entrega dos celulares até os 14 anos e o acesso às redes sociais até os 16. É fundamental que a responsabilidade pela entrega do celular seja da família, não da escola”.
A professora Rayanne Oliveira também enfatizou que “retirar o celular sem viabilizar o acesso à tecnologia e à educação digital não resolve o problema. Precisamos de um currículo que ensine os alunos a navegar no mundo digital com consciência”. A advogada Taty Daiane Manso, representando o Sinepe-DF, defendeu a autonomia das escolas na regulamentação do uso de celulares, enquanto Claudimary Pires de Oliveira, da Secretaria de Educação, sinalizou a disposição do governo em rever a legislação sobre o uso de celulares nas escolas.
Ricardo Lins Horta, do Ministério da Justiça, anunciou que em breve será proposto um projeto de lei sobre a utilização de celulares nas escolas, que incluirá recomendações para restringir o acesso de crianças até 12 anos. Por fim, a discussão sobre o uso de celulares nas escolas reforçou a importância de incluir os próprios estudantes no debate.
Rodrigo Nejm, do Instituto Alana e especialista em educação digital, lembrou que “é fundamental ouvir os jovens, pois eles também estão preocupados com os conteúdos violentos e inadequados que consomem online”. Essa discussão, como enfatizou Márcia Gilda, é apenas o início de um debate mais amplo sobre como avançar com segurança e qualidade na utilização dessas ferramentas em sala de aula.
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