Capacitar professores e escolas são metas possíveis
No Brasil ideal, todas as crianças em idade escolar estariam na escola. Aos 8 anos, já saberiam ler e escrever, de verdade. E, na adolescência, concluiriam o Ensino Médio. No Brasil de hoje, 3 milhões de crianças estão fora da escola, e 27% dos brasileiros de 15 a 64 anos são analfabetos funcionais. “O Estado de S. Paulo” ouviu 20 especialistas, entre economistas brasileiros e do exterior, secretários de educação e professores para saber os caminhos que o Brasil poderia tomar para conseguir dar esse salto qualitativo.
Os entrevistados foram unânimes ao apontar que a ação depende, antes de mais nada, de algumas “lições de casa” a ser entregues até 2018. Só depois o País terá infraestrutura para sair do fim do ranking do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa). Para lembrar: entre os 64 países que participam do teste, o Brasil ocupa a 55ª posição em leitura e a 58ª em matemática
Para começar, seria necessário discutir e aprovar um currículo nacional. “O País é muito grande, com muitas diferenças sociais. É importante que o estado diga o que espera dos colégios, o mínimo que devem ensinar, para depois avaliá-los”, diz Priscila Cruz, diretora do movimento Todos Pela Educação.
Outro ponto fundamental é melhorar as escolas. Hoje, 75% dos prédios possuem computador em laboratórios de informática, mas somente 58% estão conectados à internet. “Apesar de possuírem wi-fi, o sinal é fraco e os alunos não conseguem se conectar”, explica Angela Dannemann, diretora da Fundação Victor Civita.
Ainda existem escolas sem energia elétrica e sem água – poucas, 4,3%, e 4,6%, respectivamente. Mas não deveria existir nenhuma escola assim.
Valorização. Outra tarefa muito importante: transformar a profissão do professor em uma atividade atraente. Aumentar os salários está entre as medidas mais rápidas e fáceis. Aplicar políticas de bônus e de incentivos são algumas cartas que o governo tem nas mãos. “Mudar a formação desses profissionais requer alteração no currículo das faculdades”, diz Angela. “Hoje a carga é muito teórica e pouco prática. Os futuros professores aprendem pouco de pedagogia e ensino não cognitivo. Não saem sabendo que precisam moldar a forma de educar ao aluno que vão encontrar pela frente.”
A escola precisa ser mais dinâmica e atraente ao aluno de hoje, que vive num mundo interativo. Precisa mais do que professor falando e escrevendo na lousa. O Brasil poderia, por exemplo, olhar para outros modelos, como o da Alemanha, onde os jovens que concluem a escola secundária têm a possibilidade de se candidatar a uma vaga no ensino profissionalizante. A vantagem é que esses alunos combinam aulas teóricas na escola com estágios em empresas – e saem da vida escolar com um caminho mais orientado para o futuro, mesmo que escolham não cursar uma faculdade.